Dead Reckoning: Encontrar-se incomodado pela morte de alguém mais do que você poderia esperar, como se você tivesse assumido que essa pessoa seria sempre figurante em sua vida.
Havia quase cinco anos que as caixas de leite se mantinham com o mesmo rosto estampado nelas. Outras crianças desapareciam de tempos em tempos. Adolescentes também. Mas é como se apenas uma única pessoa importasse.William Byers tinha apenas doze anos quando desapareceu de Hawkins. Quase treze. E estaria para fazer dezoito atualmente se tivesse chegado em casa naquela noite.
Mike remoía aquele mesmo momento em sua mente todas as manhãs e todas as noites. O momento em que sua mente estava vazia, e o momento onde ela estava cheia, mas prestes a se esvaziar. E em seus sonhos, eram descargados os mesmos instantes, as mesmas reações e as mesmas palavras macias proferidas quando Will subiu na bicicleta:
"Te vejo amanhã!"
Quando "amanhã" chegaria?
O que era o amanhã? Uma sucessão de dias que nunca acabavam, que nunca chegavam?
O despertador tocou, e a única reação do garoto de cachos negros foi socá-lo, para que assim não interrompesse o som da voz de Will em sua cabeça. Ele se mantinha atento para manter a voz exatamente como se lembrava e isso lhe exigia uma concentração a mais.
Seu maior temor na face da Terra era se esquecer de como a voz de Will era. O som que fazia quando falava consigo.
Suas manhãs começavam quando ele acordava antes do despertador tocar depois de sonhar com o garoto de olhos verdes que o assombrava desde que foi dado como morto, e seu enterro prematuro e cercado de dor. Um caixão simples coberto de flores, porém fechado, porque não havia nada para ver. Nunca acharam o corpo.
Nessa uma hora antecipada, ele esperava que algo batesse em sua janela, como cascalhos, e quando ele se levantasse, o garoto estivesse lá embaixo, pálido como era, o chamando. Ou que aparecesse no canto do quarto, saísse de debaixo da cama, qualquer uma dessas baboseiras de filmes de terror. Nada importaria ou seria tão absurdo desde que Will estivesse ali.
E suas noites terminavam em culpa por não conseguir salvar Will seja lá do que fosse que tivesse acontecido e seus dias se remoíam em culpa e remorso por estar vivo sem que o garoto estivesse consigo. E ao fechar os olhos, a esperança era acordar no mesmo horário de sempre, esperando pelo mesmo ciclo absurdo de acontecimentos nos quais terminavam em Will aparecendo, vivo, em seu quarto.
Ele passou as mãos no rosto e rolou para o lado na cama, agarrando o travesseiro como se este pudesse impedi-lo de se levantar e ir para a escola. Mas preferia levantar do que sua mãe batendo em sua porta, tentando falar qualquer coisa que fosse fazê-lo responder.
Ele se levantou, arrumou sua cama de um jeito que sua mãe não precisasse mexer nela depois e se encaminhou para o banheiro, onde tomou um banho demorado o bastante para se atrasar para a escola. O que era totalmente proposital. Não queria encarar aquele corredor cheio de gente.
Saiu do banheiro já vestido com a calça jeans preta e o moletom marrom e surrado, indo em direção a cama e se sentando sobre a colcha dobrada, pegando um de seus tênis e colocando uma meia antes de calçá-los. O cabelo cacheado com aspecto bagunçado já era um detalhe particularmente seu e em nada interferia em seus dias, a menos que estivesse sujo, o que não era o caso.
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Ellipsism (Byler)
Fanfic"Ellipisism: uma tristeza por não ser capaz de saber como a história vai terminar." Quando William Byers sumiu, Mike Wheeler sentiu que havia caído em um sono profundo onde o ciclo de pesadelos sempre se repetiam, sendo eles os dias onde Will não es...