0 - Convite

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— É só chupar, Porchay. É fácil — Macau diz, não tirando os olhos de mim enquanto me observa de cima. Ele sempre torna todo e qualquer problema com muita facilidade.

— Mas o gosto é ruim. — Não contenho uma careta.

— É o que temos para hoje. Apenas coloque na boca e chupe. É gostoso. Anda, chupa, vai.

Suspiro e então coloco na boca, passando a língua pelo local rosado. Tinha que admitir que aquilo era viciante, mesmo que o gosto não fosse o meu favorito.

— Isso... Viu como é gostoso? Parece que nunca chupou um pirulito antes. — Macau se recosta no muro e coloca seu pirulito na boca.

— Mas você sabe que eu detesto tutti frutti, Cau — resmungo, vendo o doce ser tirado das minhas mãos. — Ei, me devolve!

— Se você está reclamando do gosto, eu chupo de boa. — Dá de ombros e leva o pirulito até sua boca, causando nojo em mim. — Quer de volta?

— Você é um nojento. Nem ferrando eu colocaria isso na minha boca de novo. — Levanto-me, ainda pasmo com a situação.

— Como se nunca tivéssemos trocado saliva ou chupado coisas piores juntos.

Dou-lhe um leve empurrão enquanto rio, para então cruzar meus braços e me recostar ao seu lado. É sempre assim nos intervalos. Costumamos ficar no corredor enquanto encaramos os gatos do curso de engenharia e música passarem por nós. E não posso negar o quanto isso me anima muito. É assim que escolhemos quem será o próximo a dormir com a gente.

Sim, nossa amizade consiste em chamar caras para transar conosco. É bom ter esse tipo de amigo com quem posso contar em todas as horas (até nas de sexo). É ainda melhor ter Macau como um P.A. (famoso pau amigo), e isso não atrapalha nossa amizade de forma alguma. Muito pelo contrário; só nos torna mais próximos.

— Quem sabe aquele ali não tope transar com a gente? — Macau aponta com a cabeça para um rapaz do curso de engenharia.

Ele tem o cabelo loiro e olhos claros. Certamente é o tipo de cara com quem eu adoraria passar a noite, mas desta vez não me sinto atraído. Não entendo o motivo para meu interesse por um cara bonito como ele estar nulo, mas deixo de lado. Dou de ombros para meu melhor amigo ao meu lado, vendo-o suspirar.

— Quero algo diferente dessa vez — falo ao descruzar os braços. Meus olhos brilham assim que avisto meu alvo de longe, caminhando com uma bolsa sobre o ombro direito. — Quero ele.

— Quem? O Kimhan? Sabe que ele é um metido e ainda por cima homofóbico, né? Ele nunca vai topar transar com a gente.

— Se lembra de quantos héteros já transaram com a gente?

— Eu sei, mas... Sei lá. Ele é todo irritadinho e arrogante. Duvido que aceite nossa proposta.

Abro um sorriso malicioso, encarando Kim de longe com alguns amigos. Respiro fundo e ajeito minha postura antes de me afastar de Macau.

— Aonde você está indo? Ei! — ele chama por mim ainda recostado no muro, com o pirulito em sua boca.

— Indo garantir nosso final de semana. Nos vemos na aula. — Aceno com uma mão e caminho na direção do estudante de música.

Não sei exatamente o que dizer para convencê-lo a transar comigo e com Macau, mas tenho certeza de que irei conseguir meu "Sim". Porque eu só paro quando o tenho em minhas mãos, o que geralmente não é muito difícil. Basta saber o que falar e como falar.

Vai dar tudo certo. Estou sentindo isso.

Confiante, paro de frente para Kimhan e seu grupo, que deixam de andar para então me encararem com estranheza. Pelos seus olhares, parecem que estão olhando para um alienígena, o que me incomoda até certo ponto, mas ignoro-os para dizer:

— Kim?

— Sou eu — ele fala num tom ríspido, ajeitando a mochila no ombro esquerdo. — O que quer comigo?

— Quero falar com você. A sós, de preferência. Ou, se quiser, posso falar na frente deles. — Abro um sorriso malicioso e encaro-os de cima a baixo. Ajeito meus cabelos e minha postura, para aguardar sua próxima fala.

— Sabendo o seu tipo, prefiro que seja a sós. Vejo vocês depois — ele fala para os amigos, que devolvem meu olhar de cima a baixo, e tenho quase certeza de que um deles em específico gostou do que viu (e como não gostar, não é mesmo?). Aguardamos que todos se afastem para continuarmos o diálogo. Kim cruza seus braços e adota uma expressão séria no rosto. Assim, ele continua: — Seja rápido. Eu não tenho o dia todo.

— Tudo bem, gato. Vou ser mais rápido que você na cama. Bom, me chamo Porchay e aquele ali é meu melhor amigo Macau. Somos do curso de arquitetura, e queremos saber se você gostaria de se divertir com a gente nesse final de semana.

— Como assim "me divertir"?

— Você sabe... Só nós três, muita bebida e entre quatro paredes. O que acha?

Seus olhos se arregalam e passam a me julgar, tal coisa já esperada. É sempre assim no início.

— Você tá achando que eu sou o quê? Um boiola igual a vocês dois? Tá tirando uma com a minha cara? — Parte para cima de mim, empurrando meu peito com as duas mãos.

Macau começa a se aproximar preocupado, mas impeço com a mão, indicando que fique onde está. Sei lidar com isso sozinho. Por isso, mantenho a calma e encaro Kim com naturalidade, já que meu convite não foi esse absurdo todo quanto parece para ele. Héteros sempre agem assim ao ouvirem de primeira, mas aceitam depois. E é o mesmo que vai acontecer com ele agora.

— Calma, gato. Só quis fazer um convite na boa. E é tudo no sigilo, então não precisa se preocupar com o resto. A bebida e a diversão são por nossa conta.

— Acha que sou uma vadia oferecida igual a vocês que aceita tudo o que propõem? Tá de sacanagem comigo? — Ele torna a me empurrar com força, fazendo-me cair no chão.

Rio fraco ainda caído, mas não demoro a me levantar e limpar minha calça. Agora, ele está testando minha paciência.

— Escuta aqui, eu vim pacificamente perguntar a você. Mas, se encostar em mim mais uma vez, não prometo te deixar inteiro — falo seriamente.

— E você vai fazer o quê? Me bater? Você, pequeno e fraco desse jeito?

— Posso te assegurar que o que eu não tenho de tamanho, tenho de força. Então experimenta me empurrar mais uma vez. Anda, quero ver se é machão de verdade. — Desta vez, peito-o.

— Calma aí, gente! Por favor — Macau corre na nossa direção e nos separa, abrindo um sorriso amarelo. — Kimhan, certo? Então, desculpe pelo convite inusitado. Entendemos se não quiser sair com a gente. Vamos fingir que essa conversa nunca aconteceu, pode ser? Desculpa o incômodo. Vamos, Porchay.

Ele me puxa pelo braço, mas não deixo de falar alto enquanto me afasto de Kim:

— Na próxima, eu quebro todos esses dentes ridículos e te como na porrada, tá me escutando? Não vou deixar barato, e você ainda vai aceitar meu convite. Só tá fingindo que não quer. Heterozinho de merda!

— Chay! Fica quieto! — Macau ordena, tampando minha boca enquanto ainda profiro palavras de baixo calão contra Kim. Isso me cala na mesma hora. — Você por acaso enlouqueceu de vez?! Querendo arranjar briga logo com ele?!

— O que é que tem? Ele certamente perderia.

— E os amigos dele?

— Acabaria com todos, um por um. É fácil — digo convencido, arqueando minha sobrancelha para ele. Em resposta, recebo um leve empurrão.

— Você é um palhaço, sabia?

— Sou mesmo, mas também sou inteligente, e já sei o que fazer pra conseguir um Sim dele. Só que, pra isso, preciso das minhas fontes.

— Que fontes? O que pretende fazer, Chay?

— Você vai descobrir amanhã. Agora vamos. — Sorrio maliciosamente, decidido a infernizar a vida de Kimhan até ele descobrir que o Hétero na testa dele é com H de Homossexual e que quer tanto quanto Macau e eu essa transa a três.

É simples. Apenas preciso saber mais sobre ele, e sei muito bem onde (e quem) encontrar para isso.

HÉTERO COM H DE HOMOSSEXUAL || KIMCHAYCAU [+18]Onde histórias criam vida. Descubra agora