Não existe namoro na cultura cigana, quando os jovens começam a demonstrar interesse um pelo outro, já é firmado o compromisso do noivado, porém, antes do casamento não é permitido nenhum tipo de contato íntimo entre o casal, ou até mesmo ficar perto um do outro.
Sobre casamentos arranjados depende do clã, os jovens envolvidos podem até recusar, mas não é comum que isso aconteça, pois já são orientados desde criança sobre a cultura e crescem cientes dessa realidade. No caso de Soraia, a situação era diferente, ela não estava rejeitando o noivo por conta de outro cigano, e sim por conta de um gadjô, o que seria uma desonra.
— Tentamos nos afastar, mas nos amamos, será que é tão difícil entender? — ela tentava se explicar à minha frente.
— Sô, você está noiva, se o pai descobre isso aqui estamos perdidas.
— O pai não vai descobrir, eu só vou falar com ele e vamos embora — ela gesticulou, quando o jovem se aproximava.
— Não acredito que me meteu nessa encrenca!
— Não complica, por favor! — pediu manhosa.
— Boa noite — ele acenou, e retribuí com um sorriso fraco.
Quando chegou mais perto eu consegui vê-lo com clareza, Crístian sempre foi bonito, mas agora estava bem mais, perdeu o jeito de menino e se transformou em um homem capaz de deixar qualquer mulher hipnotizada. O jovem tinha por volta de seus vinte e cinco anos, pele clara assim como seus olhos, o cabelo castanho escuro levemente bagunçado caía pelo rosto. Ele vestia uma camisa de fundo azul com estampas pequenas que não identifiquei o desenho, tinha ombros largos e braços fortes. Eu diria que minha irmã tinha um ótimo gosto para homens, só escolheu um que segundo as regras de nossa comunidade que agia de acordo com as tradições, não podia ter.
— Boa noite, amor, a Nat está brigando comigo por eu ter me envolvido com você.
— Natacha? Quanto tempo, eu nem te reconheci.
Ele sorriu, me deixando surpresa, pensei que soubesse que estava indo com ela. Então o outro ser humano do sexo masculino, não estava ali por minha causa, o que me deixou mais aliviada. Aliás, ele permaneceu sentado no mesmo lugar enquanto conversávamos.
— Eu também não te reconheci.
— Amor, eu não posso demorar, estou usando o cavalo do Ivan e ele pode dar por falta — Soraia nos interrompeu.
— Foi um prazer revê-la, o tempo te fez muito bem, está uma bela moça — disse ele, sendo arrastado pela mão.
— Cuida do cavalo — Soraia pediu se afastando.
— Aonde vocês vão? — perguntei, mas não obtive resposta, eles já haviam sumido por entre as árvores.
Amarrei o cavalo em uma árvore, completamente irritada por ter sido colocada naquela situação. Não era apenas sobre o peso da mentira, estava tudo errado ali, e como se não bastasse agora ainda tinha um homem estranho vindo em minha direção.
— Por um instante eu queria ter o poder de soltar raios, assim soltaria um bem no meio da cabeça daquela desmiolada para ver se uma descarga elétrica ativaria seus neurônios — praguejei.
— Oi, moça, quanto tempo! — ele sorriu, parando na minha frente.
— Olha, moço, eu não sei porque está aqui, mas não vou participar dessa... coisa — respondi assustada.
— Desculpe, mas participar do quê?
— A minha irmã não tem juízo, eu vim com ela sem saber de nada, nem pense que vou fazer qualquer tipo de sacanagem contigo.
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Pela força do destino - Entre a razão e o coração
RomanceImagine uma situação onde sua vida se torna um cabo de guerra quando de um lado a razão luta bravamente contra o coração, que do outro não entrega os pontos. Difícil, não é mesmo? Isso pode se encaixar em várias situações diferentes, no meu caso, po...