O vestiário estava cheio, abafado com o cheiro de suor e desodorante barato. Eu tentei me isolar em um canto, longe dos olhares zombeteiros dos outros rapazes. Estava me trocando para a aula de Educação Física, uma das piores partes do dia para mim, sempre foi traumático, já passei por muitas coisas em vestiários... Sempre foi assim: a sensação de estar sendo observado, julgado, zombado. Naquele ambiente, eu me sentia ainda mais vulnerável, com meu corpo magricela, os ossos expostos, sempre atraindo atenção indesejada. Hoje, depois da briga com meu pai, eu só queria desaparecer.
Mas, claro, não demorou para que as coisas desmoronassem, eu deveria saber.
"Ei, Caleb, você vai participar hoje ou vai fingir que tá doente de novo?" A voz debochada ecoou pelo vestiário, e as risadas se espalharam. Eu mantive a cabeça baixa, tentando ignorar. Me vesti o mais rápido que pude, tentando evitar contato visual, mas sabia que os comentários não parariam por aí.
Outros garotos começaram a se juntar, formando uma pequena roda ao meu redor, seus olhares cheios de desprezo, eles têm essa postura, essa postura me apavora...
"Olha só esse corpo... Tá parecendo uma garota com anorexia! Como você acha que vai correr com essas perninhas de pau, hein? vai acabar se quebrando no meio da quadra!" disse um outro valentão seboso, que ódio desses caras, mas eu me mantive quieto.
Eu continuei me trocando, sentindo meu rosto queimar de vergonha e raiva ao mesmo tempo. Já tinha ouvido esse tipo de coisa antes, mas hoje, depois de tudo que aconteceu, cada palavra parecia pesar ainda mais.
"Garota? Você quer dizer bicha, né Rogger? Olha pra ele, todo delicadinho. É isso, Caleb? Tá só esperando a hora de sair do armário? se bem que... nem precisa! Tá explícito que tu gosta mesmo é de dar esse teu cuzinho de grilo, isso se tiver algum corajoso que queira te comer."
As risadas ficaram mais altas, mais cruéis. Os insultos homofóbicos me atingiram como pedras. Senti o sangue subir ao rosto, o estômago revirando de ódio e impotência. Eu queria gritar, queria correr, mas minhas pernas estavam travadas. Minha respiração começou a acelerar. Eu já não estava conseguindo controlar.
"Cuidado, gente, ele vai ter um colapso agora. Ele não aguenta, viadinho cheio de frescura!"
Um empurrão estrondoso. Fui jogado contra o armário. Tentei me equilibrar, mas minha cabeça girava. A visão ficou embaçada. O coração martelava no peito, e meu corpo inteiro tremia. A respiração ficou mais rápida, mais curta, como se o ar estivesse fugindo de mim. O olho esquerdo começou a piscar sozinho, e eu sabia que estava prestes a explodir.
"Vai fazer o quê, Caleb? Chorar? Vai correr pra mamãe? Você nem devia estar aqui. Espantalho ridículo."
Outro empurrão, desta vez ainda mais forte. Senti minhas costas baterem contra o armário de novo, a dor disparando pela coluna. Mas a dor física não era nada comparada ao caos que estava se formando dentro de mim. Minha visão começou a ficar turva, as risadas deles soavam distantes, quase como se estivessem debaixo d'água. Meu olho esquerdo tremia, piscando de maneira descontrolada.
A raiva, o desespero, o ódio... tudo estava subindo, e o formigamento mais forte do que nunca, e eu não conseguia mais segurar. Minha respiração estava irregular, ofegante. Os espasmos começaram a sacudir meu corpo. Tentei lutar contra isso, mas era como se algo estivesse escapando de mim, algo que eu não sabia como controlar.
Eu gritei.
"P-parem! Parem, porra!" Grito furioso, gaguejando. Eu estava ofegante, o peito apertado, como se não houvesse mais ar.
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Caleb Foster
FantasyLidar com ataques de fúria é difícil, agora imagine quando vem acompanhados de poderes sobrenaturais? Caleb convive com a angústia de ver seus ataques cada vez mais frequentes e seus poderes cada vez maiores. Como enfrentar seus próprios desafios qu...