3. A provação

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-Kenya: Aquele infeliz, irritante, arrogante de merda... — Kenya resmungava irritadamente e de forma murmurada, enquanto caminhava com os punhos fechados e em passos brutos — Quem ele pensa que é?! — Ela eleva sua voz agora, direcionando seu olhar a Marshall, que estava andando ao seu lado. Ambos caminhavam juntos pelas ruas onde ficavam os comércios do povo shirpta, abaixo do típico sol vermelho ardente daquele lugar.

-Marshall: Non esquenta a cabéça com isso, ménina! — Marshall fala descontraidamente — Lance é mésmo um garoto de génio difícil. — Ele comenta revirando os olhos — Conhéço bem a peça, já faz dez ános.

-Kenya: É, e graças a esse "GÊNIO DIFÍCIL" do fogueirinha, — Ela faz aspas com os dedos, enfatizando o termo agressivamente — eu fui obrigada a aceitar o desafio idiota dele! Vou ter que me provar útil o suficiente em dez semanas!

-Marshall: Éle diz isso, mas sou éu que decido quem fica lá ou non! — O shirpta para sua caminhada durante sua afirmação — Éu que sou dono daquela casa, non ele. Non vou déixar éle te expulsar... Vócê sabe disso, non é? — Indaga brandamente, tocando o ombro da adolescente, que apenas desviava o olhar de forma ainda frustrada.

-Kenya: Eu sei... — Responde em um suspiro — ... Mas eu quero me provar, mesmo assim! — Declara firmemente, agora olhando nos olhos do outro — E se eu não conseguir, eu mesma vou embora. Com ou sem expulsão.

-Marshall: Ora, mas pra quê?! — Marshall questiona inconformado, ao mesmo tempo que ambos entravam em uma taverna juntos. Ao passarem pela porta de madeira, abrindo-a apenas por empurrar, eles se sentam em bancos altos que ficam de frente para o balcão.

Kenya solta outro suspiro, apoiando seus cotovelos sobre o balcão, e então responde a pergunta do veterano:

-Kenya: ... Eu não quero ser um fardo pra ninguém, Marshall. — A frase saiu da boca da garota em uma entonação grave e de uma seriedade que o shirpta nunca havia visto antes, vindo dela. O olhar da atiradora permaneceu por alguns instantes caído na direção da madeira onde ela apoiava os braços, até ela direcioná-lo novamente para o rosto de Marshall, continuando sua fala — O Lance pode até ser um babaca, mas em uma coisa ele tem razão, por mais que eu odeie admitir: Vocês estão aqui, sobrevivendo todos os dias e lidando com vários problemas, e definitivamente não merecem ter mais um problema pra lidar. Então a última coisa que eu quero é ser um peso morto pra vocês. Eu tenho que aprender a seguir a rotina de vocês... Ser útil pra vocês. — Kenya tensiona seu maxilar por um instante, deixando explícita sua preocupação e seriedade para com aquele assunto — ... Eu não quero ser um incômodo pra ninguém, é isso. — Ela dá de ombros em um gesto descontraído, porém ainda com seu semblante sério.

-Marshall: Kenya... — Marshall tenta chamar a atenção da adolescente, preocupado com sua abrupta mudança de estado emocional, ao conversarem sobre aquilo. 

Só que antes que pudesse perguntar ou afirmar qualquer coisa, a moça atendente da taverna surge para falar com os dois:

-???: Bonan matenon! Kion vi trinkos? (Bom dia! O que vão beber?) — Indaga a mulher simpaticamente. Uma shirpta que aparentava estar acima de seus quarenta anos, de cabelos castanho-escuro encaracolados e indo até a altura do ombro. Com uma pele pálida, olhos cor-de-mel e um sorriso gentil, trajava roupas simples e um pouco surradas.

-Kenya: Kion ajn vi havas sen alkoholo, mi petas. (O que você tiver sem álcool, por favor.) — Kenya responde no idioma da moça naturalmente e sem dificuldade. A moça acena com a cabeça, desviando o olhar um pouco pensativamente, como se estivesse tentando se lembrar se tinha algo sem álcool. Em seguida, ela sai dali para buscar a bebida. Apenas depois da atendente partir, a garota percebeu o que acabou de fazer, arregalando os olhos — ... Nossa! Eu respondi ela! Ela entendeu o que eu disse?!

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