Heloísa-Na mãe seguinte acordo primeiro que todos e desço as escadas com cautela, eu não queria participar do café da manhã em família.
Saio de casa com a ventania fria da manhã, fecho a porta e caminho até o portão branco da frente. Ao abrir e sair para fora do outro lado da rua posso ver um carro preto parado, um homem alto de calos negros está fumando, a fumaça é levada pelos ventos, posso reconhecer ele, é Nataniel, conheço pela mão tatuada.
Sua cabeça se vira assim que a porta do passageiro se abre, a cabeleira bagunçada loira sai de dentro. Com um vestido preto e os saltos na mão a menina bate a porta e fica na frente de Nataniel, posso ver os braços se ajeitarem em seu pescoço e colar os lábios nele.
Tento caminhar, mas algo prende meus pés no chão. O vento leva meus cabelos e meus pelos se arrepiam.
Nataniel gruda a mão na bunda dela, enquanto a outra trata de estar presa ao pescoço. Consigo ver quando ele abre os olhos e me encara.
Minha barriga parece ter borboletas, quero vomitar. Minhas mãos esfriam e tento me mexer. A menina para o beijo com um longo selinho e ele continua a me olhar, a loira vira a cabeça em minha direção e franze as sobrancelhas ao me olhar.
Pisco várias vezes, me recomponho e tomo meu caminho para a escola.
Quero me matar agora, a vergonha me faz tremer, quero desaparecer por alguns minutos. Aquela sena foi tão...
Nataniel beijava a menina sem pudor nenhum, será que eles agiam transado dentro de seu carro? Será que aquela era sua namorada e ele tinha a trazido para passar alguns dias com a gente?
Eu não poderia aguentar, mais pessoas dentro de casa. Se isso acontecesse eu não sairia nunca mais do quarto, eu me lembraria sempre do beijo dos dois ao lado de fora de casa e não conseguiria olhar eles.
Ao chegar na escola tento ocupar minha mente na aula de português, copio a matéria e converso com Érika sobre o encontro que ela quer me arrumar, e isso consegue ocupar minha mente.
— Olha, sei que nunca namorou e nunca ficou com ninguém, mas quero que tente conhecer alguém poxa, nem que seja apenas para conversar. — Ela tenta me convencer. Hoje ela não usa a tiara de pérolas, os dois tik taks que formam um laço cor de rosa prendem o cabelo para trás. — Se não quiser ir eu entendo, mas quero muito que esteja lá. Sério mesmo.
— Posso pensar no caso.
Realmente eu pensaria, seria mais uma coisa que eu poderia fazer para sair de casa e não ficar trancada no quarto. Posso ocupar minha mente com outras coisas e chegar tão tarde que todo mundo em casa já esteja dormindo.
Talvez seja uma boa ideia. Posso conhecer alguém legal também quem sabe.Aproveito Érika pra voltar pra casa com ela. Assim que cheguei fui logo para a cozinha procurar o que comer, ontem não desci pra jantar novamente depois do que rolou, acabei ficando com fome.
Corto algumas misturas que estavam na geladeira e coloco na frigideira, preparo as carnes logo para depois colocar o molho.
Enquanto preparo a comida, faço um suco para acompanhar e não em deixar com fome.
O cheiro esta bom, concentrada ali no fogo preparo tudo com atenção.— Gosta de cozinhar? — A voz grossa me assusta, levanto minha cabeça vendo o homem em minha frente, com os cabelos molhados e a toalha branca enrolada na cintura, consigo ver os pintos de água em seu peito.
As tatuagens estão mais expostas, a tatuagem do peito é uma serpente e consigo ver mais rabiscos ali. Ele é completamente tatuado, os pingos de água escorrem e faz com que ele fique sex de um jeito que...
Assim mito em seus olhos cor de mel, posso ver a maneira como me olha. Parece que ele quer penetrar minha alma, me sinto nua ao seus olhos. Consigo reparar mais nele agora, ele tem o maxilar bem marcado, os lábios são carnudos e rosados, tem uma tatuagem pequena ali, ao lado dos olhos que não reparei antes, não consigo identificar, está longe demais.
— Gosta de cozinhar? — Seu tom de voz parece ser mais alto agora, o que me faz sair do transe.
— Gosto. — volto a olhar a frigideira, a mistura está no ponto agora. Desligo o fogo e despejo o molho.
— Acabei de tomar banho, não sabia que tinha alguém em casa.
Me vira para pegar o prato no armário.
— Tudo bem. Eu cheguei agora. — Respondo de costa, fazendo o máximo para não ter que olhá-lo de novo.
Meus pelos estão arrepiados, minha barriga parecer ter um turbilhão de borboletas e sinto um incômodo na boceta.
— Me desculpe por ontem. — A voz parece estar mais próxima, mais grossa, perto demais. — Não queria te assustar.
Não me viro, confirmo com a cabeça e me mantenho ali tentando conter as emoções.
Depois do que parecer ser uma eternidade tomo coragem para me virar e não o encontro ali.
Com isso mais calma consigo almoçar, mas ainda o imaginando.