Carta 1 - Pupila

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"Depois que nossos caminhos se cruzaram, ficou difícil viver normalmente, imagino cenas repetidas vezes na minha cabeça torcendo para que meus sonhos se tornem reais algum dia, torcendo para que você veja o quanto nós combinamos juntos.

Mas como eu olho nos seus olhos e digo que gosto tanto assim do seu cheiro, da cor do seu cabelo e das suas piadas sem graça todo dia de manhã?

Você faz minha pupila dilatar todos os dias."

- João :)

POV JOÃO.

É tão engraçada a maneira que a vida funciona. Conheci Pedro ainda na escola, lá em Américo Brasiliense e desde essa época somos inseparáveis. Eu sempre tive um carinho gigantesco por ele e a nossa amizade sempre significou demais pra mim.

Eu e ele compartilhávamos sonhos, e conseguimos cumprir alguns deles como por exemplo, a faculdade. A tão sonhada faculdade, onde largamos o interior pra trás com a cara e a coragem para cursar publicidade e propaganda em uma das maiores universidades do estado, a USP. Nossos amigos, assim como nós, também vieram, mas não estamos mais na mesma turma, e a maioria sequer no mesmo curso. Porém seguíamos eu e Pedro juntos, e agora não só dividindo a mesma turma como também a mesma casa.

Passamos tanto tempo juntos que foi meio inevitável eu me apaixonar por Pedro. Mas mesmo com anos de amizade, compartilhando sonhos e morando juntos, eu me recusava a contar pra ele como eu me sentia. Então desconto tudo o que sinto e penso em cartas de amor que escrevo em meu caderno e guardo como se minha vida dependesse disso.

O dia hoje estava quente, os termômetros marcavam cerca de 30 graus, os alunos caminhavam pela faculdade à procura de sombra e um momento para relaxar antes de voltarem aos afazeres de todo estudante.

Eu não tinha tempo para descansar agora, precisava devolver um livro que o professor havia me pedido na semana passada, eu sempre devolvo os livros no mesmo horário e é pra lá que meus pés seguem de forma quase automática.

Meu celular tocou, o nome de Pedro apareceu na tela e sei que ele estava à minha procura para que fôssemos almoçar juntos, como prometido antes por mim. Suspirei lendo o nome, observando sua foto de perfil por longos segundos antes de finalmente atender.

— Alô? - Pedro é o primeiro a dizer. — João, onde você está?

— Estou na biblioteca, , onde você está?

— Te esperando para irmos almoçar, né? Esqueceu que combinamos e era você que pagava?

— Ah... não, não esqueci. — Deixei uma risada leve escapar, negando com a cabeça. — Eu só preciso devolver um livro e já vou, tudo bem?

— Tudo bem. Eu te espero então, até depois, .

— Até.

E assim nossa ligação se encerra, deixando uma linha muda em seguida.

Voltei meu foco ao que eu estava fazendo, passei pela porta da biblioteca e caminhei devagar até a bancada principal, onde a bibliotecária muito conhecida por mim estava com um sorriso radiante, sempre muito empolgada ao me ver.

Dona Laura não era tão mais velha, ela tinha em torno de seus cinquenta anos, cabelos loiros escorridos até os ombros e um óculos com a armação redonda nos olhos.

— Bom dia, dona Laura. - Cumprimento, colocando minhas mãos em cima da bancada. — No mesmo horário de sempre, viu? - Brinquei após uma brincadeira que ela havia feito na semana passada, quando vim pegar o livro.

— Bom dia, meu anjo. - Disse sorridente, como sempre. — No fundo eu sabia que você iria cumprir o horário como sempre.

— É óbvio, eu sempre devolvo no mesmo horário. - Abri minha mochila para retirar o livro de dentro dela, entregando para a mulher que começou a digitar algo no seu computador.

— E seu amigo? Faz um tempo que não vejo ele.

— O Pedro? Ele está me esperando para almoçar.

— Diz para ele aparecer mais - Ela diz e me dá um sorrisinho simpático, terminando de digitar no computador e me olhando. — Tudo certo, meu anjo, até a próxima!

— Até a próxima dona Laura - Digo me despedindo e vendo ela levantar pra ir guardar o livro em seu devido lugar.

Antes de ir finalmente encontrar pedro para irmos almoçar, passo no banheiro rápido e por fim vou para o portão da faculdade. Chegando lá não encontro Pedro em lugar algum, então espero ele onde geralmente nos encontramos, abro minha mochila para organizar um pouco da bagunça que estava e encontrar minha carteira que estava tacada em algum canto dela. Começo a organizar, mas percebo que algo está faltando, e após revirar ela todinha começo a me desesperar.

— Caralho... - falo ainda vasculhando a mochila - Não... não, não, não é possível que eu tenha perdido logo isso! - Suspiro frustrado me dando conta que de tudo que eu carregava na mochila, eu fui perder logo o meu caderninho onde eu escrevia as cartas.

Fecho a mochila levemente alterado, pensando incessantemente onde eu possa ter esquecido e torcendo muito pra ninguém ter encontrado até que sinto meu celular vibrando em meu bolso. Pego ele e vejo se tratar de uma mensagem de Pedro.

"você deixou cair, bocó"

Com uma foto embaixo do meu caderninho. Suspiro aliviado até lembrar que a pessoa que encontrou era justamente o remetente de todas as cartas escritas nesse caderno.

"vem logo bobão, se não eu não pago almoço nenhum"

Respondo tentando parecer calmo mas entrando em colapso por dentro, com meus pensamentos a mil bombardeando minha cabeça com a mesma coisa: "ele sabe o que você sente". Fudeu.

Notas:

Nós estávamos muito animadas pra lançar esse aqui e finalmente chegou a hora!

As atualizações vão acontecer toda terça e quinta, qualquer mudança avisamos vocês com antecedência nas notas do perfil ou no bluesky (nos sigam!)

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