Sin, end

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Father Charlie

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Father Charlie

Os meses que se seguiram à primeira vez que pecamos foram repletos de promessas sussurradas entre beijos roubados e encontros proibidos. Cada vez que nos encontrávamos, seja no silêncio do confessionário ou nas sombras da capela, eu prometia que a protegeria, que nosso amor, apesar de condenado pela fé, seria algo pelo qual valeria a pena lutar. Ellaeynor, com seu olhar doce e ao mesmo tempo confuso, sempre concordava, embora fosse claro que ela também carregava o peso do pecado.

Nossas trocas eram intensas, um misto de desejo e culpa. Eu podia sentir o calor do corpo dela, o toque suave de suas mãos, mas também o peso das palavras não ditas, da vergonha que ambos sentíamos. Mesmo assim, repetíamos o ciclo. Cada encontro nos deixava mais entrelaçados, e eu sabia que não havia retorno. Aquela vida de penitência e oração já não nos cabia mais. Eu me sentia dilacerado entre meu dever e minha paixão por Ellaeynor, mas, no final, sempre escolhia ela.

Com o passar dos meses, o desejo de avançar nosso "amor" cresceu. Não podíamos mais fingir que o que sentíamos era passageiro. Decidimos, então, sair. O convento, que antes parecia nosso refúgio, agora era uma prisão. Marcamos uma noite, na calada, e simplesmente fomos embora. Não houve despedidas, apenas um olhar para trás, e um silêncio compartilhado. A vida lá fora nos aguardava, e nós iríamos encará-la juntos.

Os Primeiros Passos Fora do Convento

Deixar o convento foi um choque para ambos. Longe das orações e dos rituais diários, nos vimos mergulhados num mundo que parecia estranho, mas ao mesmo tempo libertador. Decidimos começar do zero. Como éramos jovens, nos dedicamos aos estudos. Ellaeynor sempre teve uma paixão por cuidar dos outros, e por isso, decidiu se tornar médica pediatra. Eu, por outro lado, optei pela psiquiatria, buscando entender os labirintos da mente humana — talvez numa tentativa de compreender meus próprios conflitos.

Foram anos difíceis de estudo e trabalho. Não tínhamos muito, apenas o que podíamos ganhar com empregos temporários e estágios. A casa em que morávamos era modesta, simples, mas era o suficiente. Cada conquista era celebrada com pequenos gestos de carinho. Lembro-me de como Ellaeynor ria ao fazer o jantar em nossa cozinha pequena, e de como me sentia em paz ao vê-la feliz, longe das pressões que uma vez nos assombraram.

Nosso relacionamento se fortalecia com o tempo, e após dois anos juntos, decidi formalizar o que já era evidente. Levei Ellaeynor para um pequeno parque que ficava perto de nossa casa. Era um lugar simples, mas carregava significados para nós dois. Sentados num banco, ao lado de um lago tranquilo, eu a olhei nos olhos e senti uma onda de emoção.

— Ellaeynor, sei que nossa história é incomum, mas nunca duvidei do que sinto por você. Quero que sejamos mais do que companheiros de jornada, quero que você seja minha namorada, oficialmente.

Ellaeynor, com os olhos brilhando, sorriu timidamente.

— Charlie, eu sempre soube que éramos mais que isso. Claro que aceito.

A partir daquele momento, começamos a construir algo mais profundo. Nossa vida foi ganhando contornos mais definidos, mais estáveis, apesar de ainda enfrentarmos desafios financeiros e de tempo.

Dois anos após esse pedido, Ellaeynor engravidou. A notícia foi um misto de surpresa e alegria. Lembro-me do dia em que ela apareceu na sala, segurando um pequeno teste de gravidez com as mãos trêmulas.

— Charlie, nós vamos ter um bebê.

Fiquei sem palavras por alguns segundos. Um turbilhão de emoções tomou conta de mim. Sabia que nossas vidas mudariam para sempre, mas de uma forma que eu desejava profundamente. Abraçamos-nos por minutos que pareciam durar uma eternidade. Prometemos, mais uma vez, que iríamos fazer tudo certo desta vez, que nossa família seria nossa prioridade.

Os meses de gestação foram tranquilos. Ellaeynor se dedicava ao trabalho como pediatra, mas logo reduziu o ritmo para cuidar de si e do bebê. Eu me esforçava na psiquiatria, mas sempre estava presente para acompanhá-la nas consultas, ver o crescimento da barriga, ouvir os batimentos do nosso filho pela primeira vez.

O dia do parto chegou com uma mistura de ansiedade e expectativa. Fomos ao hospital e, por horas, esperei na sala ao lado, enquanto Ellaeynor enfrentava as dores. Finalmente, após um longo trabalho de parto, ouvi o choro do bebê. Quando entrei no quarto, lá estava ela, exausta, mas com um sorriso imenso no rosto, segurando nosso filho nos braços.

— É um menino, Charlie. Nosso menino.

Senti uma emoção indescritível. Segurei nosso filho, e naquele momento, percebi que tudo o que passamos valeu a pena. Olhei para Ellaeynor, e uma nova promessa se formou em meu coração. Eu estaria ao lado dela e do nosso filho em todos os momentos. Ele cresceria num lar de amor e cuidado, longe dos conflitos e pecados do passado.

Após oito anos juntos, finalmente nos casamos. O pedido aconteceu de forma simples, mas significativa. Estávamos na sala de casa, observando nosso filho brincar no tapete. O sol da tarde iluminava o ambiente, e eu me virei para Ellaeynor.

— Acho que está na hora de fazermos isso de forma oficial, não acha? Casar de verdade, você e eu, para sempre.

Ellaeynor riu, surpresa, mas logo aceitou. Nosso casamento foi simples, numa igreja pequena, com poucos amigos e familiares. Não precisávamos de luxo, só da certeza de que estávamos onde deveríamos estar. Ao olhá-la nos olhos enquanto dizíamos nossos votos, lembrei-me de tudo que passamos, desde os pecados e a culpa até a liberdade e o amor que encontramos.

Nossa vida como uma família de classe média foi estável e feliz. Nunca tivemos grandes fortunas, mas também não nos faltava nada. Eu continuava trabalhando como psiquiatra, enquanto Ellaeynor brilhava em sua carreira como pediatra. Nosso filho crescia cercado de amor e cuidado. Cada momento de sua infância foi especial para nós — desde os primeiros passos até as primeiras palavras.

Frequentemente, íamos visitar o convento. Não como penitentes, mas como pessoas que encontraram um novo caminho. Aquela era uma parte de nossa história que não podíamos apagar, mas agora ela pertencia ao passado.

Ao final de cada visita, eu sempre segurava a mão de Ellaeynor, e com um sorriso tranquilo, lembrávamos de que, apesar dos erros, escolhemos o amor.

Ao final de cada visita, eu sempre segurava a mão de Ellaeynor, e com um sorriso tranquilo, lembrávamos de que, apesar dos erros, escolhemos o amor

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Fim

O Peso da BatinaOnde histórias criam vida. Descubra agora