Capítulo 1

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Minha história não começa aqui, mas é neste ponto que escolho contá-la. Estava vivendo dias sombrios, momentos que nunca imaginei que teria de enfrentar. A infinidade que eu pensava que a vida possuía se limitou ao tempo que passei com ela, até os meus 24 anos. Sentirei sua falta eternamente. Obrigada, tia, pelo seu amor e compreensão.

— Amor, devemos ir. Você está cansada e precisa descansar. — A voz do meu marido me trouxe de volta à realidade, enquanto ele tocava suavemente meu ombro.

— Só um minuto, querido. — Retirei suas mãos de meu ombro e dei um passo à frente, em direção ao memorial da minha doce tia.

"Apenas pessoas não amadas são esquecidas, e eu continuarei te amando. Sei que não sou alguém fácil; aprecio sua paciência. Desculpe pelo pouco que ofereci, mas acredite, eu pretendia dar tudo aquilo que você merecia. Por você, eu sorriria milhões de outras vezes, se fosse necessário, para não te deixar triste ou preocupada. Você sentirá orgulho de mim, eu prometo. Me visite em meus sonhos, se quiser. Saiba que nada no mundo me fará mais feliz." Coloquei a nossa foto mais recente, aquela de quando passei no vestibular, entre as flores.

— Podemos ir, querida? — Ele falou novamente, sua voz uma mistura de preocupação e carinho.

Dessa vez, não hesitei em sua persistência. Ele abriu o guarda-chuva para mim e segurou a porta do carro. Enquanto ele dirigia, percebi que estava completamente desconectada da realidade. Olhei pela janela, observando os pingos de chuva caírem com um olhar melancólico. Será que o céu também se sentia triste por mim? Eu estava perdendo a única família que tinha. Se ele estava triste, por que não deixou que ela ficasse?

Coloquei as chaves sobre a mesa do abajur no apartamento que dividia com minha tia e me espalhei sobre o sofá. O lugar parecia tão espaçoso de repente, e ao mesmo tempo, tão vazio. Eu era uma colecionadora de memórias, e isso era meio perturbador.

— Eu estava pensando, Hari, em nos anteciparmos em relação ao casamento. — Ele quebrou o silêncio, e a ideia de ficarmos na casa que os pais dele lhe deram parecia quase distante.

— Ethan, precisamos mesmo falar disso? — minha voz saiu mais dura do que eu pretendia. — Não consigo pensar em mais nada, apenas em minha tia. Há um sentimento dentro de mim que está me aniquilando. Como ele podia discutir o futuro enquanto eu ainda estava de luto?

— Hari, você não pode simplesmente parar sua vida por isso. Sei que a amava, mas precisa seguir em frente, não deixar que esses sentimentos negativos te consumam. — Ele parecia preocupado. — E se continuar assim, isso poderá afetar nossa relação.

— Acho que você pode ter razão. Prometo que voltaremos a falar sobre isso em outro momento, não tão distante. Vou ficar bem logo. — As palavras saíram com um esforço, um pequeno esforço de esperança.

— Vou deixar você descansar um pouco. — Ele depositou um beijo suave em meus lábios e saiu pela porta.

Sua fala tinha um fundo de verdade. Nos últimos seis meses, minha vida mudara completamente com as internações dela. Os dias e as noites se arrastavam, e eu carregava a esperança de que ainda havia chances onde não havia mais nenhuma. Era uma questão de deixar ir, mesmo querendo que ela ficasse. Mas, em nenhum momento, deixei de pensar em nós. Mesmo com as mãos cansadas, nunca as retirei para deixar as dele sozinhas a carregar nosso mundo. Não desejava muito, apenas o mínimo de compreensão. E, mesmo isso, me decepcionava.

3 Meses Para Me Amar Onde histórias criam vida. Descubra agora