Father Charlie
Cresci em um lar onde religião e moralidade eram a base de tudo. Meu pai... Ele era um homem duro, inflexível. Para ele, qualquer desvio era punido com severidade. Eu aprendi desde cedo que os meus pensamentos, os meus desejos, eram pecaminosos.
Minha mãe... ela nunca se opunha, nunca dizia nada, apenas olhava de longe, como se não soubesse como lidar com aquilo. Então, era meu pai quem me dizia o que era certo, o que era errado. E foi assim que eu comecei a carregar essa culpa.
Quando cheguei à adolescência, tudo piorou. Eu não conseguia controlar o que sentia. Era como se meu corpo estivesse traindo tudo o que eu tinha aprendido. Eu via as garotas e, dentro de mim, surgia um desejo que eu sabia que não deveria estar lá.
Cada vez que isso acontecia, eu me sentia um lixo. Como se estivesse sujando a minha alma. Mas eu não podia contar isso a ninguém. Nem mesmo ao padre. Uma vez, tentei me confessar, mas as palavras ficaram presas na minha garganta.
Como eu poderia explicar aquilo? Como eu poderia dizer que meus pensamentos estavam cheios de luxúria, que eu me sentia corrompido?
Dias atuais
Despertar às quatro da manhã já se tornou um hábito, um ritual que me oferece um pouco de paz antes que o mundo desperte. O despertador toca, e, enquanto a luz da manhã ainda é fraca, eu me levanto da cama. O silêncio é profundo, e a calma da madrugada me envolve. Após alguns alongamentos, me dirijo para a área de exercícios. O suor escorre pelo meu rosto, e cada movimento parece me libertar, mesmo que temporariamente, das pressões que carrego.Após a sessão de exercícios, o próximo passo é o banho. A água quente escorre sobre mim, e eu a deixo levar não apenas o cansaço, mas também os pensamentos confusos que me assombram. Enxergo minha imagem no espelho — um homem jovem, bonito, mas preso por votos que parecem cada vez mais pesados. Depois de me secar, vou para o quarto, onde as vestes aguardam. O ritual de me vestir é meticuloso. Coloco a batina sobre os ombros, ajusto o colarinho e fecho cada botão com calma. Olhando no espelho, sinto uma mistura de orgulho e frustração.
Após me arrumar, vou à cozinha para um café simples. Uma fatia de pão, talvez com um pouco de manteiga, e um gole de café forte. Enquanto como, minha mente divaga. Rezo um pouco, buscando foco antes de ir à igreja, mas os pensamentos insistentes me distraem.
Chego à igreja e o aroma do incenso começa a preencher o ar, trazendo uma sensação de familiaridade. Organizo os objetos litúrgicos, preparando tudo para a missa. A luz suave dos vitrais ilumina o altar, criando um cenário que sempre me acalma. No entanto, hoje algo diferente está no ar.
Enquanto a congregação começa a chegar, percebo a presença de Ellaeynor entre as freiras. Ela é nova aqui, e algo em seu olhar me chama a atenção. Meu coração acelera, e, ao conduzir a missa, sinto que as palavras que saem da minha boca se tornam um eco distante. Enquanto falo sobre fé e devoção, minha mente se agita com a imagem dela. Não posso negar o desejo que começa a brotar em mim, algo que eu sempre tentei reprimir.
A cada movimento dela, cada olhar, o desejo cresce. Meu voto de celibato e minha busca por santidade se tornam insignificantes diante dessa nova e poderosa atração. Quando a missa termina e os fiéis começam a se dispersar, sinto uma mistura de culpa e excitação.
Ellaeynor não é apenas uma freira. Ela é a personificação de tudo que eu não deveria querer, mas que anseio intensamente. E, enquanto a observo, percebo que a batalha entre minha fé e meus desejos carnais está apenas começando.
A missa terminou há poucos minutos, e o silêncio noturno da igreja começa a tomar conta de mim. Caminho devagar até meu quarto, os corredores são um refúgio, uma espécie de abrigo onde posso me esconder do que sinto. Meus passos ecoam suavemente pelas paredes, e por um instante me sinto em paz. Mais uma vez cumpri meu dever diante de Deus, liderei os fiéis, e agora posso voltar à minha rotina.
Fecho a porta do quarto e começo a retirar a batina com calma. Os botões deslizam entre meus dedos, um por um. É um ritual. Cada gesto é meticuloso, preciso. A batina negra cai suavemente sobre a cadeira, dobrada com cuidado. Fico de pé diante do espelho, agora vestindo apenas a camiseta branca e a calça. Minha mente deveria estar tranquila, mas não está. Posso sentir o turbilhão se aproximando, o mesmo de sempre, que surge nas noites solitárias.
Respiro fundo, tentando afastar a sensação que começa a tomar conta de mim. Tento ignorar, mas as imagens voltam. Ellaeynor Durante a missa, sua figura estava lá, tão pura, tão imaculada... e, ao mesmo tempo, tão perturbadora. Tudo em mim ferve ao lembrar de como ela se ajoelhou, de como seus lábios se moviam em oração. Não deveria pensar nisso, não deveria sentir isso, mas não consigo evitar.
Sinto o calor subindo pelo meu corpo. Meus pensamentos, por mais que eu tente controlar, me traem. Cada vez que ela aparece, é como se algo dentro de mim se quebrasse. Um padre não deveria desejar. Um homem de Deus não deveria sentir isso. Mas sinto. O desejo é palpável, queimando por dentro, e a culpa... a culpa vem logo em seguida.
O peso no peito se torna insuportável. Sei o que preciso fazer. Sei que não posso permitir que isso continue crescendo dentro de mim. Abro o armário e pego o cimpol (pedaço de madeira com cordas na ponta), o chicote que uso nessas ocasiões. As cordas pendem pesadas nas pontas, e só de tocá-las já sinto a dor antecipada. Mas é necessário. Preciso expurgar esse pecado, essa tentação que me consome.
De costas para o espelho, tiro a camiseta, expondo minha pele. As marcas das últimas noites ainda estão lá, levemente cicatrizadas. Isso não importa. O que importa é me livrar desse desejo, desse pensamento impuro. Respiro fundo e levanto o chicote, sentindo o couro frio nas minhas mãos.
O primeiro golpe estala nas minhas costas. A dor é intensa, mas imediata. Aperto os dentes e golpeio de novo. A cada chicotada, sinto a pele arder, mas a culpa... a culpa continua lá. Ellaeynor ainda está em meus pensamentos, sua presença gravada em mim como um veneno que não consigo extrair.
Mais uma vez. O chicote rasga minha pele, e a dor, por um instante, parece ser suficiente para apagar o que sinto. Mas logo o desejo volta, e com ele, a necessidade de mais. Golpeio de novo, e de novo. O suor escorre pela minha testa, minha respiração está pesada. Tento rezar, mas as palavras não vêm.
O cimpol cai no chão, escorrega da minha mão. Me ajoelho, exausto, sentindo o latejar das marcas em minhas costas. Minha cabeça está baixa, o corpo inteiro está fraco. Mas sei que, mesmo com toda a dor, a culpa ainda está lá, implacável. Não consegui me livrar dela, como sempre.
-Deus... perdoe-me,– sussurro, mas no fundo, não sei se há perdão para alguém como eu.
🙏
Até a próxima ❤️
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O Peso da Batina
RomancePadre Charlie sempre foi admirado por sua devoção e fervor religioso, usando sua batina como símbolo de pureza e renúncia. Mas, por trás da aparência de santidade, ele escondia um segredo terrível: um desejo carnal que o perseguia desde a juventude...