WenClair em Linhas De Sangue e o Destino

Capítulo 2: Laços de Sangue e Sombras

O silêncio familiar da mansão Addams era interrompido pelo eco suave de passos distantes. A noite era sempre um momento de reflexão, onde os membros da família, cada um com suas peculiaridades, seguiam suas próprias rotinas obscuras. Mas naquela noite, algo pairava no ar — uma tensão silenciosa, quase imperceptível para quem não estivesse atento aos mínimos detalhes.

Pugsley, sentado no sofá, lançava olhares exageradamente charmosos para uma das empregadas, tentando convencê-la a escutar suas histórias sobre explosões. “Sabe, sou um especialista em dinamites... Se quiser, posso te mostrar minha última invenção. Só tem que manter distância de uns cinco metros quando eu acender o pavio,” disse ele, piscando um olho. A empregada riu, balançando a cabeça.

Enquanto isso, Lurch, o gigante de coração mole, servia chá e biscoitos, sua expressão sempre séria, mas seus gestos incrivelmente delicados, contrastando com sua aparência imponente. “Aqui, senhorita Addams,” disse ele suavemente, ao entregar uma xícara a Morticia, que o agradeceu com um sorriso amável.

Mãozinha, o homem silencioso e fiel à família, movia-se com agilidade pelo ambiente. Alto, magro, e sempre observador, ele mantinha-se à parte, comunicando-se por meio de Libras. Suas mãos eram uma extensão de seus pensamentos, precisas e eficazes, uma verdadeira sombra que nunca deixava de vigiar.

Wednesday estava sentada próxima à lareira, olhando fixamente para as chamas, imersa em seus pensamentos. Ela processava os últimos acontecimentos, as intrigas, os movimentos futuros da máfia, tudo com a precisão de uma mente que nunca descansava. Contudo, um som familiar quebrou sua concentração.

Desdemona entrou na sala, com o habitual ar de quem havia acabado de sair de uma tempestade. Seu corpo estava marcado, não por arranhões acidentais, mas por uma batalha recente. Seus cabelos curtos estavam bagunçados, e sua jaqueta de couro parecia ter visto dias melhores.

“Des, de novo?” Pugsley perguntou, levantando-se do sofá e se aproximando com uma mistura de admiração e preocupação. “Você não descansa nunca?”

“Alguém precisa manter as coisas interessantes,” respondeu Desdemona com um sorriso irônico, jogando-se no sofá. “Além disso, é só um arranhão.”

“Só um arranhão” era o que ela sempre dizia, mas todos na sala sabiam que aquilo era uma constante. Desdemona sempre voltava machucada das lutas clandestinas, e mesmo assim, nunca dava detalhes. Ela fazia questão de se mostrar indestrutível, como se aquelas marcas em seu corpo fossem provas de que ela não podia ser derrotada. A família respeitava essa fachada, aceitando seu silêncio, acreditando que era simplesmente parte da natureza resiliente de Desdemona.

Porém, apenas Wednesday via além da máscara. Ela sabia que a força que Desdemona exibia era uma armadura, não uma verdade. E, mais do que ninguém, entendia o motivo oculto por trás da insistência em lutar. Os traumas de Desdemona eram palpáveis, mas o que a família não percebia era o quanto as lutas eram uma fuga — uma maneira de se punir por algo que ela nunca admitia abertamente.

“Você deveria parar com essas lutas,” disse Wednesday, sem desviar os olhos da lareira, sua voz fria, mas carregada de significado. “Sabe que não precisa continuar.”

Desdemona lançou um olhar furtivo para a amiga, mas seu tom foi o de sempre: leve e irônico. “E quem disse que eu quero parar? São só umas lutas clandestinas. Nada demais.”

Morticia, que estava quieta ao lado de Gomez, finalmente se aproximou. Seu olhar elegante e maternal pousou sobre Desdemona. “Querida, quantas vezes já lhe disse que você não precisa se ferir dessa forma? A violência tem sua beleza, claro, mas você sempre volta mais machucada do que deveria.”