Capítulo 5 - Promessa de digitais

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Demorei, mas estamos aqui de volta.

Boa leitura

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"O mundo é tão grande
que assusta olhar de cima
Mas nem por um instante
você me perdeu de vista"

("Casula" — Carol Biazin)


— Julia, attenzione com a mão de fora, huh?

O técnico italiano regia o time naquele primeiro treino em Treviso na escola mais tradicional da província, que ficava no mesmo quarteirão do hotel onde as jogadoras brasileiras estavam hospedadas. Nicola Negro e Bernardo Rezende dividiam o espaço - improvisado pela Federação Internacional de Vôlei - em dois turnos. Como a equipe carioca havia chegado na Itália três dias antes das comandadas de Nicola, elas tiveram a chance de treinarem sozinhas. Tanto o técnico italiano quanto Bernardo sabiam que nenhum grande clube europeu estava passando por uma situação parecida, ninguém precisava dividir o local de trabalho como as duas equipes brasileiras.

— Priscila, cuidado com as bolas na posição cinque, benne?- o homem instruiu a loira, que assentiu com a cabeça sem tirar os olhos da sacadora do outro lado da rede.

A bola arremessada no ar alcançou a altura máxima antes de começar a cair em queda livre até o instante exato, a posição perfeita, para Emily acertá-la com a mão espalmada, forte e rápido. O saque viagem caiu entre Priscila Daroit e Luiza Martins, que jogava improvisada de líbero já que não estava liberada para saltar ainda. Emily abriu um sorriso presunçoso, envaidecido, mas não era pelo ponto em si e Luiza sabia disso. A disputa delas crescia a cada bola sacada, cada palavra que eventualmente precisavam trocar, cada vez que Julia se aproximava.

— Você precisa deixar menos quadra para ela.

Priscila deu um passo para o lado de Luiza, diminuindo o espaço que a ponteira mais nova teria na quadra para receber o saque, mas a mineira sabia que Emily daria um jeito de buscá-la de qualquer forma. Do outro lado da rede, Julia sorria o sorriso mais reconfortante e orgulhoso que Luiza recebeu desde que foi liberada pela fisioterapia para voltar a treinar com bola. Os olhos da central brilhavam como dois cristais turquesas, transbordando em uma felicidade ímpar ao vê-la em quadra novamente depois de quase oito meses.


[FLASHBACK]

A Arena UniBH estava tomava pelo azul e branco num mar de torcedores eufóricos que gritavam músicas de apoio e tamborilavam instrumentos de percussão. O time carioca sentia a pressão de estar jogando atrás do placar e receber todas as vaias que ensurdeciam o ginásio cada vez que alguma jogadora rubro-negra tocava na bola.

Carol Gattaz foi para o saque. A capitã do time mineiro respirou fundo, lançou a bola no alto e direcionou a recepção para a líbero Laís, que falhou no lance. O passe quebrado dificultou o levantamento da canadense, Brie Joy, que tentou consertar abaixando o corpo e levantando uma bola espetada para Sabrina, na saída de rede. A oposta carioca encurtou as passadas, rotacionando o tronco para a paralela, mas atacou uma diagonal curta, amortecida pelo bloqueio de Kisy e Julia. O técnico italiano gritava as jogadas para as suas comandadas, regendo os movimentos do time como numa sinfonia em que ele era o maestro.

— Para Luiza.- pediu o homem, no instante que Nyeme se posicionou para levantar a bola atrás da linha dos três metros.

Luiza abriu as passadas para receber a bola do contra-ataque, pronta para marcar o seu vigésimo primeiro ponto naquela noite. Sentiu, no instante que seu joelho girou para fora assim que os pés tocaram o piso vinílico, que a queda seria maior do que os quase três metros que alcançava ao saltar.

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⏰ Última atualização: Sep 26 ⏰

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