LIGAS 24/25

SUPERLIGA 7 (Camila Brait) +18

"Sabe, agora eu entendo." tirou a perna do meu colo, porém se aproximou de mim.

"Entende o que?"

"Porque todas caem na sua lábia." fui pega de surpresa.

"Espera ai, Camila. Eu juro que eu não estou tentando nada com você. De verdade." me defendi, com medo de que ela estivesse interpretando meus elogios de maneira errada.

"Eu sei e é exatamente esse o problema."

...

Uma vez, ao vivo em uma transmissão de internet, a grande pensadora contemporânea do mundo do vôlei, Ana Carolina da Silva, comentou sobre ter preconceito com homens e deu voz a uma nação de mulheres que realmente estão cansadas de certas atitudes datadas e insuportáveis. Eu era uma dessas mulheres naquele momento. Era incrível a facilidade que alguns caras tinham de simplesmente invadir um momento importante para uma mulher e, como se fosse nada, destruir aquilo com uma discussão idiota. Imagina assistir à mãe dos seus filhos ser extremamente importante para a vitória de virada do time dela, varrendo o fundo de quadra e passando bolas extremamente difíceis, e achar que aquele é o momento para brigar com ela, na frente de todo mundo.

Segurando Alice no colo, bem próxima ao meu peito para que ela não notasse nenhuma movimentação estranha e pudesse brincar com os dois botões abertos da minha camisa, eu observava de longe o que eu achava não ser mais um casal conversando energeticamente. A criança, que agora brincava com meus cachos, sabia de cor cada uma das letras sendo entoadas pela torcida remanescente que embalava o ginásio em festa. Quando eu me distraía tentando entender o que se passava entre Brait e o pai das crianças e parava de cantar, a menina chamava a minha atenção e cantava mais alto. Decidi focar apenas naqueles olhinhos curiosos que me encaravam em forma de convite, me despir de qualquer clubismo que talvez ainda restasse em mim e embalá-la animadamente ao som da versão da torcida de Não Quero Dinheiro do Tim Maia. Alice levou um breve susto quando comecei a rodopiar pela quadra, nos fazendo dançar, porém logo estava rindo, adorando a situação. Mesmo preocupada em entretê-la, não pude evitar ficar preocupada com a expressão odiosa que Camila levava em seu rosto há alguns metros de distância.

Tentava ler os lábios estressados daqueles dois, mas eu nunca fui muito boa naquilo. O homem estava irritado com alguma coisa e apontava em direção à área de jogo, provavelmente fazendo referência à Alice. Num surto de consciência, procurei por Romeu com olhos, para encontrá-lo nos braços de Maíra. Decidi me juntar à ponteira para que os pequenos comemorassem juntos. O pequenino abriu o maior sorriso do mundo ao dar de cara com a irmã e, em sua própria língua, aumentou a cantoria de animação.

Apenas com os olhos, a ponteira perguntou se estava tudo bem e, em resposta, eu apenas dei ombros. Maíra desviou o olhar e encarou a discussão por alguns segundos. Negando com a cabeça, ela deixou clara a sua indignação. Em um sussurro cheio de códigos para que as crianças não notassem, ela reclamou do quão inconveniente ele estava sendo desde que Camila havia entrado com o pedido de divórcio. Neguei com a cabeça, indignada com a situação e torcendo para que a conversa não durasse muito mais. A líbero claramente não aguentava mais ouvir o que era dito em um tom nada amigável. Ponderei se deveria deixar Alice nos cuidados de Maíra e me meter no meio da discussão com alguma desculpa para tirá-la da situação, contudo não precisei. Em poucos segundos, os dois começaram a traçar o caminho em nossa direção.

O homem não foi exatamente gentil nem mesmo rude, apenas indiferente. Pegou Romeo dos braços de Maíra enquanto Camila se despedia da menina que ainda estava em meu colo. Aproveitei para fazer o mesmo antes de largá-la no chão e a pequena aproveitou para me cobrar uma sessão de fotos na próxima vez que nos víssemos. Depois de um aperto de mãos que selava essa promessa, acenei para o menino que agora estava quase caindo de sono nos braços do pai. Mal ouvi a voz do homem nos agradecendo ou mesmo se despedindo. Quando dei por mim, ele já estava longe com os dois filhos.