WILL
0:00, marcava o relógio no criado mudo de frente para a cama. Estava escuro, mas eu ainda conseguia enxergar sua silhueta na porta do quarto, e mesmo que não conseguisse, seu perfume forte e amadeirado teria entregado.
Embora o álcool ainda estivesse fazendo efeito em mim, sentia-me sóbrio, lúcido e talvez até meio letárgico. A leve dormência em meu corpo e o cansaço físico, lembravam-me o que havia acontecido mais uma vez.
Às vezes, me perguntava se Damon me vê como propriedade dele, algo como um alguém que ele sabe que, sempre estará por ele, independentemente do que aconteça. E ele sabe disso. Damon me conhece melhor do que qualquer um, afinal de contas, ele é o meu melhor amigo.
Talvez um pouco mais que isso.
— Sei que está acordado, no entanto, não disse nada ainda, por acaso foi tão bom que eu te deixei sem palavras?
Seu tom sarcástico e sua fala fez com que o sangue em minhas veias borbulhasse, a raiva correndo em minhas veias.
— Eu já lhe disse que não sou gay, e isso só aconteceu por conta da bebida.
— Ah, é? Se fosse assim, não teria acontecido mais de uma vez. E além disso, nós dois sabemos que você poderia ter me parado se quisesse.
Ele se aproximou, senti seu hálito fresco — mas, que ainda cheirava a álcool — entupir minha narinas; enxerguei seus olhos de obsidiana encararem os meus e, se pudessem me engolir por inteiro como se fosse um foço de piche, iriam.
— Cara, você sabe que eu não sou gay.
— Não precisa ser. Você sabe que gosto de garotas e também gosto de garotos. Agora, você que finge não gostar.
— Eu já falei que não gosto de homem!
— Ah, é?
Ele se aproxima e encara minha boca, então meus olhos e minha boca de novo. Inconscientemente olho para a boca dele também, ele sorri, como o filha da puta insano que ele é. Como quem sabe bem como mexer comigo.
Praguejo, desviando o olhar e trincando o maxilar. Odeio tudo isso.
— Você sabe que não.
O encarei, ignorando toda a confusão dentro de mim.
Ele confunde minha cabeça, mexe com meus sentimentos e isso não faz sentido algum. Ainda mais quando, no fim de tudo, a Winter é quem ele ama e é obcecado.
DAMON
William Grayson III, meu melhor amigo e também o cara com quem tenho uma relação peculiar. Impulsivo, cabeça quente — mas, tolerável com amigos —, engraçado, leal, até um pouco carismático.
Ele não faz ideia do quão divertido é irritá-lo, principalmente por ele se estressar facilmente.
Algumas vezes, me perco em seus olhos verdes magnéticos, eletrizantes quando cerrados e consumidos por sua raiva.
Desde que o Grayson chegou em minha vida, era como se ele sempre estivesse lá, como se não houvesse um momento em que ele não havia estado ao meu lado. Mesmo sabendo que havia.
Ele me conhece melhor que ninguém, sabe tudo sobre mim. E eu sobre ele. Entretanto, chega a ser cômico vê-lo negar o óbvio.
Toda vez era a mesma coisa: ele se embebeda, ficamos e então ele fala que não vai acontecer de novo, diz que é o efeito do álcool em seu sangue e nega que ele sente prazer nisso. Já foram mais de 3 vezes e ele não troca o disco. Acho que no fundo ele apenas não queira admitir para si mesmo ou qualquer pessoa e não quer acreditar.
Will pode até pensar que me engana, que eu não percebo suas reações involuntárias e o quanto o assunto o deixa irritadiço, o como ele evita a todo custo falar sobre isso e algumas vezes até mesmo me evita, quando ele não esconde nada bem.
É meio intrigante esta conexão esquisita que há entre nós... eu mataria por ele, morreria por ele e, também o mataria se necessário. Por mais que, sem ele, toda a estrutura protegida e firme que construí como vida, iria por água abaixo.