“Às vezes, acreditamos que certas coisas não vão nos afetar. Que algumas palavras, alguns olhares... são apenas pequenos momentos sem importância. Coisas que não farão diferença em nossas vidas. Mas a verdade é que cada detalhe se acumula, como pedras em um rio que, pouco a pouco, começa a transbordar.
"Eu acho que posso dizer que não era um fim nem um começo. Era um momento suspenso no tempo em que ninguém era uma coisa ou outra, e ninguém esperava nada de ninguém. Só estávamos lá, livres e vivos."
"Nessa parte da história, quero que preste atenção em cada um desses detalhes, porque foram eles que começaram a pesar, que começaram a abrir pequenas rachaduras. E antes que eu percebesse, ja estava me afogando."
[...]
Os últimos dias tem sido estranhos, como se o normal parecesse fora de lugar. Tenho enfrentado pesadelos constantemente, que sempre terminam da mesma forma. Não sinto mais o conforto de deitar em minha cama e relaxar, porque sei o que vem logo em seguida. Quando fechos os olhos, as coisas tornam-se piores do que quando estão abertos, pois minha imaginação me fez seu prisioneiro.
As pessoas ao meu redor se transformam em borrões indistintos. Os passos soam nas sombras, um sussurro ameaçador que se aproxima, mas quando me viro, não há ninguém. Apenas jogos psicológicos da minha própria cabeça.
Começo a questionar meus próprios pensamentos. Estou sendo controlado? Ou será que estou me autosabotando?
Levanto da cama, a respiração instável, buscando romper as correntes da minha própria dor. O relógio Informando que está próxima a hora de entrar na escola, mas para mim, os minutos se arrastam como se quisessem prolongar meu tormento. Sinto uma urgência, a necessidade de escapar, mas para onde? Para longe de quem? Não existe lugar seguro, nem mesmo quando estou sozinho.
O meu reflexo no espelho é de um estanho, alguém que não reconheço mais. Eu me pergunto se alguém já se sentiu assim, totalmente sem rumo. Meu coração está vazio, sugado por as maldades desse mundo. Isso é apenas uma fase ou estou perdido para sempre? Olhando para esse rosto pálido e cansado, sinto como se uma parte de mim tivesse se desintegrado, deixando apenas resquícios de como era.
Vejo nos olhos das pessoas ao meu redor a preocupação, mas também a barreira que implantei entre nós. Como se existisse um uma parede de vidro, onde posso ver os outros, mas não posso tocá-los, não posso ser ouvido. Palavras não ditas espalhadas ao vento, assim como folhas secas, impossíveis de capturar. Estou preso nessa bolha de silêncio, onde não posso ser alcançado.
E assim, continuo a existir nesse limbo. Olhando para o mundo através de uma lente distorcida, com cores desbotadas e sons abafados, buscando um sinal de que é possível escapar desse destino. Mas por enquanto, só posso observar e esperar que, um dia, a coragem se torne minha aliada.
Com um pouco de água fria, percebo a necessidade de estar mais alerta, saindo desse transe de vibrações ruins. O café da manhã aguarda na cozinha, e apesar da minha vontade de voltar para a cama, sei que não posso me permitir esse luxo, não dois dias seguidos.
Descendo as escadas, ouço o som familiar dos ovos fritando na frigideira, acompanhado do cheiro de bacon fresco que predomina o ar. Raios de sol filtram-se pela janela da cozinha, iluminando o espaço e criando um ambiente caloroso. Minha mãe está concentrada em preparar o café, o rosto dela brilhando por a luz suave da manhã.
— Bom dia! - Ela exclama, sem virar-se, mas a animação em sua voz é palpável. — Espero que você esteja com fome!
— Um pouco — Puxo uma cadeira e me sento à mesa. — Onde está meu pai?
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Let me go
Mystery / ThrillerBenjamin Martinez, um adolescente de 17 anos independente, vive sozinho e se sustenta trabalhando em uma loja de livros. Ele enfrenta uma série de desafios no ensino médio, incluindo pressões acadêmicas, bullying e sua identidade sexual. Ao longo de...