Desistência leva ao fracasso

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O som de passos ecoava pelo extenso corredor do palácio. O chão requintado de mármore branco, muito bem limpo, refletia as duas silhuetas que passavam com uma pressa intrigante. Naquele dia, o vento era escasso, e o sol parecia castigar a grande Roma, deixando as pessoas mais agitadas e, consequentemente, estressadas. Esse era o caso do Imperador.

De repente, o alfa, que estava à frente, parou. Seus ombros, tensos, podiam ser vistos de longe, e suas costas flexionavam, tentando acompanhar o ritmo frenético da respiração. Seus punhos estavam cerrados com força, tornando os nós dos dedos brancos. Ele virou a cabeça para o lado, e seus olhos encontraram um vaso de cerâmica pesado e de valor exorbitante. Como estava próximo ao objeto, não precisou fazer muito esforço para alcançá-lo. Com voracidade, tomou-o nas mãos e o arremessou contra a parede mais próxima, danificando a impecável pintura que ali havia. O som estridente do vaso se quebrando, junto ao estrondo de três quadros que caíram da parede, propagou-se pelo recinto. Não satisfeito, o alfa pegou a resistente mesa mediana onde o vaso estava segundos antes e começou a batê-la no chão, enquanto rosnava alto.

Estava estarrecido, indignado com a situação. Quem diabos aquele ômega pensava ser? Com um último rosnado, jogou os restos da mesa para longe e sentou-se no chão, ofegante. O outro homem se aproximou a passos lentos e também se sentou, suspirando fundo de olhos fechados. Então, começou a falar:

— Perdão por me intrometer, Majestade, mas... o que o senhor pretende fazer agora? — Kisame, com sua típica postura calma e voz baixa, perguntou, temeroso, observando de soslaio o maxilar de seu imperador e melhor amigo tensionar, enquanto um olhar assassino se destacava em sua face morena.

— Eu não sei — sua voz saiu mais rouca e grossa que o normal —, eu realmente não sei.

— Se está tão interessado por ele, deveria chamá-lo para uma conversa — virou sutilmente a cabeça e observou o outro —, quebrar as coisas não te levará a lugar algum. — O moreno estalou a língua.

— Como eu poderia conversar com alguém comprometido? — bateu as mãos nos próprios joelhos. — Não acho que já fui humilhado o suficiente? Ele nem sequer fez questão de mandar uma carta justificando sua ausência. — Encarou o outro com indignação.

A verdade era: depois da terrível conversa que o alfa e o ômega tiveram no jardim, tudo havia virado um rebuliço na mente do imperador. Se Hidan era comprometido, por que aceitou ir com ele ao teatro? Por que aceitou o convite para o chá da tarde? E por que, só agora, não compareceu a uma pequena e reservada festa que o imperador deu naquela manhã, apenas para pessoas extremamente importantes no palácio? Era confuso e estressante. Aquele ser formoso, que deixava até os fios da nuca de Kakuzu arrepiados, era ousado demais.

Kisame se levantou, limpando a própria roupa.

— Esclarecer as coisas não é humilhação. — Estendeu a mão, e o outro logo a segurou, recebendo impulso e se pondo de pé, imitando o movimento alheio para limpar suas vestes.

— Humf — soltou um bufar, como um touro, e começou a andar calmamente sobre os cacos que um dia foram um vaso. — Eu tenho uma fila de pretendentes, e você sabe disso.

— Sei sim, Majestade — riu nasalmente —, mas também sei que nenhum deles é o futuro duque de Yaburame. — Kakuzu parou, olhando-o por sobre o ombro.

— O que está insinuando, conselheiro?

— Não estou insinuando nada, estou contando fatos, meu nobre imperador. — Se aproximou, ficando lado a lado com ele, e bateu de leve no ombro alheio. — Até mesmo seu cheiro mudou. — Kakuzu franziu as sobrancelhas, encarando-o, duvidoso. — E nem pense em negar.

— Não diga asneiras. — Voltou a andar.

Eles prosseguiram em silêncio. O estômago do moreno revirava, e um suor frio podia ser sentido, ainda que sutilmente, em suas mãos. Seus cenhos ainda estavam franzidos, e seus olhos, semicerrados. Sua mente não ficaria em paz, ele sabia disso. Quando chegaram ao fim do corredor, ele se pronunciou:

— Kisame?

— O que deseja, Vossa Majestade?

— Traga-o até mim esta tarde, assim que minha reunião com os ministros acabar. — Seus punhos se apertaram. — E, se ele se recusar, amarre-o e traga.

— Sim, senhor.

Assim, seguiu-se a longa manhã cheia de afazeres. Ao cair da tarde, quase noite, o imperador se banhou e tratou de vestir trajes soberanos adequados para a ocasião que viria a seguir. Assim que recebeu o aviso de que Kisame trazia o ômega consigo, dirigiu-se para a segunda sala do trono, um ambiente deveras espaçoso, com um piso de cerâmica cuidadosamente limpo. No teto, pendia um enorme candelabro de ouro; nas paredes, pilares esculpidos com estátuas de anjos, e uma escadaria que levava aos corredores principais do palácio. Era ali que recebia súditos e realizava audiências. Sentou-se no trono e apoiou o rosto na mão, fixando os olhos na grande porta por onde o conselheiro real entraria. Esperou, esperou, esperou... e, quando sua raiva começava a transparecer, um soldado entrou aflito, carregando com muita dificuldade o ômega em seus braços.

— Saúdo-te, grande Sol do Império! — O homem baixinho esbravejou, visivelmente cansado, enquanto abaixava a cabeça em reverência. Nesse ponto, o outro nem se deu ao trabalho de responder, apenas se levantou e andou apressado até ele. — O senhor Yaburame desmaiou nos portões ao chegar aqui. O conselheiro Kisame foi buscar o médico!

— Dê-o a mim — pediu, e o soldado entregou o corpo desacordado de Hidan a ele. O ômega estava suado e com olheiras profundas. — Apresse-se, vá chamar logo esse maldito médico! Estarei em meu quarto. — E carregou consigo o pobre albino, que ardia em febre.

Serás minha imperatrizOnde histórias criam vida. Descubra agora