Scar observava em silêncio enquanto Goolmatsu, ou o que antes fora seu companheiro 688, deixava o ginásio. O garoto que ele conhecia parecia ter desaparecido, e, em seu lugar, havia algo sombrio, uma presença que exalava superioridade e desprezo assim como, em seu primeiro encontro. Aqueles olhos que o haviam encarado não tinham o calor, a camaradagem, nem mesmo a centelha de humanidade que ele esperava encontrar. No lugar disso, encontrou um vazio, algo predatório. O que quer que tivesse acontecido com o garoto, ele era uma sombra do amigo que conhecera.
Scar puxou uma respiração longa e cansada enquanto Jelly desmontava as correntes que o prendiam. O metal pesado caiu ao chão com um impacto seco, rachando o piso já devastado. Ele sentiu um alívio imediato, mas ao mesmo tempo, uma dor amarga em seu peito. A coleira de ferro ainda pesava em seu pescoço até o momento em que ele a arrancou e jogou-a com desprezo para longe, como se quisesse se livrar não só do objeto, mas do que ele simbolizava. Ele olhou para as meninas, presas e feridas, e uma onda de culpa lhe atravessou.
Scar: ( Essa... essa foi a nossa realidade? Derrotados, jogados como sacos de carne. Nós éramos prisioneiros, brinquedos para eles. Agatha, Ally... tão destroçadas, e 688... ele também não está mais aqui. Não como antes)
Ele se aproximou das meninas, que ainda jaziam desacordadas. Agatha respirava com dificuldade, o corpo coberto de cicatrizes frescas e costuras mal-feitas onde os tiros haviam perfurado sua pele. Ally estava pálida, as queimaduras em seu corpo ainda inchadas e quentes, e ele se perguntou como elas haviam suportado tamanha dor. Ele segurou a mão de Ally, e sua mandíbula travou ao ver que até mesmo isso parecia difícil de se fazer sem um nó de ódio crescendo em seu peito.
Scar : (Toda essa luta... todo esse sofrimento... e ele sai? Como se nada tivesse acontecido, como se essa batalha fosse só dele e nós não passássemos de estorvos. Esse.... o que aconteceu com o garoto que esteve ali do meu lado? Ele nos deixou para trás)
Os corpos espalhados pelo chão, soldados retorcidos, cadáveres em poses horríveis — tudo isso refletia o caos que Goolmatsu deixara para trás. Scar sentiu o cheiro de sangue, o ar ainda saturado de pólvora e fuligem. Ele sabia que eles, de algum modo, havia vencido. Mas também sabia que essa vitória tinha um preço. Olhou mais uma vez para o rastro de destruição e pensou em como as coisas tinham mudado. Os destroços ao redor eram o retrato do que restara deles, do time que, antes, fora um tipo família unida pela sobrevivência e pelo cuidado mútuo
Scar: Garoto... você voltou, mas quem realmente voltou? O que você sacrificou pra conseguir isso?
Jelly terminava de soltar as últimas amarras e ajudava Scar a posicionar as meninas em um lugar menos sujo.
Jelly : "Ele s-salvou... a gente, Scar. M-ma-mas o preço... f-foi m-mais do que um de nós tinha condições de p-pa-pagar.
Scar assentiu em silêncio, o peso daquela afirmação penetrando fundo em sua consciência. Goolmatsu, ou 688 — quem quer que ele fosse agora — havia vencido aquela luta sozinho, mas talvez, no fim das contas, tenha sido ele quem perdeu mais.
Enquanto ele apoiava o corpo de Agatha, o peso das palavras de Jelly ecoava em sua mente, e uma pergunta incômoda surgia. Se a vitória custou tanto a ponto de arrancar a humanidade de um companheiro, o que isso realmente significava?
Scar respirava fundo, sentindo as pernas arderem enquanto carregava Agatha e Ally, ambas ainda inconscientes e vulneráveis. Mesmo com sua regeneração, o peso da situação não diminuía. Cada passo ecoava no ginásio vazio, entre restos de corpos, cartuchos vazios e armas largadas. Ao lado dele, Jelly rastejava, se absorvendo de vez em quando corpos e aproveitando para pegar munições e equipamentos. Ele ainda estava visivelmente exausto, pela ação de mais cedo.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Após o Apocalipse
AventuraUma história onde a humanidade já não existia como a "dominadora" do mundo como foi por Milênios. Os sobreviventes deverão usar métodos inumanos e vulgares para sobreviverem, além de esquecer seu passado e abandonar os traumas para não se afundarem...