Até elefantes caem para formigas

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Ally despertou com uma dor de cabeça aguda, a ponto de sentir um latejar que quase a fez fechar os olhos novamente. O ambiente ao seu redor era sufocante: destroços espalhados, o cheiro de queimado impregnando o ar, fios quebrados ainda soltando faíscas enquanto pequenos estalos ecoavam pelo silêncio. "Estou morta?", foi a primeira pergunta que passou por sua mente confusa, os pensamentos embaralhados como se estivesse se libertando de um pesadelo.

A dor, porém, provava o contrário. Cada pontada na cabeça era um lembrete cruel de que estava viva. Seu corpo, ainda atordoado, parecia demorar a responder. "Mortos não sentem dor.", concluiu, tentando se concentrar.

Ela forçou os olhos a se abrir completamente, lutando contra o peso das pálpebras, e viu Scar próximo. Ele já havia conseguido vestir as calças, mas o processo de regeneração de suas pernas era grotescamente lento. Sua pele se refez apenas parcialmente, os músculos ainda visíveis, com o sangue coagulado formando manchas nas feridas. Suas pernas, quase uma pilha disforme de carne e ossos, reconstruíam-se, e Scar, apesar de sua força, parecia exausto, concentrado em não desmoronar ali mesmo.

Ally: Scar... – Murmurou, a voz seca, quase inaudível. Ela não tinha certeza se ele a ouviu.

Ele virou lentamente a cabeça em sua direção, seu rosto coberto de poeira, o olhar vazio e sombrio coberto pela mascara. Ele não respondeu, apenas a fitou brevemente antes de voltar sua atenção para a regeneração. As veias em seu pescoço pulsavam, o esforço de manter seu corpo funcionando era visível.

Ally: ( Ele tá...bem, de certa forma)

Ela riu, um riso curto e sarcástico, ao ver Agatha deitada ao lado, ainda desmaiada. Ela estava viva, respirando de forma irregular, mas sem grandes ferimentos visíveis. "Essa garota é feita de ferro ou o quê?", Ally pensou, mas havia uma leve sensação de alívio em seu peito ao ver que a outra havia sobrevivido.

Forçou-se a levantar. Cada movimento era uma tortura; seu corpo parecia afundar no chão, como se as pernas estivessem feitas de chumbo. Os destroços que cobriam o chão tornavam qualquer tentativa de se equilibrar um desafio constante. Uma placa de metal se ergueu à sua frente, e ela quase caiu ao tropeçar. Scar apenas observou de longe, mas sem a intenção de ajudar. Não era indiferença, era cansaço. Todos estavam à beira de seu limite.

Ally: Scar! – Chamou novamente, sua voz um pouco mais firme desta vez.

Ele virou a cabeça novamente, os olhos dele semicerrados, visivelmente fatigado. Ele não respondeu. Apenas olhou para ela, como se estivesse tentando entender o que ela queria, mas sem energia para oferecer qualquer tipo de reação.

Scar: ...- Nada

Ally sentiu uma onda de frustração subir por sua espinha, mas ao mesmo tempo sabia que ele estava exausto, talvez mais do que ela. Ele havia perdido as pernas e os braços e agora tentava reconstruí-los do zero. Ele estava, literalmente, lutando para não se desmanchar em pedaços.

Ela cambaleou até onde Agatha estava, seus passos lentos e pesados. Olhou para o rosto da garota, sereno de uma forma quase irritante, como se não estivesse consciente do caos ao redor. Ally riu baixinho, mas o riso se transformou em uma tosse dolorosa. Ela colocou a mão na boca, sentindo o gosto amargo do sangue.

Ally: Scar...– Disse, mais como um pensamento alto do que uma tentativa real de falar com ele

Scar, imóvel, olhava para frente, os punhos cerrados, já estava irritado pela insistência. Ele respirava pesadamente, os músculos dos braços tensos, como se estivesse pronto para lutar com o próprio destino. No fundo, Ally sabia que ele se culpava. Talvez por não ter percebido o rastreador, talvez por ter permitido que chegassem tão longe em uma armadilha tão simples.

Após o ApocalipseOnde histórias criam vida. Descubra agora