32. A tempestade (PARTE 1)

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"É possível amar alguém que você nunca conheceu?"

Kenya foi quem perguntou, sentada no chão, reflexivamente olhando para o céu estrelado. Naquela dimensão, o céu noturno possuía uma inusitada coloração levemente magenta bem escura, com algumas partes fazendo um degradê entre o vermelho-escuro e o roxo, e o magenta em si sendo o meio termo entre as nuances daquele vasto espaço celestial, onde os pontinhos brancos brilhavam de maneira destacada.

Andrew, David, Cynthia, Apolo e Marshall sentavam-se ao redor da desenhista, apenas ouvindo-a atentamente, sem dizer nada, nem mesmo em resposta ao seu questionamento, que soou um tanto retórico para eles.

Puxando o ar vagarosamente, e soltando-o de uma vez em um suspiro pesado, Kenya abaixa levemente sua cabeça com os olhos fechados, e então a ergue aos poucos novamente, abrindo os olhos e fitando mais uma vez o alto, enquanto prepara-se para narrar algo.

APROXIMADAMENTE 12 ANOS ATRÁS

A pequena Kenya de cinco anos estava sentada na borda de sua cama, e fitava com admiração uma foto impressa, onde estava Colin fazendo uma continência com um largo sorriso. A garotinha sorria de volta para o retrato, como uma resposta afetuosa. Em um pulinho, ela sai de cima do colchão e posiciona a fotografia encostada de pé apoiada em alguns livros, de frente para ela. Após ajeitar daquela maneira, ela esboça uma doce expressão satisfeita.

-Kenya(NARRANDO): ... Pra mim, sempre foi estranha a ideia de amar alguém que você nunca conheceu. Mas... Eu também acredito que pra tudo existe uma exceção. E esse era o caso... Porque eu amo do fundo do coração o meu irmão, mesmo que de uma maneira diferente. Isso porque eu sei que eu só estou aqui e com vida, porque ele sacrificou a dele pra que isso fosse possível... E de qualquer forma, uma coisa não tinha como negar... E era o tanto que eu admirava ele. Colin foi a minha primeira inspiração!

-Kenya: ... Quando eu crescer, eu vou ser soldada igual a você! — A criança afirma radiante para a foto do irmão — Eu vou ser uma heroína, e ajudar um monte de gente, que nem você, Colin! Eu sei que você salvou minha vida, então eu prometo fazer bom uso dela... Eu vou fazer grandes coisas, que nem você!!! Então, eu espero que você acredite em mim!

Depois de fazer a declaração determinada à imagem de seu ente que partiu, Kenya corre até sua cama, onde encontra um elefante colorido de pelúcia. A garotinha o pega e abraça com força e afeto. A seguir, empolgada e sorridente ela parte para fora de seu quarto com seu amigo de brinquedo, convicta de seu sonho.

-Kenya(NARRANDO): Mas como vocês já sabem... Nem tudo são flores. Afinal, a tempestade é uma parte da vida, não? E bem... Eu cresci cercada por ela.

UM ANO DEPOIS

-Kenya: Mãe, mãe!!! Olha!!! Eu fiz a minha primeira prova de matemática, e eu fui suuuuper bem com as contas! — A garota de seis anos erguia orgulhosamente um papel de exercícios escolares, mostrando as contas nas quais teve êxito em todas. Ela dava pulinhos eufóricos com o mais largo dos sorrisos, ansiando pela reação da mãe.

-Clarice: ... — Ela encara a filha neutralmente, e com uma decepcionante demora finalmente responde — ... Que bom. — Profere com zero entusiasmo — Você devia tentar estudar mais geografia agora. Eu vi que você não foi tão boa nessa.

A postura até então agitada e eufórica da criança se desmorona em decepção e desânimo. Kenya permanece parada ali com um semblante confuso, com as sobrancelhas curvadas para baixo em desentendimento e chateação. Abatida, ela olha para sua prova, sem mais tanto orgulho assim, abaixando-a e desviando o olhar para longe dela.

Instantes depois, Evan surge ali, ajoelhando-se até a altura da filha e beijando prensadamente a cabeça dela com um empolgado sorriso, logo pegando o papel da mão dela e olhando-a com um largo sorriso, dizendo:

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