Augusto entra na sala já retirando sua gravata apertada, suspirando pesadamente sentindo o cansaço do dia sobre os ombros. O alfa sentou no sofá a disposição, e ao olhar para sua frente teve a confirmação de que o dia seria péssimo. Sua expressão ficou séria, e o ar mais pesado. Do outro lado da sala, no sofá a frente, seu pai estava sentado esperando.
— O que aconteceu? — Augusto pergunta, querendo que o diálogo fosse o mais breve possível.
Pousando seu copo de whisky no aparador ao lado, o homem mais velho sorriu contrariado e disse:
— Não posso fazer uma visita casual no território do meu filho mais velho?
Augusto riu, olhando para sua direita, não acreditando nas palavras saídas da boca do alfa mais velho. Ele pegou seus cigarros e esqueiro do bolso do blazer.
— Ah, tá bom — Fala Augusto, logo acendendo o cigarro nos lábios — Então cadê o papai?
— Ele não pode vir.
— Não pode vir ou você não quis que ele viesse? — Soprando a fumaça, o filho pergunta, olhando para o pai com raiva.
— Aqui é seu território.
— Isso não quer dizer nada. Ele é meu pai!
— Ele é meu omega! — O homem mais velho se exalta, apontando o dedo na cara do filho — E se você quiser vê-lo vai ter que nos visitar, no meu território.
— O que? Eu não vou tentar marcar o meu próprio pai, seu velho imbecil, nem tem como! Caralho,
— A questão não é essa, você tem que respeitar o jeito que as coisas são, ele não virá.
— Foda-se, fala logo o que você veio fazer aqui.
— Eu realmente vim ver você e a Estefânia, seu pai não para de fazer perguntas sobre vocês.
Augusto tragou mais um pouco seu cigarro, rindo do pai na situação de pau mandado, já que seu pai alfa odiava ter os filhos por perto disputando a atenção.
— Estefânia está ocupada, com um amigo da faculdade.
— Qual o problema de trazê-lo aqui junto dela? Eu só quero conversar.
A porta da sala se abriu, e Estefânia entrou acompanhada de Lucca, rapidamente, ao ouvir a voz do rapaz Augusto levantou do sofá, percebendo o movimento do filho o alfa mais velho entendeu a situação, também ficando de pé, Lucca era um omega. Ambos os alfas levantaram dos sofás, olhando para as novas caras no recinto.
— Oi pai, os empregados falaram que o senhor veio nos ver — A jovem alfa fala, indo sentar ao lado do pai — Senta aí ao lado do Guto, Lucca.
Lucca ficou parado por alguns minutos, percebendo que estava sendo encarado pelo homem mais velho. O alfa andou até o omega, segurando sua mão, depositando nela um beijo, do jeito mais cavalheiro a moda antiga possível. Lucca estranhou demais a ação do homem, puxando a mão o mais ríspido possível.
— É um prazer conhecê-lo, me chamo Alvares, sou o pai de Estefânia e do Augusto.
— Prazer em conhecer o senhor — Lucca fala, desviando do alfa, e indo sentar ao lado da amiga — Eu hein... — Sussurrou ao sentar-se.
— Estefânia nunca me falou sobre você, Lucca — Alvares fala, sorrindo para a filha.
— Ai pai, nem vem. Você sabe o porquê. O Lucca não tá aqui pra isso.
— Hum... Muita coragem, entrar num território sem marca, justo nesse onde...
— Já chega, pai — Augusto interrompe.
Lucca nota o rosto aborrecido do filho mais velho. Estefânia toca seu braço, o fazendo olhar para ela.
— Eles não se bicam, Lucca, é normal, não é por sua causa — Ela fala, voltando seu olhar para o pai.
— Não me entenda mal, só achei a oportunidade perfeita demais pro seu irmão, Lucca me parece estar exatamente na idade para... — O alfa mais velho fala, mas é novamente interrompido.
Dessa vez Augusto liberou seus feromônios, em um aviso hostil. Lucca, que é extremamente resistente a esse tipo de atitude, sentiu o coração acelerar como em uma taquicardia. Tentando não transparecer, ele se manteve em silêncio, porém, Estefânia sabia que o amigo não podia lutar contra os efeitos do mal humor do seu irmão. A visita de seu pai sempre era motivo de discussão naquela casa, mas ela realmente achou que seu irmão iria respeitar o espaço do amigo.
Até Alvares achou a ação do filho absurda, sendo que nem mesmo ele liberava feromônios na presença do seu omega depois da marcação.— Você não precisa me expulsar, Augusto — O mais velho fala.
— Não, eu é que vou sair daqui! — Estefânia fala — valeu mesmo, Guto. Pra quem até de pé ficou, acho que você socou o respeito no rabo. Vamo embora, Lucca, levanta.
Não houve resposta do rapaz calado no sofá, Lucca respirou muito do ar marcado, seu corpo estava imóvel. Ele olhou com ódio para Augusto, o alfa por sua vez desviou o olhar, soprando fumaça que se misturou no ar.
— Custava mandar seu pai embora, arrombado? — Lucca falou, sentindo o ódio neutralizar os efeitos no seu corpo.
Augusto ia parar com a demonstração de território, mas o rosto transtornado do omega na sua frente era um deleite, então ele duplicou a dosagem de feromônios, impondo sua vontade a todos na sala.
— AUGUSTO PARA COM ISSO! — Estefânia fala — Pai???!
Alvares encarou o filho, confuso sobre o comportamento dele. Em suas memórias Augusto nunca provocou conflitos desnecessários por dominância com a irmã. Até que ele olhou para a única coisa diferente na sala, a única pessoa no caso.
O omega estava suando frio, os olhos verdes vidrados no seu filho, e o corpo lentamente levantando do sofá e se aproximando, os movimentos previsíveis e imponentes de uma fera. Logo Alvares entendeu o que Augusto tanto estava aproveitando daquela situação. Mas como ele previu, aquilo sairia do controle do seu filho.
Em uma mínima fração de segundos, Lucca agarrou o colarinho de Augusto, desferindo um soco certeiro no lado direito do rosto do alfa.— Para... Com essa porra, seu... desgraçado!! — Lucca fala ofegante.