Capítulo Um.

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Eu sempre quis ser amada. Sempre quis sentir aquela sensação mágica que os livros e filmes descrevem. Queria, de verdade, ser olhada com aquele "olhar do amor" que faz o coração acelerar. Sonhava em sorrir simplesmente por alguém segurar a minha mão, recebendo uma rosa, um gesto pequeno, mas que significava o mundo. Desejava ter o que meus pais tinham. Tinham.

Agora, sentada no banco de trás do carro, observando a paisagem familiar desaparecer pela janela, a realidade me atingia como uma onda fria. O cheiro de carro novo misturado ao aroma de refresco de limão que Rosalie, minha madrasta, tentava disfarçar, me irritava mais do que eu admitia. Sua risada nervosa ecoava no silêncio. Ela ocupava o meu lugar — o lugar de passageira ao lado do meu pai. Eu estava espremida ao lado de Noah, meu irmão, em uma viagem que parecia durar uma eternidade. O incômodo me consumia.

Eu odiava a ideia de ter que morar com ela, mesmo que Rosalie não havia feito nada de ruim. Mas, mesmo assim, eu não conseguia evitar a repulsa. Eu sabia que meu pai não a ama. Ele não a olha como olhava para minha mãe, não ri com a mesma sinceridade quando ela tenta contar uma piada. Com a mamãe, os silêncios eram seguros, confortantes. Agora, tudo parecia tenso, como se a qualquer momento algo fosse se quebrar. O vazio enchia o carro, sufocando qualquer possibilidade de paz.

Involuntariamente, soltei um suspiro, longo e pesado, quase como se estivesse soltando tudo que vinha segurando até ali. O som pareceu ecoar no pequeno espaço do veículo, quebrando o silêncio desconfortável, ou melhor, o deixando mais incomodo

— Está tudo bem, querida? — Rosalie perguntou, sua voz parecia doce demais, como se estivesse tentando forçar uma empatia que não era dela.

Eu a encarei pelo retrovisor, me perguntando se essa doçura era genuína ou apenas uma tentativa de ganhar o coração do meu pai... e talvez o meu também.

— Tudo. — Menti.

Claro que não estou bem. Como eu poderia estar, depois de deixar para trás tudo o que importava? Meus amigos, minha escola, minha vida no Tennessee... Agora estou me mudando para o Kentucky, e por quê? Para garantir a felicidade do meu pai. Tudo por ele. Rosalie parece satisfeita, como se não tivesse ideia do caos que está acontecendo dentro de mim.

Me reviro no banco de couro do carro novo — nem de longe tão confortável quanto o velho carro da mamãe. Que saudade do tecido macio, do cheiro de café que sempre impregnava o estofado, e da sensação de aconchego que ele me dava. Esse, com seu brilho impecável e cheiro artificial, não era o mesmo. Nunca seria. O antigo estava cheio de lembranças, cheio de nós. Esse... era só mais um reflexo de como tudo havia mudado. Mais uma prova de que, aos poucos, a mamãe estava sendo apagada das nossas vidas.

— Grace? — Noah chama, desviando o olhar da janela para mim. Seu entusiasmo é palpável. — Vai demorar muito para chegarmos? Estou ansioso para conhecer a nova casa.

Por um momento, sinto um nó se formar na garganta. Pelo visto, eu era a única aqui que desprezava a ideia de mudar de vida. Enquanto Noah parecia estar empolgado com a nova aventura, eu lutava contra uma tempestade de emoções. O que havia de tão especial naquela casa nova?

Meus pensamentos vagaram para as memórias da nossa antiga casa — os risos, as brigas bobas, o cheiro do jantar da mamãe. O conforto dos nossos cômodos. Agora, tudo isso seria substituído por paredes vazias.

— É só mais um lugar, Noah — murmuro, tentando esconder a frustração na minha voz. Ele não percebe, está tão animado com a ideia de um novo começo.

Não posso culpá-lo. Ele tem apenas 8 anos, mal teve a chance de conhecer nossa mãe e, por isso, não tem as mesmas lembranças que eu. Eu, que tinha 12 anos quando ela faleceu há quatro anos, carrego a dor de suas memórias, a saudade que parece se intensificar a cada dia.

❀° ┄───╮

Quando menos espero, cruzamos a fronteira e entramos oficialmente em Kentucky. A paisagem ao nosso redor começou a mudar, com as folhas das árvores se transformando em uma paleta vibrante de laranjas, amarelos e vermelhos, sinalizando o início do outono.

—Bem-vindos à nossa nova cidade! — Jonas, meu pai, exclamou, um sorriso largo estampado no rosto enquanto olhava para o horizonte.

— A cidade parece tão charmosa! — Rosalie disse animadamente, olhando pela janela como se estivesse absorvendo cada detalhe.

— E a escola! — Noah acrescentou, seus olhos brilhando de entusiasmo.

Eu continuei em silêncio, encolhida no meu canto do carro, ouvindo a conversa animada ao meu redor. Um nó se formou em meu estômago. "Me deseje sorte, mamãe", pensei, desejando que, onde quer que ela estivesse, pudesse sentir a ansiedade que apertava meu coração.

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