Capítulo 1

0 0 0
                                        

Isabela respirou fundo ao estacionar o carro na entrada da cidade, a luz de um poste próximo iluminando o carro impedindo que ela ficasse nas sombras. A visão das ruas estreitas e das casas de tijolos vermelhos despertou uma mistura de nostalgia e angústia. Fazia anos desde que deixou tudo para trás, mas a dor da perda de sua irmã era uma ferida aberta que não podia ignorar, e essa maldita cidade parada no tempo era como um farol que atraia sua dor, a placa de boas-vindas era a mesma a mais de quarenta anos, pontos de ferrugem corriam a tintura verde e as letras brancas estavam quase desaparecidas.

Ela desligou o motor e ficou alguns minutos parada, observando a cidade que uma vez foi sua inocente casa. As luzes tremeluzentes, o posto de gasolina com um boneco biruta se remexendo na frente, o café no modelo dos anos oitenta, tudo, era como se Brenda ainda estivesse viva — risos, promessas e, finalmente, o silêncio insuportável da falta. Sentindo uma crise de ansiedade se aproximando, ela sai do carro sugando o máximo de ar possível, um vento fresco a envolveu e balançou seus cabelos, mas ao invés de ser calmante como seria em qualquer lugar do mundo só trazia dor, o cheiro da tragédia, de água salgada e decomposição.

Quero vomitar.

Ela se sentou no asfalto sujo sem se importar com a mancha de poeira que ficaria na calça. Trazendo os joelhos até o peito ela escondeu o rosto com as mãos enquanto tentava se tranquilizar, talvez devesse ter seguido o conselho da sua amiga e comprado um cachorro.

Quando finalmente se acalmou, suspirou em alívio ao perceber, ela voltou para dentro da caminhonete, ligando o motor mais uma vez.

— Eu consigo fazer isso, é por ela.

Depois que entrou na cidade ela não se conteve quando o pensamento de dar uma volta para saber o que tinha mudado passou por sua mente. E depois de passar pela única escola fundamental, único colégio e faculdade, mercados e padarias ela percebeu que não perdeu nada ao sair, era um fim de mundo que só servia para lavar o dinheiro da prefeitura.

Mesmo que sua casa fosse perto da única padaria, ela evitava entrar na rua o que só restou ficar dando voltas e voltas pelo bairro mas parou ao perceber uma mãe puxando seu filho para dentro de casa às pressas.

Ela revirou os olhos castanhos para a isso e deu meia volta, já tinha problemas o suficiente para ser denunciada por ficar passeando por aí. Com as sobrancelhas franzidas ela finalmente entrou na rua silenciosa, era um lugar bonito e espaçoso com bastante área verde, mas doía mentalmente e fisicamente estar ali, era como se pudesse ver a si mesma e a sua irmã quando eram crianças brincando, indo para escola, vendendo doces.

Ao parar em frente a casa ela desligou o motor, deixando sua cabeça cair contra o volante.

— É por ela, é por ela. — o mantra era repetido em sua cabeça centenas de vezes desde o momento que saiu do seu apartamento a cinco dias atrás.

Isabela caminhou em direção à casa dos seus pais, enfrentando o lugar onde cresceu como se fosse um tipo de Boss em um jogo, cada passo que dava com suas botas ecoava no asfalto como um lembrete do que havia sido perdido, o laço família quebrado. O coração batia forte, ansioso, e agora acreditava que não verdade devia ter vindo usando roupas pretas ao invés de calça e uma blusa de lá branca.

— Eu não consigo acreditar que finalmente estou vendo você em carne e osso outra vez. — a voz masculina a fez se virar para a direção de onde vinha. — Vai me dizer que não lembra de mim?

Ele saiu para a luz, cabelos pretos como a noite desciam até os ombros, os olhos incrivelmente azuis faziam um conjunto perfeito com seu nariz reto e boca rosada; a pele branca se destacava em meio a roupa escura, uma jaqueta de couro e uma blusa cinza, calças jeans combinando com a jaqueta.

Ecos de uma vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora