Capítulo 5

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   Estava a ficar bastante tarde, já passava do meu horário, e nossa caminhada chegava ao fim. Confesso que me sentia mais leve; precisava respirar um pouco fora do meu apartamento.

— Te acompanho até sua casa — disse Ichiro, com um olhar insistente.

— Não precisa, Ichiro. Vou de ônibus, chego mais rápido. E você deixou seu estabelecimento aberto.

— Que isso! Não se preocupe com isso. Minha mãe deve estar lá a qualquer momento.

— Por favor, não. Você já fez demais por mim hoje.

— Então, até o ponto de ônibus? — Ele não desistiria fácil. Não tive outra escolha a não ser aceitar.

— Tudo bem... Até o ponto de ônibus.

— Certo. — Ele sorriu, como uma criança que acabara de conseguir o que queria, colocando as mãos para trás e saltitando ao meu lado.

    Caminhamos em silêncio, apreciando os arredores. A cada passo, sentia a vergonha aumentar. Não acreditava que tinha chorado na frente dele. Geralmente, em situações assim, não me permitiria ser tão vulnerável, mas com Ichiro tudo era diferente.

— Chegamos — ele anunciou, olhando para mim.

— Obrigada, Ichiro!

— Não precisa agradecer. Tem certeza de que ficará bem?

— Tenho sim, não se preocupe. Foi muito bom te ver, de verdade. — Um sorriso sem graça escapou dos meus lábios.

— Posso voltar a vê-la? Poderíamos tomar um café qualquer dia. Ou posso ir até a sua casa.

    Queria deixá-lo saber que não havia espaço para um encontro futuro, mas não seria justo com alguém que se preocupava tanto comigo.

— Aqui está o cartão da clínica onde trabalho. Se precisar, é só aparecer. — Tirei um cartão pequeno da minha bolsa e o entreguei a ele.

— Muito obrigado, minha psicóloga. Tenha certeza de que irei te visitar. — Ele sorriu, guardando o cartão no bolso da camisa.

— O ônibus chegou. Bom... Vou indo, boa noite! — acenei, e ele retribuiu, ainda com um sorriso no rosto.

    Entrei no ônibus um pouco envergonhada, pois ele continuava parado me observando. Mesmo quando me sentei em um dos bancos, ele permanecia ali, acenando como se nunca mais fosse me ver. Retribui discretamente. Apesar de a noite ter sido boa, eu estava de volta à realidade do meu apartamento.
    Cheguei, sentei-me no sofá e tentei ligar o celular, mas ele estava sem bateria. Precisava de um banho. Deixei o aparelho no carregador e segui para o banheiro.

   Após alguns minutos, enquanto secava o cabelo, tirei o celular da tomada e o liguei. Nove chamadas não atendidas e três mensagens. Era meu namorado:

"ONDE VOCÊ ESTÁ? VOCÊ SUMIU, NÃO DEU EXPLICAÇÕES. NÃO CONSIGO FALAR COM VOCÊ. ESTÁ TUDO BEM POR AÍ?" — Ethan.

   Muitas coisas haviam acontecido, e eu só queria dormir, sem dar explicações a princípio. Ichiro estava certo; eu precisava reagir de alguma forma, e uma delas seria voltar ao trabalho.

3 Meses Para Me Amar Onde histórias criam vida. Descubra agora