Capítulo IV: Hocus Pocus

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O bar Hocus Pocus era um lugar de decoração extravagante, o lugar era escuro, com exceção de luzes vermelhas e roxas piscantes, que faziam arder os olhos de André. Havia todo tipo de coisa pendurada nas paredes: caveiras, espadas, varinhas, guitarras; aparentemente o responsável pelo design de interior não havia chegado em um consenso do que queria que o bar se parecesse, então se parecia com uma mistura de tudo. No centro alguns bruxos mais velhos jogavam em uma mesa de bilhar, usando feitiços, em vez de tacos. Cartazes colados às paredes anunciavam “MÚSICA AO VIVO: CABEÇA DECEPADA (banda cover) ÀS 3:00”. André não entendeu quem deveria ser o público alvo daquele estabelecimento, talvez qualquer um.

O que mais chamou a atenção de André, entretanto, foi uma espécie de grafite próximo à porta da saída de emergência, ocupava quase a parede inteira, pintado em tinta roxa estava uma mão que se movia. Embora fosse muito impressionante para André, o movimento feito pela mão era consideravelmente simples, apenas se abria e fechava lentamente, o garoto se perguntava se aquilo deveria significar alguma coisa ou era apenas uma outra decisão estranha de design, mas logo percebeu que a figura não pertencia àquele local. O homem com o rosto manchado de roxo murmurava alguma coisa sobre ter de limpar a pichação feita pelos garotos. André achou a escolha de pichar uma mão, em vez de algo mais clássico como um palavrão ou a imagem obscena de um órgão reprodutor, bem estranha, mas talvez aquilo tivesse um significado para os bruxos. Mas seus pensamentos foram levados embora quando Arthur sentou ao seu lado, trazendo duas canecas de vidro do tamanho de sua cabeça, cheias de um líquido dourado e espumante. 

–Aqui, vamos brindar.

–Eu sou menor de idade, sabe disso, não é? –perguntou André.

–Pfft –Arthur fez um gesto de “deixa para lá” com a mão –só uma não vai te matar.

–Você não vai ter que dirigir de volta depois?

–Não se preocupe –respondeu Arthur, parecendo um pouco aborrecido, mas o garoto insistiu com seu olhar de preocupação.  

Impaciente, ele pôs sua maleta sobre a mesa, sussurrou outra vez e o cadeado se destrancou, tirou logo da primeira prateleira um frasco de vidro, do tamanho de um saleiro, selado por uma rolha. Continha dentro um líquido branco, cuja consistência lembrava a de um sorvete derretido.

–Poção anti-embriaguez –disse ele sorrindo –eu mesmo fiz essa aqui, tenho um estoque enorme, é só tomar um gole depois de beber e você fica novinho em folha, sóbrio como uma freira. Agora vamos, um drink –ele insistiu, levantando a caneca outra vez.

Os argumentos de André haviam terminado, o garoto levantou a caneca, mais pesada do que ele imaginava, e os dois brindaram. O garoto deu um gole na espuma, que manchou desde seu queixo até a ponta do nariz, quase vomitou. 

–O que é isso? –perguntou com a boca ainda um tanto cheia, não ousava engolir.

–Cerveja amanteigada –afirmou Arthur, que já estava impressionantemente no fim de sua caneca.

–Então é tipo… cerveja com manteiga?

–Por aí –respondeu ele –Gostou?

–Não muito –disse, tentando não soar rude. 

–Bem, se você não for tomar o resto –disse Arthur puxando a caneca de André para perto dele –Você não se importaria se eu…

–Vá em frente –respondeu o garoto, torcendo para que a tal poção anti-embriaguez funcionasse de verdade. 

Em pouquíssimo tempo, Arthur já envia entornado a segunda, o que lhe deixara afim de uma terceira. 

–Ei, eu me lembrei de uma coisa –disse ele quando estava prestes a tomar a quarta, o canto da boca sujo de espuma –eu não te mostrei a minha medalha, você quer ver?

CASTELO BRUXO: A SERPENTE DE FOGO (Livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora