Capítulo 2

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Isabela se afastou um pouco, olhando nos olhos de Arthur com a mistura de medo e determinação. O calor do abraço ainda a envolvia, mas a urgência de suas palavras a fazia tremer.

— O que você quer dizer com "não vai sair de graça"? — ela questionou, a voz firme, mas com um tremor subjacente.

Arthur respirou fundo, o olhar se tornando mais sério. Ele sabia que o caminho que estavam prestes a trilhar era perigoso, mas era difícil negar algo para os olhos expressivos que ela tinha, sempre foi.

— A verdade tem um preço, Isabela. Não é só sobre o que aconteceu com Brenda. É sobre o que esse lugar, o que ele faz com as pessoas. — Ele hesitou, a luta interna evidente em seu rosto. — Algumas verdades podem machucar mais do que você imagina, minha querida. — Arthur estendeu a mão e tocou o rosto dela, acariciando a pele aveludada.

Isabela acreditava que o momento de ter medo já havia passado, dias atrás em seu apartamento ela pensava se valia mesmo a pena, mas agora? Ela não iria se afastar, não viajou tantos dias de carro só para contar com o rabo entre as pernas. A memória da irmã, tão viva em sua mente, era um motivo válido do seu ponto de vista.

Sua irmã? Você só está fazendo isso para tirar a culpa dos seus ombros.

O pensamento passou em sua mente, sempre aparecendo quando em momentos importantes, tão maldoso e depreciativo que ela tinha certeza de que se tivesse uma forma física seria parecido com sua mãe.

— Eu não me importo com o preço, só me diga o que você sabe.

Arthur sorriu de forma enigmática, mas a sensação de frustração estava ali, todo o plano mirabolante que ele fez estava sendo jogado por terra porque sua querida estava facilitando tudo.

— Primeiro me responda; você tem um lugar para ficar?

Ele notou como Isabela parou por um segundo antes de perceber o erro que cometeu, a situação causou uma risada em Arthur, diferente dele que vendeu sua inocência para ser o que era, ela ainda era a mesma menina, uma versão mais traumatizada com certeza, mas era.

— Eu pretendia ficar em casa mas acho que tive o suficiente, tenho um saco de dormir no carro, então posso aguentar só hoje e procurar uma pousada amanhã. — a rejeição era algo que ela já estava acostumada vindo de sua mãe, mas depois de tanto tempo algo a fez acreditar que seria diferente dessa vez, afinal era sua única filha agora.

— Nem pensar, não vou te deixar dormir sem segurança e pousadas são caras, não sabemos quanto tempo você vai ficar na cidade. Então fica na minha casa. — talvez ele precisasse tirar alguns quadros e guardar todas as fotos que estavam na parede do seu atelier, mas era por uma boa causa. — Assim podemos conversar melhor sobre nossa investigação.

— Não vou te atrapalhar? — já estava se tornando um fardo para alguém sem nem ter chegado direito, mas era ele que seria sua porta de entrada para o lado sombrio de Ecos, largar o osso não era uma opção.

— Você nunca me atrapalha. Champanhe? — ele perguntou quando o garçom se aproximou com uma bandeja. — Demi-sec, você vai gostar se experimentar.

— Me desculpa mas não posso, eu acabei de chegar e estou um pouco cansada. — talvez se fosse uma taça de vinho ela aceitaria sem pensar muito, mas a bebida espumante simplesmente não lhe caia bem. — Posso ver outros quadros seus?

— É claro. — ele não estava bravo, na verdade já esperava por essa resposta, mas era importante confirmar se alguns pontos em sua pesquisa estavam certos ou errados, afinal uma parte ainda era mera suposição.

Enquanto andavam pela galeria observando a exposição, Isabela notou como as pinturas pareciam criar vida na sua frente, a maioria retratava momentos alegres e outras tinham ações do cotidiano, mas entre elas estavam um único quadro que esboçava tristeza, melancolia, solidão... depressão. A figura em tons de cinza parecia querer sair de seu lugar e vir para o mundo real, os olhos tão expressivos, era como se alguém estivesse na sua frente e gritasse por ajuda.

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⏰ Última atualização: Nov 26, 2024 ⏰

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