cap.three

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— Você está enlouquecendo, Hyunjin? Seu desejo permanecerá como um desejo, isso não existiria nem em um multiverso.

Jisung quase gritava dentro do carro, que naquele momento os conduziam ao aeroporto. Balançava as pernas pelo nervosismo de apenas pensar na possibilidade do estresse que seria ter de lidar com seu melhor amigo e Yongbok compartilhando o mesmo recinto fora das pistas.

Hyunjin pensava em todo e qualquer jeito de expulsar aquela voz demoníaca no fundo da sua mente que exclamava sobre toda e qualquer reação de Felix. O câmbio de olhares de ódio, em uma perspectiva, e admiração, em outra perspectiva, influenciou para que o Hwang quisesse mais a respeito.

Não pretendia estar interessado em avivar a ira do Lee, mas estava entusiasmado para entender o outro. Mesmo que não se passasse a maneira certa na qual deveria seguir para ter uma vizindade com o Lee, ainda sim estava convencido de conquistar o garoto por quaisquer dos mecanismos armados pelo Hwang.

Nos diálogos escassos entre ambos, com palavras indevidamente trocadas para uma primeira impressão, Hyunjin se deixou influenciar mais do que deveria pelos olhos intensos do menor e a totalidade de questões sentimentalmente fraternas. Era como se aquele ódio, que o Hwang alimentava momento pós momento, fosse a alavanca para a amizade dos dois se intensificar.

Decidiu dividir seus pensamentos com quem estava ao seu lado naquele instante: seu advogado, que também era um dos seus poucos amigos de longa data. Han conhecia bem Hyunjin e tinha a certeza de que ele não abandonaria a idéia de conquistar a amizade de Felix de maneira tão acessível. Aquele cenário ainda traria muita dor de cabeça para a assessoria do Hwang, e até mesmo para o próprio advogado.

— Hanji… — Resmungou o Hwang, limpando a garganta antes de retornar com a expressão. — Buscar um contrato com a equipe de Felix iria ser tão ruim?

— Qual o seu objetivo com uma possível parceria, Hyunjin? Se você o acompanhou por um intervalo tão extenso, muito antes de se tornar piloto, deveria saber que mais complicado que o Felix, só o próprio Lee Yongbok e o caralho de asa. —  Jisung se viu tão nervoso com o ponto do amigo, que teve de arrumar os óculos e endireitar a postura.

— Eu não quero cravar um pé de guerra com alguém na qual eu já admirei tanto, Hanji! Não revele que estou louco por ver uma possibilidade em conquistar a amizade dele, mesmo que leve um longo período e muito do meu seguro emocional. Qual é? Vai me dizer que tem medo do Felix puxar seu pé?

— Qual é? Você está me referindo um “Qual é?”, Hwang Hyunjin? O portfólio que grandes marcas colecionam de negativas do Felix e da equipe dele é extensa, é triste até para a sua própria reputação na mídia, você com certeza não precisa se desesperar por uma validação dele. E sim, digo que você é louco por ver possibilidade de amizade com este homem em específico.

— As equipes de assessoria e publicidade de uma figura pública negam contratos através de análises aprofundadas na reputação da empresa, Jisung. — O Han, que esfregava os olhos por trás dos óculos em pura frustração, não parecia dar credibilidade para nada que o homem ao seu lado falava.

— E aonde você quer chegar com toda essa investigação sobre as regras impostas pelas assessorias? Me convencer de contatar suas intenções para sua própria equipe?

— Eu quero dizer, meu querido Hanji, que nós temos 80% de chance de recebermos um não, e eu aposto os outros 20% em um sim, a minha reputação é afável, nossa junção é uma promessa muito bem vista, eles têm de reconhecer isso nas análises. O lucro não é a minha maré, mas é a única motivação para eles fecharem algum contrato conosco.

Jisung respirava fundo, se dava vencido pelo cansaço da insistência do amigo, pelo que vivenciava do Hwang desde a infância, o outro nunca largaria o osso até que sua própria consciência gritasse que aquilo não seria concretizado. Desde já, se predeterminou para encarar todas as fases do amigo dentro daquele caminho turbulento.

— Estou apostando os meus 99,9% em um “não” bem claro e caro. Mas se está insistindo tanto, e é uma vontade do nosso cliente, estarei enviando um comunicado aos seus assessores hoje no final da tarde. Porém, eu lhe peço encarecidamente, Hwang Hyunjin... não tente armar nada por Felix antes de alguma resposta da equipe dele.

Um brilho adicional foi lançado ao olhar de Hyunjin, que avançou no melhor amigo para envolver-lo em um abraço alegre e milhares de selinhos em sua bochecha, como um agradecimento sem pronúncias. Estava começando a tirar um dos milhares de pesos que carregava dentro de sua consciência.

— Já entendi que está feliz com a desgraça que entreguei em suas mãos, Hyun! De nada, mas estamos chegando no aeroporto, e eu não gostaria de sair desgrenhado nas fotos ao seu lado. — Hyunjin calmamente desprendia o amigo do aperto de seus braços, ainda sorrindo e ajeitando até os próprios adereços, olhando para a janela e pensando nas possíveis consequências de seus atos.

Realmente tinham chegado ao aeroporto, e só percebeu pela quantidade de pessoas na área externa do local, quase não espaçando nenhum vão para a passagem do carro em que estavam. O que não evitaria reparar, era o fluxo caótico de pessoas que pareciam seguir para dentro do aeroporto, deixando um vão perfeito no meio delas.

Pensou por pouco tempo, até que revelasse sua silhueta fora do carro e afrontasse aquele aglomerado, olhando receoso para o Han que se encontrava estático do outro lado do veículo. Após menos de um minuto da conversa de olhares com o amigo, homens consideravelmente mais fortes do que os dois embasbacados, se aproximaram e guiaram os alvos para a sala de embarque em segurança.

Clamores, toques e perguntas invasivas, queixas, flashes, e olhos esperançosos por uma ínfima interação. Hyunjin definitivamente não estava capacitado para algo semelhante, para aqueles que observassem a feição do homem visivelmente impressionado, diria que estava assustado com a situação posta.

Mas tinha algo de discrepante, ele parecia compartilhar a atenção do público presente com outro indivíduo que estava perto. Encarou o outro lado do grande salão, em busca de eliminar as próprias cismas. Até que se torna presente um pouco de espaço livre, e seu olhar cruzasse com o olhar que mais amava. O olhar significativo de Lee Yongbok.

Parte do cabelo preso em um rabo de cavalo, mechas do cabelo enfeitadas com adereços de prata, baggy jeans cor de chumbo, um blazer no mesmo tom de cinza, um cinto preto envolvendo o quadril, portando uma regata branca bem trabalhada na costura, na qual revelava um pouco da pele de seu abdome, um coturno preto escondido pela barra larga da calça, um óculos sem aros ao redor das lentes quadradas, a correntinha de prata escondida na parte interna da regata; e o principal, o olhar superior que o outro lhe direcionava. Nunca iria remover a imagem daquele Felix da mente, nem que tivesse de a emoldurar na ala principal do seu cérebro, e nunca negaria que se sentia fisicamente atraído pelo olhar intenso do outro queimar em si.

Na visão de Hyunjin, o Lee parecia extremamente confiante, com uma presença ilustre, a passagem de passos fortes que marcavam o chão do lugar que lhe servia de passarela. Parecia tão acomodado com a situação, que apenas esplandecia ao olhar de quem estivesse o observando.

O Hwang havia estudado o outro homem por inteiro, não tinha controle sobre o próprio olhar e continuava queimando o rosto de Felix com o olhar. E mesmo que o outro não mantivesse o olhar por mais de 10 segundos, o próprio Lee poderia confessar a si mesmo que reestudou o outro.

Tanto Hyunjin, quanto Felix, não teriam discernimento da proporção que teria os registros de uma única troca de olhares. A única coisa que o Lee almejou concretizar naquele momento, era de que nunca dividiria o mesmo espaço com o mais velho novamente; enquanto ao que o Hwang julgava almejar naquele momento, era de que tudo que mais queria era cruzar olhares com o futuro amigo novamente.

angels in tibet ، hy𝘂nl𝗶xOnde histórias criam vida. Descubra agora