Dentro dos limites do castelo, a rainha-mãe foi tomada por pura raiva ao não ver o filho retornar no horário que ela queria — já que se dependesse dela, ele sequer teria saído naquele dia. Na sala do trono, sentada com autoridade em um frio trono dourado, Drawina suspirava fundo em intervalos procurando se acalmar, enquanto os olhos escuros pareciam fogo em brasa.
Os dois soldados pararam frente a monarca após atravessarem o grande tapete de veludo púrpura.
Aquele salão era imponente.
Grandes cortinas com o brasão da família Lyon pendiam ao lado dos janelões de vidro, enquanto o mármore negro no chão refletia a luz que entrava, contrastando com as paredes de pedra branca talhada. Tudo naquele lugar exalava poder e controle, mas a fúria que dominava a rainha era palpável: o ar parecia pesar uma tonelada.
O aspecto sério e mais maduro da rainha assustava a maioria da corte, pois os traços marcados com algumas rugas eram ainda mais reforçados quando ela estava irritada. Os fios castanhos-grisalhos dançavam curtos sobre os ombros — como as serpentes da Medusa — quando ela, enfim, torceu os lábios em um bico insatisfeito.
— Onde está Drucari?
A voz de Drawina ecoou alta pela sala e soou tempestuosa como um trovão.
— Cavalgando nas montanhas ao sul, Majestade.
A rainha se ergueu do grande trono devagar. O vestido roxo era longo e desenhava sua autoridade a cada movimento, fazendo as bordas douradas arrastarem-se pelo chão de granito sombriamente como se fossem a cauda de um animal peçonhento. Então, quando estava há poucos centímetros de distância do guarda... estreitou os olhos.
Mau sinal.
— Por que não o trouxeram de volta ainda?
O soldado curvou-se ainda mais quando viu a mulher de meia idade começar a se aproximar, tentando desviar-se do olhar inquisitor da monarca e ganhar algum tipo de simpatia mostrando servidão.
Mas tal gesto não serviu para apaziguar a ira da rainha.
Os olhos da rainha atingiram as costas do homem por breves segundos como se pudessem furá-las e, em um movimento rápido, ela puxou a espada do soldado, retirando-a da bainha enquanto colocava a ponta da lâmina na nuca masculina logo em seguida — como um claro sinal de ameaça.
— Façam buscas e encontrem-no. Agora. Se não o fizerem dentro de uma hora, serão condenados por deslealdade à coroa.
A monarca soltou a espada no chão de qualquer jeito, fazendo um barulho metálico e incômodo ecoar pelo grande salão, repentinamente. O soldado, no entanto, sequer se moveu, tremeu ou hesitou, permanecendo inclinado em reverência junto com o outro na intenção de não confrontá-la ainda mais.
— Voltaremos com ele o mais rápido possível, Majestade.
Drawina deu as costas e voltou a caminhar sem pressa para seu trono, mantendo a aura pesada sobre o ambiente quando sentou-se novamente, encarando a dupla como se quisesse matá-los com as próprias mãos.
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O INFINITO NOS TEUS OLHOS
Historical FictionEm 1678, a monarquia de Itshire era fria e arrogante. Os Lyon não se importavam com os plebeus de suas terras e estes eram reduzidos a meros pagadores de impostos ou servos da corte. ⠀⠀⠀⠀⠀⠀Mas Drucari era diferente. Príncipe, chefe da guarda e com u...