2.1 Artistas Medíocres

191 35 13
                                    

#Açafrão
🐈

Parte um:

O pequeno rádio em cima da mesa estava sintonizado na estação local atualizando os ouvintes sobre vida de celebridades, horóscopo do dia e música boa, mas nada daquilo o interessava, sequer era absorvido por seu cérebro.

Saiu da cama por volta das onze da manhã quando sua avó, antes de sair para a feira, deixou o seu café da manhã no quarto: pão com manteiga dourado na frigideira e alguns pedaços generosos de melancia e suco da mesma fruta. Era temporada de melancias e, visto que os seus avós tinham um pequeno sítio, não era incomum encontrar dezenas delas por toda a cozinha nos verões.

Porém, devolveu o pão para o armário, o suco e as frutas para a geladeira. Sem apetite.

Na cabeça de Jimin nenhum pensamento permaneceu em foco por muito tempo, algumas vezes um estalo interno veio a ser um lembrete sobre pensar. Os barulhos ao seu redor ㅡ algum de seus vizinhos cortando a grama, o som dos carros atravessando a rua numa velocidade moderada ou mesmo a canção que tocava no rádio ㅡ eram somente um ruído abafado. A sensação era igual a de quando criança e tampava os ouvidos com as mãos, nenhum som entrando nos tímpanos, e acreditando ter poderes especiais naquela momentânea agonia advinda pelo silêncio intenso.

Enlouqueceria se este continuasse a ser o som de sua vida.

Seus episódios dissociativos, mais frequentes que o normal, acomodaram seus sentidos de captação em um abraço opressivo, forçando-o a cair em círculos e círculos vazios, apesar de turbulentos. O sono abundante também era um fator resultante daquele desligamento mental fugaz onde esquecia quem era ou o que estava fazendo.

Foi desta forma que saiu de mais uma longa dissociação, quando a chaleira assobiou frenética no fogão indicando que a água atingiu seu estado de fervura. Embora não tivesse fome, aquela seria a sua quarta xícara de chá de camomila que tomaria num intervalo de uma hora desde que saiu da cama e desceu para o andar de baixo. Jimin escolheu os sachês que aparentavam ter mais conteúdo com uma expectativa vã de que eles o fizessem dormir aquilo que não conseguiu a madrugada inteira.

Precisava se acalmar.

Pegou a mesma caneca de cerâmica, suja dos chás bebidos mais cedo e jogou o sachê a ser infundido na água quente quando, de repente, passou por sua cabeça a ideia de tomá-lo em dose dupla, mais forte. Abriu outro sachê e repetiu o processo de infusão.

Em algum momento a camomila e seus efeitos medicinais o faria apagar, contava com isso.

ㅡ Vai amansar um leão, menino? ㅡ A voz de seu avô tomou espaço na cozinha. ㅡ Não sei se esses chás vão adiantar muito.

ㅡ Então me dê uma panelada na cabeça, vovô ㅡ disse em um riso frouxo. Estava cansado. ㅡ Preciso de meia hora de sono pelo menos ou vou colapsar.

ㅡ Já tentou tomar leite morno? Quando você era pequeno, era o que te derrubava em minutos.

ㅡ Deve ser por isso que sou intolerante a lactose agora ㅡ falou, esquentando as mãos na caneca. ㅡ Quer um também?

ㅡ Por favor ㅡ O velho se sentou para ser servido. ㅡ Aconteceu alguma coisa, filho?

ㅡ Não preguei os olhos essa noite. Virei para um lado, para o outro. Amarrei um lenço ao redor dos olhos e... Nada surtiu efeito.

Entregou a ele a caneca e se acomodou nas cadeiras de madeira junto ao avô. Assistiu ele beber um pouco da bebida quente. Seu avô era mais do time do café, preferia uma boa xícara dele a uma de chá, em especial os que não fossem de frutas. Portanto, fez careta quando o gosto doce da camomila se expandiu no paladar.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Oct 07 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Gato Ruivo Na Avenida Das Dores • jikookOnde histórias criam vida. Descubra agora