Drucari fez uma breve reverência diante da mãe com um gesto calculado e frio, pois a recente discussão em seus aposentos ainda pulsava em sua mente. Em seguida, posicionou-se ao lado do trono suspirando fundo de maneira discreta e passou a observar a corte como um estranho em seu próprio reino.
Os nobres eram cansativos de olhar.
Mas uma figura especial chamou-lhe a atenção.
— Aquela é Adassa, filha de Henry? — Dru questionou enquanto observava a moça à distância, vendo o momento exato em que o irmão mais velho beijava o dorso da mão feminina.
— Sim — a monarca respondeu sem encarar o filho, observando a jovem com uma ambição quase predatória —, ela é divina, como um presente embalado especialmente para nós.
O príncipe reprimiu um suspiro e revirou os olhos ao ouvir o tom manipulador da mãe. O comportamento de Dravori também não passava despercebido; sua tentativa forçada de ser carinhoso parecia uma peça mal ensaiada.
No fundo, Drucari percebeu-se um pouco irritado com toda aquela cerimônia e os trejeitos tanto da rainha-mãe quanto de seu irmão. Extremamente pegajosos e enganadores, pareciam dar voltas ao redor de Adassa como se fossem gaviões caçando um coelho, e, pela forma como se dirigiam à jovem — a mãe com uma adoração assustadora e Dravori com gestos de afeto exagerados —, podia afirmar que era um grande plano da dupla para tentar conquistá-la até aprisioná-la em uma gaiola dourada, como haviam feito com ele.
Era insuportável.
Sentindo-se impotente diante da situação e com uma raiva crescente, o mais novo resolveu relembrar os dias justos do reinado de seu pai, Deckard Lyon, na intenção de buscar um refúgio de paz um tanto nostálgico.
Bons tempos, agora distantes.
Naquela época, as decisões eram tomadas com justiça e Drucari era mais participativo, uma vez que era apegado ao pai e se tornara o filho favorito deste, pois parecia-se muito com o genitor tanto nas qualidades quanto nos defeitos. Na maioria de seus dias, o rei era sensível e usava o coração como centro de suas escolhas, tratando a corte com dedicação e carinho. Inteligente, Deckard fazia questão de ouvir tanto os plebeus quanto os nobres, promovendo concursos e torneios que destacavam as virtudes de todos, independentemente de suas origens.
Mas isso foi antes.
Antes de Drawina Lyon, ambiciosa e maligna, começar a interferir nas decisões do rei usando o amor que ele sentia como uma arma.
Após um atentado orquestrado pela própria monarca junto aos nobres — envolvendo sequestro de Drawina com risco de morte —, Deckard Lyon foi ameaçado e recuou no andamento dos projetos promissores que tinha (e envolviam o trabalho conjunto de nobres e plebeus), passando a favorecer apenas a classe rica, de forma que quem fosse rico ganhasse mais dinheiro ainda.
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O INFINITO NOS TEUS OLHOS
Ficción históricaEm 1678, a monarquia de Itshire era fria e arrogante. Os Lyon não se importavam com os plebeus de suas terras e estes eram reduzidos a meros pagadores de impostos ou servos da corte. ⠀⠀⠀⠀⠀⠀Mas Drucari era diferente. Príncipe, chefe da guarda e com u...