Capítulo 2. Um chamado nas sombras

53 3 0
                                    

    O Reino das Almas se estendia como uma vastidão etérea diante dos guardiões, seu brilho suave e misterioso envolvia cada passo dado. O ar, denso e carregado de significados, parecia vibrar com as histórias e sacrifícios do passado. O chão brilhava com pequenos fragmentos de luz, como se cada passo despertasse uma centelha de vida. A caminhada até a Torre das Estrelas era solene, e o silêncio que os envolvia era pesado, refletindo a gravidade do destino iminente.

    As constelações brilhavam no céu escuro, cada uma representando uma alma que viveu ou que ainda vive. Mas, desta vez, algo parecia fora de ordem, e os guardiões sabiam disso. À frente deles, a Torre das Estrelas irradiava uma luz crescente, um lembrete constante do sacrifício da Deusa e do equilíbrio precário que os reinos agora enfrentavam.

    O vento suave do Reino das Almas trazia com ele a memória das eras passadas — sacrifícios, amores e batalhas que moldaram o destino dos reinos. As sombras dançavam ao redor dos guardiões, entrelaçando-se com a luz das estrelas, refletindo a tensão e a expectativa que preenchiam o ar. Leandros, o Guardião do Reino da Luz, liderava a caminhada, sua presença emanava autoridade e clareza. Cada guardião era uma manifestação de seu próprio reino, governando seu respectivo domínio e protegendo a essência de seu poder.

    Leandros, que refletia o brilho das estrelas em sua armadura dourada, avançava com determinação. Sua capa branca flutuava atrás dele, como se estivesse conectada à própria luz. Ele era o protetor do Reino da Luz, onde a vida e a esperança emanavam de forma pura, era o lar da Deusa. Sem tirar os olhos da Torre das Estrelas, ele falou com uma voz forte, cheia de razão e dever:

— A reencarnação da Deusa veio como um chamado, como sempre acontece quando o equilíbrio dos reinos é ameaçado. Mas algo está diferente desta vez. O ciclo foi interrompido. Sua reencarnação anterior falhou, e agora ela se revelou novamente... mais cedo do que qualquer um de nós esperava. O vilarejo de Elnor a viu como uma ameaça, não como a esperança de um novo ciclo. Eles a temem, pois sentem o poder que ela carrega, mas não entendem o que ele realmente significa.

    Ele fez uma pausa, absorvendo a gravidade da situação. O vilarejo havia sido um dos sinais que precipitaram o chamado dos guardiões. O caos que se seguiu ao despertar precoce da Deusa, a destruição da aldeia, o medo que tomou conta dos aldeões — tudo isso indicava que algo maior estava por trás do ciclo quebrado.

— Quando a escuridão começou a crescer e ameaçou consumir tudo, a Deusa fez o sacrifício mais difícil. Ela quebrou sua alma para salvar os reinos, fragmentando-a em partes essenciais. Cada fragmento representava uma virtude: Vida, Luz, Amor, Esperança, Sacrifício... Cada uma delas tornou-se um pilar dos reinos. Mas desta vez... ela se revelou mais cedo, e algo está acelerando esse processo.

    Enquanto ele falava, Caelum, o Guardião do Reino das Sombras, observava em silêncio, envolto em seu manto negro pesado, bordado com intricados arabescos prateados. O Reino das Sombras era o domínio onde a escuridão era tanto uma força quanto uma proteção, e Caelum personificava essa dualidade.

— Não é a primeira vez que eles a temem — disse Caelum, sua voz soando como um sussurro vindo das próprias sombras. — A cada reencarnação, o sacrifício dela é incompreendido. Eles a rejeitam porque, em suas memórias ancestrais, sabem que ela carrega um fardo maior do que eles podem suportar. Ela é luz e escuridão ao mesmo tempo, e nós... nós somos os guardiões de sua dor. Estamos sempre atrás de seus fragmentos perdidos, sempre correndo contra o tempo e o ciclo de sofrimento.

    As palavras de Caelum ecoavam com uma tristeza antiga, uma sombra que refletia o próprio Reino das Sombras, onde ele governava. Sua melancolia envolvia o grupo, e o vento parecia mais frio à medida que ele falava.

O Destino Entre luz e SombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora