capítulo 1

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A chuva caía incessantemente sobre a cidade, transformando as ruas em um labirinto de reflexos distorcidos. Para muitos, era apenas uma noite comum, mas para Rachel, era o prelúdio de um pesadelo inimaginável. Aos 20 anos, ela ainda não conseguia acreditar que seus próprios pais a haviam vendido, como se fosse uma simples mercadoria. O som dos pneus deslizando sobre a água e o eco distante das sirenes misturavam-se ao caos que invadia sua mente.

Quando chegou ao imponente prédio da máfia liderada por Helena, um arrepio percorreu sua espinha. O ar ao redor era denso, pesado de medo e tensão. Guardas musculosos a vigiavam com olhares penetrantes, prontos para agir ao menor sinal de hesitação. Era como se avaliassem sua resistência, aguardando qualquer fraqueza para explorá-la.

No andar superior, Helena a esperava. O escritório, decorado com uma elegância sombria, transbordava poder e riqueza. Obras de arte pendiam nas paredes, mas o verdadeiro destaque era Helena. Seus cabelos escuros caíam com perfeição, e seus olhos afiados pareciam desarmar qualquer tentativa de resistência. Ela emanava uma autoridade silenciosa, o tipo de pessoa que não precisava levantar a voz para impor respeito. E qualquer um que ousasse desafiá-la sabia que pagaria um preço alto.

— Você deve ser Rachel — disse Helena, com uma voz calma e controlada, quase doce demais para a gravidade da situação. — Sente-se.

Rachel hesitou por um breve momento antes de se sentar na cadeira diante dela. Seu coração batia descontroladamente, o medo crescendo dentro de si enquanto ela tentava manter a compostura.

— Então... você é o pagamento pelos erros de seus pais — Helena continuou, estudando-a como se fosse uma peça num tabuleiro. — Eles não pensaram duas vezes antes de te entregar.

As palavras cortaram como lâminas, profundas e precisas. Rachel forçou um sorriso amargo, tentando disfarçar a dor da traição. Helena, perceptiva como sempre, notou o gesto e retribuiu com um sorriso discreto, quase cruel.

— Não se preocupe — disse Helena, inclinando-se ligeiramente para a frente, seu olhar firme como se estivesse no controle absoluto. — Eu sou justa com quem me serve bem. Se você seguir minhas regras, sua vida pode se transformar de maneiras que nem imagina.

Rachel engoliu em seco. As histórias sobre Helena eram assustadoras. Ela sabia da brutalidade que a mulher havia utilizado para chegar ao topo. Mas havia algo no olhar de Helena, uma profundidade que despertava tanto medo quanto curiosidade.

— E se eu não quiser...? — Rachel começou a dizer, mas sua voz foi interrompida por uma risada suave, carregada de ameaça.

— Você não tem escolha — Helena respondeu, sem pressa, mas com uma firmeza que reverberava pela sala. — Mas acredite, sou muito menos cruel do que dizem, desde que saiba como me agradar.

A conversa se estendeu por horas. Helena explicou as regras de seu império, as expectativas que tinha e o que aconteceria se Rachel falhasse. Cada palavra reafirmava a nova realidade de Rachel: ela estava aprisionada, não apenas fisicamente, mas dentro de um mundo onde cada decisão era uma questão de vida ou morte.

Nos dias que se seguiram, algo inesperado começou a acontecer. Entre os momentos de tensão e medo, pequenos sinais de outra Helena começaram a emergir. Raramente, surgiam risadas verdadeiras, conversas que iam além das ameaças, olhares que demoravam um pouco mais do que o necessário.

Rachel, antes consumida pelo pavor, passou a enxergar algo mais na mulher à sua frente. Havia ali uma pessoa marcada pela dor, por escolhas duras e talvez até por amores perdidos. E, de maneira quase insana, uma pequena faísca de esperança começou a surgir no coração de Rachel — a esperança de encontrar algo além do cativeiro.

Contudo, ela sabia que nutrir essa esperança era um jogo perigoso. Naquele mundo de sombras e segredos, qualquer erro, por menor que fosse, poderia custar sua vida.

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