Silencioso.

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Depois de dias nessa montanha russa,
sinto que minha procrastinação me deu uma temporada de folga.

Algum tempo não sinto dor.
Não escuto ela e isso as vezes é meio incomodo.

A um tempo não ouço nada.
Mesmo com tudo agitado.
Mesmo na cidade grande.
Ou mesmo em um metrô lotado.

Está tudo tão calmo e isso é incomodo.

Por sorte, meu amante é o silêncio.
Por azar, sou casada com o metrô.

Mesmo fazendo tudo o que faço, ainda me sinto numa temporada de procrastinação.

Não acho normal esse silêncio.
É como se eu estivesse casada com a surdez.

Esse estupro da surdez acompanhada da procrastinação é...

Não preciso dizer.

Deprolavrel.

Mesmo assim, acho tão dramático definir assim.
Tão irresponsável.

Alguns poetas entenderiam, outros me matariam.

Mas ainda me sinto assim.
Deitada em uma cama onde a surdez e a procrastinação me forçam sem parar.

Essa sensação é a mais cruel.

Pois, não estou em uma cama.
A procrastinação talvez esteja comigo,  sentada em um canto qualquer.
A surdez nunca se fez presente, e mesmo assim, é surreal esse silêncio.

Minha casa é um metrô.
Minha vida é um circo e mesmo assim, os aplausos estão inaudíveis.

Mesmo me apresentando no palco, todos os dias.
Ainda parece que estou em uma sala fechada onde encaro um relógio que nunca para, mas ainda silencioso.

Está temporada me deu um folga de estresse.
Meio que isso me assuta.
Não me sinto bem.
Está calmo e mesmo assim é desesperador.

Essa emporada, este circo, esse metrô, nada escuto.

Ainda são as mesma pessoas apressadas e emburradas. Ainda são os mesmos aplausos maliciosos.
Ainda é esse metrô.

Nada mudou.

As vezes penso que até mesmo os móveis se mechem mais que eu, como uma dança, um espetáculo.

E mesmo quando tudo se move, nada faz barulho.

Está tudo tão leve,
Uma calmaria.

É irritante, as vezes favorável quando não percebo.

Quase como se calmantes me mantivessem relaxados em meio a crise.

Embora o tão aguardado final de semana esteja tão perto, é como se tudo tivesse recomeçando.

E mesmo quando terminar, o metrô irá continuar comigo sozinho.

Nunca para.
No barulho.
Ou no silêncio.

Nunca tem um fim.

É irritante.

Se querem uma conclusão, bom ela não existe.
Até mesmo para mim é um quebra cabeça.

Nem sempre entendo, apenas sinto. Vivo.

Como o estupro da procrastinação e da surdez.

Sinto o metrô.

Sinto os trilhos e os passos atrás de mim.

Os incontáveis aplausos.

Tudo está presente,
As vezes assustador de tão barulhento.
As vezes assustador de tão silencioso.

Tem sido uma temporada confusa e nada explícita.

Tem sido um feriado que ninguém sabe do que se trata.

Mas tão festivo que todos comemoram.

Tem sido quente, caloroso.
Tem sido quente, um inferno.
Tem sido frio com fogueira.
Tem sido frio.

As vezes pode ressoar bonito para os românticos.
Já os céticos, pode ressoar como um pedido de ajuda.
E tudo bem a confusão.

É difícil definir,
Ou chegar a uma conclusão.

No entanto não se sinta julgado ou confrontado.

Juro que estou tentando.

Mas no fim,
Tudo que posso dizer é que

hoje está muito

silencioso.



Poemas de um patoOnde histórias criam vida. Descubra agora