Capítulo VI: Em Algum Lugar do Amazonas

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No primeiro dia de Fevereiro, André e Arthur despertaram antes do sol nascer, enfiaram tudo o que tinham nas malas, André teve o cuidado de ter certeza que não havia deixado nada para trás, afinal de contas não voltariam. Enquanto Arthur encubia-se de pagar a conta dos seis dias que os dois estiveram, André deu uma última olhada no quarto antes de fechar a porta, sem dúvida nenhum, não sentiria saudades. Às seis em ponto deixaram o motel, ainda restava na mente de André um questionamento preocupante: como eles atravessariam o país inteiro em uma hora? Mas é claro que deveria haver alguma resolução mágica para isso, então tentou manter-se calmo.

–Nós não vamos nos atrasar? –ele teve de perguntar, ao ver que o carro andava terrivelmente devagar. 

–Não, claro que não –disse Arthur despreocupado, ele olhava pela janela –Na verdade, vamos chegar adiantados. 

Arthur virou uma curva para dentro de uma rua reta e comprida, olhava para todos os lados, parecia estar procurando alguma coisa.

–Acho que não tem ninguém nessa rua –confirmou ele, parecia estar falando mais consigo mesmo do que com André –É seguro!

–Seguro para o quê? –perguntou André intrigado.

Mas em vez de dar uma resposta, Arthur pisou fundo no acelerador, o carro disparou para a frente a mais de 80 km por hora, Arthur se agarrou ao banco assustado. Seu medo cresceu ainda mais ao perceber que a enorme rua era sem saída, iriam bater em frente ao portão de uma casa. O garoto olhou assustado para o pai, mas havia em seu rosto apenas um olhar calmo e monótono enquanto iam em direção a um possível acidente fatal. Foi quando, a menos de três metros do portão, Arthur apertou um botão no painel. E em um piscar de olhos, tudo na visão de André desapareceu. Sentia-se dentro de um redemoinho ou em uma máquina de lavar, sentia-se esticado e puxado por todos os lados, via partes do rosto de Arthur, o painel do carro e suas próprias mãos se esticarem e rodopiarem como em um desenho animado. Sentia-se prestes a vomitar o próprio intestino para fora, fechou os olhos apertando as pálpebras o mais forte que pôde.

Foi então que sentiu tudo voltar ao normal, André foi bruscamente lançado para frente, mas o cinto de segurança o puxou de volta apertando dolorosamente seu peito. Abriu os olhos e teve uma nova surpresa: estavam de volta ao carro, mas em uma rua completamente diferente. As casas haviam mudado, e o céu azul havia dado lugar a um céu coberto de nuvens escuras e acinzentadas, haviam sido transportados e André soube logo de cara que não estavam mais em São José. O menino apertou o peito dolorido, sentiu o coração bater acelerado

–Eu te disse –disse Arthur, de repente rindo, provavelmente pela expressão assustada do filho –modifiquei esse carro com algumas magias. Transformei ele em uma chave de portal, é só apertar esse botão e ela te trás diretamente para cá, esperei a gente chegar em uma rua deserta, se tivesse feito isso lá no hotel alguém poderia ter visto.

–E que lugar é esse? –perguntou o garoto, observando a rua, algumas gotinhas de chuva caíam sobre os vidros do carro.

–Algum lugar do Amazonas –respondeu Arthur coçando a bochecha –É aqui a entrada do Castelo-Bruxo.

Quinze minutos de viagem depois, a chuva se intensificava do lado de fora, e André já se questionava se Arthur não poderia ter feito seu carro aparecer mais próximo a entrada do Castelo, mas pode receber um sopro de esperança quando Arthur virou o carro para fora da rua asfaltada, entrando em uma estrada de terra que se entranhava no meio de um matagal.

–É por aqui –afirmou ele bem orientado.

André não pode deixar de pensar que o corolla ficaria completamente sujo de lama ao andar por uma estrada de terra em meio a um dia de chuva, mas Arthur parecia ignorar isso, provavelmente conseguiria resolver a questão facilmente com magia. A estrada era um pouco mais longa do que André torcia para que fosse, mas após alguns minutos  começou a ouvir um ruído distante, que ia aumentando gradualmente enquanto seguiam pela estrada. O garoto suspeitava que o ruído se tratava das correntes de um corpo d'água, e não muito tempo depois suas suspeitas foram confirmadas quando um enorme e largo rio de águas escuras surgiu logo à frente deles, indicando o fim da estrada de terra. O rio corria com braveza e produzia o som semelhante a de uma cachoeira, enquanto a chuva tamborilava sobre ele. E então, para mais uma surpresa de André, Arthur acelerou, quilos de lama foram jogados para cima enquanto os pneus derrapavam, e de repente, estavam na água, mas não haviam afundado, estavam no rio, mas não debaixo dele, flutuavam acima das águas. André olhou pela janela o rio que fluía bravamente e os pneus que, parcialmente dentro da água, giravam como se fossem hélices de um barco motorizado. O garoto não pode deixar de sorrir, navegar em um corolla não era o tipo de experiência que qualquer um poderia relatar.

CASTELO BRUXO: A SERPENTE DE FOGO (Livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora