O Abraço do infinito

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O inverno chegou silenciosamente, trazendo consigo uma tranquilidade que Maiara nunca havia experimentado antes. As lembranças de Maraisa ainda estavam vivas em seu coração, mas já não a machucavam como antes. A dor havia dado lugar a uma sensação de saudade serena, e a cada dia que passava, ela sentia mais gratidão pelos momentos que compartilhara com sua irmã.

Ao lado de Luisa, Maiara sentia que o tempo curava feridas de maneiras inesperadas. Não era que o vazio tivesse desaparecido por completo, mas o amor que encontrara novamente lhe dava forças para continuar. Ela começava a enxergar o futuro com menos medo e mais esperança.

Numa noite fria de dezembro, Maiara e Luisa decidiram visitar um lugar especial. O parque onde Maraisa, Lila e Maiara brincavam na infância. A neve cobria o chão, e o mundo parecia calmo, quase sagrado. Era uma forma de honrar a memória daquelas que Maiara amava tanto e, ao mesmo tempo, se despedir de uma parte do passado que, por tanto tempo, a impediu de seguir em frente.

— Está frio, mas é bonito aqui — Luisa disse, segurando a mão de Maiara enquanto caminhavam pelo parque vazio.

Maiara sorriu, sentindo o calor de Luisa apesar do ar gelado ao redor. Cada passo que davam na neve parecia leve, como se o peso que ela carregara por tanto tempo finalmente estivesse se dissipando.

— Sabe, este era o lugar favorito da Maraisa e da Lila — Maiara disse, olhando em volta. — Nós costumávamos brincar por horas aqui, ríamos tanto... — Seus olhos brilhavam com uma mistura de tristeza e alegria.

— Tenho certeza de que elas ainda estão aqui, de alguma forma — Luisa respondeu suavemente.

Chegaram à antiga área de playground, agora coberta de neve. Maiara respirou fundo, sentindo a presença de sua irmã e de sua amiga tão fortemente ali. Fechou os olhos e, por um momento, foi como se pudesse ouvir as risadas delas, leves como o vento frio que soprava ao seu redor.

— Sinto que elas sempre estarão comigo — Maiara disse, abrindo os olhos e olhando para o céu estrelado. — E acho que, finalmente, estou em paz com isso.

Luisa se aproximou e envolveu Maiara em um abraço carinhoso. As duas ficaram em silêncio, apenas aproveitando aquele momento, enquanto os flocos de neve caíam suavemente ao seu redor. Era um momento de aceitação, de amor, e, acima de tudo, de um novo começo.

— Eu te amo, Maiara — Luisa sussurrou.

Maiara sorriu, encostando a cabeça no ombro de Luisa.

— Eu também te amo, Luisa. Obrigada por me ajudar a encontrar o caminho de volta... para mim.

As duas permaneceram assim por um tempo, abraçadas, olhando para o céu, onde as estrelas pareciam brilhar um pouco mais intensamente naquela noite. Maiara sabia que, onde quer que Maraisa e Lila estivessem, elas estariam sorrindo por ela.

Aos poucos, ela sentiu a sensação de libertação. Não era o fim, mas um recomeço, uma nova fase de sua vida onde a dor ainda existia, mas não a controlava mais. Ela viveria por elas, por Maraisa, por Lila, e, mais importante, por si mesma.

Enquanto elas voltavam para casa, de mãos dadas, Maiara sentiu que finalmente havia encontrado paz. As lembranças de Maraisa e Lila sempre estariam com ela, não como fantasmas do passado, mas como fontes de força e amor. O infinito era o limite para seu amor e sua nova vida ao lado de Luisa.

E assim, em meio à serenidade do inverno e à promessa de um novo começo, Maiara soube que estava pronta para o que quer que viesse a seguir.

A neve caía devagar, e o som das risadas antigas ainda parecia ecoar entre os galhos nus das árvores. Maiara respirou fundo, sentindo o frio intenso do inverno misturado com o calor que preenchia seu peito. Era como se cada floco de neve fosse uma lembrança que caía suavemente sobre ela, mas em vez de pesar, elas pareciam leves, quase reconfortantes.

— Às vezes sinto que a vida é como essa neve — ela disse, quebrando o silêncio. — Parece fria e dura, mas quando a tocamos, percebemos que é suave. E mesmo quando derrete, se transforma em algo novo.

Luisa apertou a mão de Maiara mais forte, como se quisesse reforçar sua presença, sua conexão.

— Acho que isso é o que as lembranças são — Luisa respondeu. — Elas nunca desaparecem por completo. Apenas mudam de forma.

Caminharam juntas até um banco próximo ao playground, onde costumavam se sentar quando eram crianças. A madeira estava coberta de neve, mas Maiara a limpou com as mãos e sentou-se, puxando Luisa para o seu lado.

— Lembra de quando fazíamos castelos de neve aqui? — Maiara perguntou, com um sorriso nostálgico.

Luisa assentiu, sorrindo.

— Sim, e você sempre dizia que os castelos eram para as rainhas que iriam governar o mundo — respondeu, com um toque de brincadeira na voz. — Maraisa era a rainha do inverno, e você a rainha do verão.

Maiara riu, sentindo o calor das memórias inundar seu coração. Olhar para o passado já não a enchia de tristeza, mas de uma profunda e terna gratidão. Cada momento com sua irmã e sua amiga tinha sido um presente, uma dádiva que ela carregaria para sempre.

— Talvez, de alguma forma, Maraisa ainda seja a rainha do inverno — ela disse suavemente, olhando para o céu. — E eu estou aprendendo a reinar no verão.

Luisa ficou em silêncio por um tempo, apenas observando Maiara. Sabia que ela tinha passado por uma tempestade emocional tão intensa quanto qualquer inverno rigoroso, e estava orgulhosa de vê-la agora, mais forte, mais serena.

— Você sempre foi forte, Maiara. Mesmo quando achava que não conseguiria, você seguiu em frente. — Luisa a olhou profundamente nos olhos, seu tom cheio de admiração. — E, agora, finalmente vejo você pronta para se abrir para a felicidade novamente.

Maiara sorriu, mas desta vez seus olhos estavam úmidos. Ela piscou rapidamente, tentando conter as lágrimas. Não eram de tristeza, mas de alívio, de aceitação.

— Acho que estou, sim — ela disse com a voz quebrada pela emoção. — Por muito tempo, eu vivi com medo de deixar a dor ir embora, como se isso significasse que eu estaria deixando Maraisa e Lila para trás. Mas agora... agora eu entendo que elas sempre estarão comigo, não importa onde eu vá.

Luisa, tocada por essas palavras, a puxou para um abraço mais apertado, como se quisesse transmitir tudo o que sentia sem precisar falar. Era um momento de pura conexão, de amor que transcendia o tempo e as perdas.

Quando finalmente se soltaram, Maiara olhou ao redor. O parque, a neve, o silêncio... tudo parecia parte de algo maior, de uma harmonia que ela finalmente conseguia enxergar.

— Talvez a vida seja mesmo como a neve — ela disse, levantando-se e segurando a mão de Luisa novamente. — Temporária, sempre mudando, mas cada floco único, especial.

— E, assim como a neve, ela continua — Luisa completou, sorrindo para Maiara.

As duas caminharam de volta para casa em silêncio, mas não era um silêncio vazio. Era o tipo de silêncio que se preenche com o entendimento mútuo, com o tipo de amor que não precisa de palavras.

Naquela noite, enquanto Maiara deitava ao lado de Luisa, ela sentiu uma paz profunda. Não era a ausência da dor, mas a aceitação dela. Sabia que, de agora em diante, poderia carregar Maraisa e Lila em seu coração sem medo de perder quem ela era. Era como se tivesse encontrado um equilíbrio entre o passado e o futuro, e agora, pela primeira vez, estava pronta para viver plenamente no presente.

Adormeceu com o som suave da neve caindo lá fora, e, em seus sonhos, viu Maraisa e Lila sorrindo para ela. Elas não disseram nada, mas Maiara sabia o que significava. Sabia que, onde quer que elas estivessem, estavam em paz, e ela também.

O inverno trouxe o fim de um ciclo, mas também marcou o início de outro. E naquele momento, no aconchego de um novo amor, Maiara finalmente entendeu que, às vezes, o abraço do infinito não é apenas o fim — é um começo.

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Fim.

até o infinito ♾️ - malilaOnde histórias criam vida. Descubra agora