Capítulo 2

8 6 0
                                    


    Tentei descansar, mas sem sucesso; fracassei em minha promessa. A dor era suficiente para transbordar pelos meus olhos. Sentia tanta saudade dela, e ao mesmo tempo me via como a pessoa mais egoísta por querer que ela continuasse comigo, mesmo em sofrimento. Deitei na cama por volta das 20h30 e, no primeiro cochilo, fui surpreendida por um pesadelo. Foram inúmeras as vezes em que a vi morrer, e em todas essas mortes, não pude fazer absolutamente nada. Esse tormento durou cerca de três dias.

— Anda, me fala o que está acontecendo com você! — disse Ethan, aparentemente irritado com minha conduta, enquanto andava de um lado para o outro, a mão na cintura.

— Sinto muito por não estar sendo suficiente. Queria que me entendesse.

— Eu entendo você! Quem disse que eu não entendo, Hari? Mas olhe para você: não está vivendo, apenas existindo. Eu sei que ela era muito importante para você. Mas e eu? E nosso relacionamento? Caramba! Que droga! — Ele se alterou.

— Poderia me deixar sozinha, por favor? — pedi, quase chorando, mas consegui me conter.

— Depois conversamos. Continue fazendo o que sempre gosta: deixar todo mundo preocupado. — Yumi disse que te ligou várias vezes e a merda do seu celular está desligado.

— Deve ter descarregado. Vou colocar para carregar e ligo para ela logo em seguida.

— Ver se toma um banho, você está fedendo!

— Desculpa, desculpa mesmo! — tentei abraçá-lo, mas ele recuou.

— Não toque em mim. Não sei nem se você lavou essas mãos hoje. — Ele saiu, me deixando plantada no meio da sala.

Devia admitir: eu não estava bem. Deveria ter percebido isso desde o momento em que mal conseguia me levantar da cama e minha casa estava uma bagunça. Yumi, minha melhor amiga da faculdade, estava comigo no último ano do curso de Psicologia. Minha confidente, mas eu não a merecia. Para considerar alguém amiga, era preciso ser, e eu era problemática o suficiente para deixá-la inquieta. E não mentia ao dizer que me sentia mal por isso; me faltavam forças para encarar o mundo fora da minha casa.

Após a bateria do celular carregar, recebi uma mensagem de Yumi:

"Amiga, fico feliz que você aparentemente estava bem. Ethan me disse que esteve aí mais cedo. Estava muito preocupada, não suma mais desse jeito. Sei que é difícil, mas não é impossível de ser superado. Leve o tempo que for para se recompor, mas como ele disse, não demore muito. Queria te pedir desculpas por ter sido ausente nesse período; eu estava tão preocupada com o divórcio dos meus pais que esqueci que você também tem seus problemas. Estou com saudade, você faz falta nas minhas manhãs."

— Me odiava tanto que mal conseguia enxergar onde eu poderia ter errado. Acho que a vida estava me obrigando a voltar.

A comida estava difícil de engolir, principalmente a minha, que era péssima. Pensei que passei tanto tempo nos livros que esqueci dessa parte: para funcionar, eu precisava me alimentar. Também não iria tentar mais nada naquela altura da noite. Optei por comer fora, uma boa oportunidade para sair do meu universo depressivo. Não queria nada sofisticado, então sentei na primeira barraca de comida de rua. Lá vendiam um ensopado maravilhoso; parecia que eu não comia há anos, e, após o primeiro gole, percebi como estava faminta.

— Eu não acredito quem está aqui! Só pode ser uma miragem! — a voz parecia familiar.

— O quê? Ichiro! — exclamei, com a boca cheia de macarrão.

3 Meses Para Me Amar Onde histórias criam vida. Descubra agora