O estúdio de gravação Hot Music estava silencioso, tirando a respiração pesada do jovem que folheava uma de suas inúmeras pastas desgastadas, o som das folhas cobertas por um plástico barato ecoava contra as paredes e passavam pelos instrumentos de aparência exagerada.
- Em um mundo dramático eu vejo você... Isso está… eu nem sei o que é isso! - o rapaz falou alto, fazendo o som ecoar pelo lugar que já não parecia tão silencioso, logo em seguida, jogando as folhas em suas mãos em direção ao chão.
- O que é isso, Eros? - uma voz aguda e estridente penetrou de forma agressiva em cada ponta daquele lugar, e atravessou os ouvidos do rapaz como uma flecha, fazendo-o enrugar a testa.
- O que foi? - perguntou inocentemente.
- Comece a falar! - ordenando, a mais velha esfregou o celular no rosto meio pálido do filho. Na tela brilhante havia uma matéria fresquinha em um dos blogs mais pesquisados no mundo do kpop, o Blue Bee, com o rosto do mais novo estampado no artigo.
- Até que eu fiquei bonitinho na foto... E como você leu, vou tirar umas férias... Por tempo indeterminado, eu acho - deu de ombros e voltou a encarar as folhas espalhadas pelo chão coberto por um tapete vermelho que parecia não ser lavado a muito, muito tempo.
- Sério? Infelizmente não pode começar a viver sua vida de comediante, filho - a mãe do rapaz ironizou com uma carranca nada agradável no rosto.
- Filho? Se eu não pagasse o seu salário, teria... Não sei... Me vendido! - falou levantando-se; ele sabia que não valia a pena discutir sobre aquilo.
- Você vai desperdiçar o seu talento? - esbravejou passando as mãos magras pelo cabelo platinado.
- Vou - disse com uma determinação falsa que só ele sabia, enquanto atravessava a porta e seguia em direção à saída, sem olhar para trás.
Talvez todos tenham algum tipo de crise, mas depois dos vinte e poucos anos, ela aumenta, e como aumenta. As pessoas entram num colapso mental coletivo, e passam a criar uma lista de afazeres antes dos 30, e o Park Ji-Ho não estava agindo diferente.
Músico, compositor... O Eros, nome artístico escolhido pelos seus pais, decidiu viver sua "rebeldia" incubada pela adolescência e infância turbulenta, agora com seus 25 anos. Depois do falecimento de sua avó, seu espírito subversivo acordou, ressurgiu da cinzas como ele acabara de pensar enquanto estava tentando expulsar seu motorista de trás do volante.
- Ela já surtou... E me deixar dirigir esse carro não vai matar a senhora Park… Por favor, senhor... Não faço ideia de qual seja seu nome - O asiático deu um sorriso amarelo enquanto arqueava as sobrancelhas, esperando o senhor de idade sair do carro. - Prometo aumentar seu salário… Só... por favor, sai daí - ainda com receio do que viria adiante, o motorista saiu e deu lugar ao mais novo que entrou no carro saltitando.
O coreano estava no auge de sua carreira, seu rosto era esbanjando em cada esquina do mundo. Sua voz sempre fazia-se presente como trilha sonora dos melhores filmes; milhões de fãs banhavam os estádios para os seus shows, mas em algum momento, as letras das músicas se tornaram banais, e absolutamente tudo virou uma rotina macabra de entrevistas, sorrisos robóticos e acenos repetitivos para paparazzis.
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O ECO DOS SONHOS "PERDIDOS"
Storie d'amoreEm busca pelos sonhos perdidos e seu "eu" original, Park Ji-Ho deixa para trás sua carreira de astro do kpop, seguindo em direção ao Colorado, em busca do desconhecido, e lá está ela, Amelie Hunter, a pessoa mais notável que seus olhos já encontrara...