Capítulo 17: O Príncipe Fugitivo

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A chuva caía em um ritmo constante, suas gotas finas e quase silenciosas preenchendo as ruas de Valoria com uma melodia suave. O céu estava coberto por nuvens pesadas, apagando o brilho habitual da cidade. Eu e Merlin caminhávamos lado a lado, protegidos por nossos guarda-chuvas. O meu, simples e preto, enquanto Merlin flutuava sob uma pequena bolha de energia que repelira as gotas antes que pudessem tocá-la.

— Essa chuva... me lembra dos dias em que eu só ficava olhando pela janela — comentei, deixando a mente vagar, nostálgica.

— [Você parece estar gostando.] — Merlin girou suavemente ao meu lado, seu balão de fala aparecendo com uma leve animação. — [O som é agradável, não é?]

— É — concordei, observando as gotas que caiam do céu. — É como se o mundo estivesse mais tranquilo.

Enquanto andávamos pelas ruas de pedra, a chuva refletia a luz das poucas lâmpadas ainda acesas. Poucas pessoas caminhavam por ali, a maioria preferia se refugiar em suas casas. Contudo, conforme avançávamos por uma viela mais estreita, algo chamou minha atenção.

Em uma esquina escura, sob um toldo mal posicionado, havia um garoto. Seu corpo estava encolhido, os joelhos dobrados contra o peito. Cabelos vermelhos, pesados pela chuva, escondiam parte do seu rosto. Ele parecia exausto, quase derrotado, e as roupas que usava estavam claramente desgastadas e inapropriadas para o tempo frio.

— Aquele garoto... — murmurei, instintivamente parando de caminhar.

Merlin se aproximou um pouco mais, também notando a figura.

— [Ele parece estar sozinho...] — observou com uma curiosidade cautelosa.

Eu hesitei por um momento, pensando no que deveria fazer. A chuva caía pesadamente ao redor dele, e ninguém parecia prestar atenção, embora tivesse algo estranho no ar. Olhei para as poucas pessoas que passavam pela rua. Algumas lançavam olhares furtivos para o garoto, rapidamente desviando o olhar, mas não antes de eu notar a expressão de preocupação ou desconforto em seus rostos. Um homem, em particular, apertou o passo ao passar por nós, franzindo o cenho ao me ver parado ali, como se quisesse me avisar de algo, mas permanecendo em silêncio.

Algo definitivamente não estava certo, mas não era como se eu fosse ignorar isso. Me aproximei do garoto, inclinando-me ligeiramente para que ele pudesse me ouvir acima do som da chuva.

— Ei, você está bem? — perguntei.

Ele levantou a cabeça devagar. Seus olhos, de um vermelho rosado incomum, me encararam por um instante antes de desviar o olhar novamente, como se estivesse relutante em responder. Parecia hesitante, mas também com um toque de... desespero.

— Eu... — ele começou, a voz fraca e quase apagada. — Estou... só procurando ajuda... só por um tempo.

Suas palavras soaram distantes, quase como se fosse um pedido de socorro que ele não tinha coragem de expressar plenamente. Havia algo estranho naquele pedido, mas talvez fosse apenas o desespero de alguém que estava nas ruas há muito tempo. Merlin me observava em silêncio, e eu sabia o que ela estava pensando. Ela era boa em ler as emoções de outras pessoas.

— Precisa de um lugar para ficar? — perguntei, ignorando o desconforto no ar. Era uma decisão quase instintiva.

O garoto me olhou mais uma vez, seus olhos mostrando uma mistura de orgulho ferido e uma desesperança profunda. Ele assentiu levemente, sem dizer mais nada, e se levantou com um pouco de dificuldade. Ao ver isso, aproximei meu guarda-chuva dele para protegê-lo da chuva que caía incessantemente.

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