capítulo 2 - confronto

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Vestido apenas com uma camiseta larga e calças de moletom, saio do banheiro com passos pesados, ainda ouvindo a voz de Jonathan ecoando em minha cabeça, repleta de desprezo. Desço as escadas devagar, sentindo o ar mais pesado conforme me aproximo do andar de baixo. É difícil estar em casa quando Jonathan está por perto. O ar sempre parece mais denso, mais sufocante.

"Não posso continuar assim..." murmuro baixinho para mim mesmo, como um lembrete, uma tentativa de manter alguma força enquanto caminho em direção à sala.

Quando chego ao fim da escada, encontro Jonathan no sofá, jogado como se a casa fosse apenas dele. Os músculos fortes e o corpo atlético que Jonathan exibia sem esforço eram um lembrete constante de tudo que eu não sou. Jonathan estava com o celular na mão, rindo de algo, sem sequer levantar os olhos quando eu passo. "Finalmente saiu da toca? Que milagre."

A voz de Jonathan era casual, mas com o mesmo tom provocador de sempre, como se ele vivesse para cutucar as minhas fraquezas. Cada palavra parecia uma faca afiada, penetrando onde mais doía.

Passo direto, ignorando a provocação, mas sentindo cada músculo do corpo tenso, querendo reagir. Eu sei que qualquer confronto só pioraria as coisas. Jonathan sempre ganhava, sempre sabia como me deixar sem palavras. Na cozinha, ouço a minha mãe, mexendo em algo no fogão. A presença dela trazia um mínimo de conforto, mas também me fazia sentir culpado. Como ela poderia estar no meio de tudo isso, com um marido distante e dois filhos que mal se suportavam?

encosto à porta, observando a minha mãe de costas, mexendo na panela. Por um segundo, pensei em contar o que eu vi mais cedo — meu pai com aquela mulher — mas a ideia logo sumiu. Como eu poderia fazer isso? O que eu diria? O caos que já existia na casa parecia grande demais para adicionar algo tão devastador.

"Caleb, vem comer. Fiz algo leve pra você, acho que vai te fazer bem." A voz de mamãe era sempre suave, preocupada. Ela não se virou, mas eu sei que ela está ciente da minha presença.

Respiro fundo e me aproximo, sentando-me à mesa sem dizer uma palavra. A comida estava ali, simples, quase sem muito sabor, mas eu sei que ela faz o que pode, levando em conta a minha condição anêmica. No entanto, a fome era o último dos meus problemas. Minha mente ainda estava presa no confronto com Jonathan, nas palavras venenosas que ele lança sem qualquer cuidado.

Mamãe, percebendo o meu silêncio, finalmente se virou, olhando para mim com aquele olhar cansado, mas amoroso. Ela sabe que algo está errado, mas não queria forçar. Com um suspiro, ela se sentou à mesa comigo, apoiando o rosto nas mãos. "Jonathan foi duro com você de novo, não foi?" Ela perguntou baixinho, mesmo que já soubesse a resposta. Seu olhar era gentil, mas preocupado, como se soubesse que havia algo muito maior pesando sobre mim.

"É sempre a mesma coisa, mãe. Ele nunca muda..." Eu respondo com um tom resignado, meus olhos fixos no prato, a comida quase intocada. Eu sinto a garganta apertar mais uma vez, lutando contra o desejo de despejar tudo o que estou sentindo. Mas a voz de Jonathan ecoava em minha cabeça, chamando-me de fraco, dependente.

"Eu sei... eu sei que ele não facilita as coisas. Mas você é forte, Caleb. Mais do que imagina."

Essas palavras, embora reconfortantes, pareciam distantes da realidade que eu vivo. Eu balancei a cabeça levemente, sem acreditar nelas. A tensão entre mim e Jonathan era uma ferida aberta, e cada dia parece só piorar. Eu preciso de uma saída, mas não sei qual.

Mamãe voltou ao fogão, me deixando sozinho com os meus pensamentos. E, mais uma vez, eu senti o peso do que tinha visto, o segredo que eu agora carrego sozinho sobre o pai. O que isso significaria para a minha família? Para a minha mãe? Não tenho as respostas, mas sei que, em algum momento, tenho que confrontar a verdade — tanto sobre Jonathan quanto sobre Papai. Eu só não sabia se teria força suficiente para fazer isso.

Caleb FosterOnde histórias criam vida. Descubra agora