O sol da manhã entrava pela janela da pequena cozinha, enchendo o espaço com uma luz quente que suavizava as bordas dos móveis gastos e as manchas nas paredes. Felix estava parado junto à pia, limpando cuidadosamente a louça que usara para preparar o café da manhã de sua mãe. O aroma do café acabado de fazer flutuava no ar, e o som da água corrente era um murmúrio suave ao fundo enquanto sua mãe estava sentada à mesa, observando-o com um sorriso cansado.
"Você não precisava fazer tudo isso, Felix", disse sua mãe, com a voz fraca, mas gentil. Você sabe que posso lidar com isso. Não me resta muito, mas ainda posso lidar com essas coisas.
Felix lançou-lhe um rápido olhar por cima do ombro, balançando a cabeça enquanto ensaboava o último prato.
-Mãe, não diga essas coisas. "Hoje quero estar com você e ajudá-lo", ele respondeu suavemente, tentando manter o tom leve e evitar que a conversa se voltasse para os temas mais sombrios que geralmente assombravam seus pensamentos. Além disso, já faz muito tempo que não passo um tempo com você. O trabalho me deixa bastante ocupado.
Sua mãe assentiu, mas sua expressão escureceu ligeiramente enquanto ela tomava um gole de café. A doença devastou seu corpo, mas sua mente permaneceu afiada. Ele sabia perfeitamente que seu filho estava sob muito estresse, embora não conhecesse todos os detalhes.
-Como vai o trabalho? ela perguntou em tom casual, mas Felix percebeu a preocupação por trás da pergunta. "Você mal me conta como está ultimamente."
Felix engoliu em seco ao terminar de enxaguar o prato e colocou-o cuidadosamente no escorredor. A pergunta apertou seu peito. Havia tantas coisas que ele não poderia contar a ela, especialmente o que havia acontecido com Hyunjin. A oferta, os encontros, a forma como ela se deixou atrair por ele... e o tratamento que recebiam agora, que o consumia em silêncio.
Ele secou as mãos lentamente, dando-se alguns segundos para pensar em como responder.
"O trabalho é bom", disse ele finalmente, com um meio sorriso que não alcançava seus olhos. Você sabe como é... Às vezes um pouco pesado, mas nada que eu não aguente.
A mãe olhou para ele com atenção, aquele olhar que sempre teve, capaz de ler o que ele não dizia.
"Felix", ela começou, mas parou quando o viu puxar uma cadeira e sentar-se ao lado dela. Você sabe que se algo der errado, você pode me dizer, certo?
"Eu sei, mãe", ele respondeu rapidamente, evitando qualquer conversa que pudesse se aproximar da verdade. Realmente, está tudo bem.
Houve um momento de silêncio entre os dois, enquanto a mãe entrelaçava os dedos e olhava para a mesa, um sinal claro de que estava preocupada, mas não iria insistir mais. Felix, agradecido, conduziu a conversa para algo mais seguro.
-E você? Como vão as quimios? -perguntou baixinho-. Falei com o médico há alguns dias, mas quero saber como você está se sentindo.
Sua mãe suspirou, como se o peso da doença aumentasse à medida que ela falava sobre isso. Mas ela sempre foi forte, uma lutadora, e não iria demonstrar fraqueza na frente do filho.
-É o que é, Félix. Você sabe como é... Alguns dias são melhores que outros. -Ele encolheu os ombros-. Mas acho que estou me acostumando. O corpo já não reclama tanto.
Felix franziu a testa, sabendo que isso não era inteiramente verdade. Ela sabia pelas ligações com os médicos que as sessões de quimioterapia estavam cada vez mais difíceis para ela, que o cansaço a deixava dias acamada e que as dores eram constantes. No entanto, ele não iria contradizê-la. Hoje não. Hoje queria que fosse um dia calmo, sem estresse ou preocupações.
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