Já faz uma hora que acordei, estou preparando o café da manhã para Ava, minha filha.
Preparo tudo perfeitamente, umas panquecas, pão, geleia, suco natural, café, manteiga, uns biscoitos e bolacha recheada.
Estava tudo perfeito, até que escuto algo cair. Parecia vir do quarto de Ava, então vou ver o que tinha acontecido, preocupado.
Bato na porta e entro no quarto lentamente. Abrindo a porta aos poucos.
- Ava?
Ava tinha acabado de acordar, pelo menos, parecia. Pois ela ainda estava na cama, segurando alguma coisa.
- Ah, oi pai. Bom dia.
- Aconteceu algo?- Pergunto com voz grossa e fria, mesmo preocupado. Não consigo tirar isso de mim.
Ela gagueja um pouco e depois fala, meio nervosa. Também consigo ver ela colocando o que estava na mão na mesinha do lado da sua cama, era seu celular.
- Es...está tudo bem. Não aconteceu nada. Só acho que...acabei batendo a mão no meu celular enquanto dormia.
- Entendi. Olha, já preparei o café, pode vir.
Falo e dou de ombros, mas eu sentia que ela estava mentindo, e iria descobrir. Tirando isso, volto para a cozinha.
Tiro o avental que estava usando e pego meu tablet de trabalho. Verificando se todos os funcionários estavam chegando no horário certo e se as compras de alguns clientes.Ava logo aparece na cozinha, ainda usando seu pijama. Eu tento sorrir, mas não consigo. Ela sempre chamou minha atenção com esse pijama curto e apertado. Seu shorts nem cobriam as coxas dela, era bem curtinho mesmo.
Balanço a cabeça e pego um pedaço de pão, passo geleia e me sento na mesa. Sem tirar o olhar do tablet.
- Vem filha.
Ava caminha e se senta ao meu lado, dando aquele sorriso doce e fofo. Eu queria poder retribuir, mas não podia, estava concentrado no trabalho.
- Pai, tive um sonho estranho.- Ela fala enquanto prepara seu lanche e coloca suco no copo.
- Sério? - Falo de forma fria, só prestando atenção de verdade no meu trabalho.
- Sim. Eu sonhei que estava na escola, conversando com as amigas. Aí, um garoto parecido com você chegou perto de mim e me pediu pra dançar, mas nem era festa ou algo do tipo...
Através do início da palavra "garoto" sair da boca dela, fico mais atento na conversa sobre esse sonho.
Ela continua falando com voz suave e calma enquanto come.
- Aí, eu aceitei e comecei a dançar com ele. Tinha uma música estranha tocando. Bem, depois de uns segundos dançando ele me beijou e me abraçou bem forte, sussurrando no meu ouvido "Ninguém vai te tirar de mim".
Ela vira o rosto para mim, vi a surpresa no seu rosto, pois eu estava a encarando. Da mesma forma se sempre, neutra e fria.
- Você é muito próxima de algum menino?
- Não pai. Nenhum.
- Certo...e por que esse menino era tão parecido comigo no seu sonho?
- Eu não sei pai. Talvez porque você é o único homem, garoto com quem eu convivo?
- Pode ser. Mas não quero você se intrometendo na vida de nenhum muleke da sua escola, ouviu?- Falo de forma grossa e com raiva, sentindo algo estranho no coração. Tipo um aperto, um incômodo.
Ela abaixa a cabeça e fala baixo.
- Certo.
Respiro fundo, tentando controlar minha raiva e vou para o meu escritório, onde faço mais nada além de trabalhar.
Ava também se levanta e começa a lavar a louça e guardar as coisas da mesa.