"Sou eu, Benjamin Martinez. Se você está ouvindo isso, então já sabe que algo deu muito errado. Isso não é para ser um pedido de desculpas, muito menos a tentativa de explicar algo inexplicável. É apenas... a verdade. A minha verdade. E acredite, vale a pena escutar cada segundo."
"Para entender o que aconteceu, precisamos voltar um pouco. Nada é por acaso. Nenhuma decisão é tomada do dia para a noite. Chega ser irônico como um simples sorriso ou uma conversa aparentemente inofensiva podem ser a porta de algo imaginável."
[...]
Os primeiros raios de sol invadem o quarto pelas frestas da janela, iluminando o espaço suavemente. Faz uma semana que estou enrolando para organizar os livros da estante, mas sempre tinha algo melhor para fazer. Agora não tenho mais desculpas. Respiro fundo e começo a tirar os livros, um por um, empilhando-os no chão.
Sinto falta da minha fase leitor. Preferia quando os problemas estavam apenas nas histórias manuscritas. O som dos livros deslizando pelas prateleiras ecoa no cômodo, quase como uma trilha sonora para minhas memórias nostálgicas. Tempos que não voltam mais.
Um alívio instantâneo surge ao terminar a tarefa. É bom ver tudo em ordem novamente. Devia ter feito isso antes. Vou acabar atrasando para chegar na escola hoje. Aquele professor tinha que dar prova justo na primeira aula?
Sou tirado dos meus pensamentos pela vibração do celular. Não é possível que estão ligando, em plena segunda, às sete horas da manhã.
Pego o aparelho, vendo o nome de Jackson na tela. Não somos nem próximos, por que ele quer falar comigo logo cedo? Estranho. Mas não vou ignorar, talvez seja algo importante. Respiro fundo e atendo.
— Ben, precisamos conversar. É algo sério. Encontre comigo no parque, perto da escola, em meia hora.
Certo. Isso foi de estranho para totalmente estranho. Nunca tivemos uma interação duradoura, muito menos significativa, agora ele tem algo urgente para contar? Não faz o menor sentido.
— Comigo? Deve ter errado de número. Não temos nada para conversar, Jackson.
Desligo o telefone, confuso com o pedido. Não soou como uma brincadeira, na verdade, parecia bastante sério. Por via das dúvidas, melhor ir conferir.
O caminho até o parque parece interminável, e o nervosismo só cresce a cada passo. Se estivesse com minha bicicleta teria chegado faz tempo, pena que ela está no concerto.
Costumo frequentar esse espaço para relaxar. Escutar o som dos pássaros enquanto desenho, lanchar com os amigos, fotografar a fonte durante a noite quando está iluminada. Normalmente é um lugar tranquilo. Hoje, nem tanto.
Quase não há pessoas circulando, apenas dois pequenos grupos espalhados nas extremidades, da mesma forma que quando venho com meus amigos.
O lugar que deveria ser um refúgio, agora parece opressor. O que Jackson precisa que não pode ser resolvido por telefone? Por que tem que ser comigo? As perguntas se multiplicam a cada segundo.
Finalmente, avisto Jackson parado perto de um banco, com um olhar tenso. Poderia sair correndo nesse exato momento e depois inventar algo para evitar essas conversa. Mas, agora que já estou aqui, preciso terminar isso.
Em passos calmos, aproximo do rapaz, tentando manter a compostura, apesar do crescente apavoramento.
— Jackson, você me chamou. O que está acontecendo?
— Ben, tenho informações sobre algo grave que eu está acontecendo na escola - Enquanto fala, Jackson inclina-se para mais perto de mim, sua voz baixa e com um tom trêmulo, pesando o clima e deixando-o tenso. — Não sei todos os detalhes, mas ouvi dizer que há um grupo envolvido em comportamentos ruins, até mesmo considerados crime.
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Let me go
Mystery / ThrillerBenjamin Martinez, um adolescente de 17 anos independente, vive sozinho e se sustenta trabalhando em uma loja de livros. Ele enfrenta uma série de desafios no ensino médio, incluindo pressões acadêmicas, bullying e sua identidade sexual. Ao longo de...