Pedro e João sempre foram opostos: Pedro, o romântico incurável que sempre mostrava o coração na manga, e Jão, o prático e reservado que mantinha as emoções escondidas muito abaixo da pele ou das palavras. Foi uma diferença que às vezes os atraiu...
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Pedro point of view
⚝
O término com João me destruiu. Eu estava em pedaços, como se uma parte de mim tivesse sido arrancada. Descobri, da pior forma possível, que sem o João, eu não me conhecia. É como se ele tivesse levado consigo a versão de mim que fazia sentido, e o que sobrou era alguém que eu mal reconhecia no espelho.
Apesar de todo esse sofrimento, eu me envolvi com algumas pessoas ao longo do tempo, tentando preencher esse vazio de alguma forma. Beijos casuais, encontros sem profundidade... todos com o objetivo de me distrair, de fazer com que eu esquecesse o buraco que João deixou. Só que nada disso funcionou, não de verdade.
Hoje, estou "conhecendo" alguém. Na verdade, estamos mais para ficantes, sem grandes expectativas de algo além disso. Às vezes, me pego pensando se estou tentando construir algo novo ou apenas me enganando, tentando suprir uma carência que João deixou.
Por um lado, Rafael é uma boa pessoa para mim, me distrai, me faz rir, mas, por outro... sempre que estamos juntos, sinto como se estivesse traindo uma parte de mim que ainda espera por João. E, no fundo, acho que ele sente isso também.
Talvez seja injusto. Talvez eu esteja buscando algo que ninguém além de João pode me dar, mas sigo tentando. Não sei se estou pronto para mais do que isso, mas, por enquanto, vou empurrando. Quem sabe uma hora eu não aprenda a me reconhecer sem ele.
Hoje era uma das noites em que Rafael vinha para a minha casa, e eu estava ansioso para vê-lo. Mesmo com todas as dúvidas que pairavam sobre mim, havia algo em estar com ele que trazia um certo conforto, uma sensação de normalidade. Mas era sempre um misto de sentimentos — uma parte de mim estava ali, no presente, enquanto a outra continuava presa em lembranças que eu não conseguia deixar para trás.
A campainha tocou, arrancando-me de meus pensamentos. Praticamente voei até a porta, ansioso para vê-lo. Abri rapidamente, e lá estava ele, com aquele sorriso tranquilo que sempre me acalmava, mesmo que por um momento.
— Oi, meu amor! — disse animado, puxando-o para um selinho suave.
Rafael sorriu, aquele sorriso sincero, e me envolveu em um abraço apertado. — Estava com saudade de você — murmurou, sua voz baixa e calorosa.
Enquanto nos abraçávamos, tentei me concentrar naquele momento, no agora. Ele era tão bom para mim, sempre tão presente, tão carinhoso... Mas mesmo ali, no calor dos braços dele, meu coração se dividia, uma parte ainda lutando com as memórias que João deixara.
— Eu também senti sua falta — respondi, tentando afastar as sombras que sempre voltavam a me rondar. Por mais que eu quisesse me entregar completamente a esse novo capítulo, o passado insistia em permanecer vivo dentro de mim.
— Está tudo bem? — Rafael perguntou, percebendo meu breve distanciamento. Seus olhos procuravam os meus, em busca de respostas que eu não tinha certeza se estava pronto para dar.
