O sol iluminava e aquecia a terra macia sob os pés da mulher que olhava para a vista que tinha em sua frente: colinas ao longe, repletas de árvores juntas em tons variados de verde, e também uma enorme plantação de arroz, no solo encharcado, como tradicionalmente acontecia.
A mulher abriu um sorriso ao sentir o cheiro de terra fresca e exalou profundamente enquanto pensava que ali era mesmo o seu lugar.
— Ling! — ouviu ao longe uma senhora chamar o seu nome.
— Estou aqui, mãe! Estou vendo a plantação. — gritou de volta a mulher para a sua mãe que a aguardava na entrada de sua propriedade.
— Venha comer! Você não é uma planta só porque passa tanto tempo com elas!
A mulher sorriu e balançou a cabeça indo em direção à casa, pensando no quão feliz era, estando de volta ao lugar onde cresceu, de volta para perto de sua família e podendo retribuir um pouco tudo que fizeram por ela.
Lingling Kwong era a única filha do casal de agricultores, ela deixou a casa dos pais para estudar na capital Bangkok, como desejo de sua família para que tivesse uma educação melhor que a dos seus pais. Ela foi criada junto com a comunidade de agricultores, que sobrevivem de suas plantações, principalmente a de arroz.
Não era uma vida fácil, mas todos ali se ajudavam. Vendo isso, Ling escolheu estudar Engenharia Agronômica, com a intenção de voltar e melhorar as condições de vida de todos ali. Nunca foi egoísta ou pensou somente em ganho próprio, embora a tenham tentado convencer a ficar na cidade e escolher outra carreira.
Mas era o que fazia sentido para ela: aquelas terras, aquela comunidade e a sua família. Para ela somente isso importava.
Sentada à mesa após agradeceram pelo alimento, a engenheira ouve a conversa entre seus pais:
— Eu penso que é tempo de nossa filha se colocar em primeiro lugar. Nunca concordei que voltasse para cá, não tem nada para você aqui. A cidade era onde deveria ter ficado. — sua mãe começa com um tom de preocupação.
— Ela quis assim, vai ser assim. — comenta o seu pai sabendo a filha teimosa que tem — Quando Lingling põe algo na cabeça não tem nada que mude, não conhece sua filha?
— Mas ela vai ter uma família em algum momento e vai ser isso tudo que vão ter? Eu quis que ela estudasse para que ela tivesse mais do que isso…
— Mamãe, eu estou feliz. Isso que importa. — interrompe Ling — Também não pretendo formar família por tão cedo, eu acabei de retornar, praticamente, comecei há pouco a exercer minha profissão… Não se preocupe comigo, eu tenho planos para melhorar as coisas por aqui.
Com isso a conversa deu-se por encerrada e seguiram com seu dia. Ling era responsável pela supervisão das plantações, pela contagem das colheitas, planejamento da safra, aquisição de equipamentos e melhorias, basicamente quase a líder da comunidade, se não fosse por sua idade, era nova demais para isso. Porém, era a pessoa a frente representando os interesses da comunidade e sempre aconselhando as melhores decisões a serem tomadas.
Fazia 3 anos desde o seu retorno às terras da sua família e, desde então, fazia esforços, incessantemente, para construir a cooperativa dos produtores locais. Ela sabia que uma organização bem estruturada garantiria segurança e direitos aos agricultores, além de facilitar o seu trabalho, diminuindo custos para aquisição de insumos para a produção. Isso também permitiria que subsídios governamentais chegassem até eles. Dia e noite Ling planejava como poderia tornar melhor a vida de quem dependia daquelas terras.
E isso estava começando a dar frutos, desde que Lingling voltou os lucros aumentaram e as perdas diminuíram. O conhecimento acadêmico dela fazia toda a diferença na aplicação das técnicas de plantação e colheita. Assim ela ganhou o respeito e a confiança de todos ali. Qualquer problema eles sabiam a quem recorrer.
Não foi diferente quando naquele mesmo dia, perto do final da tarde, uma mulher saiu de um carro escuro, com roupas visivelmente caras e de grifes, usando óculos escuros, de cabelos claros, e afirmando em voz alta que:
— Em 30 dias todos vocês devem deixar essas terras. A família Sethratanapong, proprietária dessa localidade, estará usando seus direitos para retomar sua posse. Isso significa que vocês não têm mais lugar aqui. A desobediência dessa ordem poderá acarretar em consequências severas… — a mulher falava enquanto abaixava os óculos, revelando olhos tão claros que pareciam dourados, e encarando cada um daqueles trabalhadores que pararam para ouvir o que ela tinha a dizer — E se eu fosse vocês, eu não iria querer me meter com a minha família.
A mulher terminou a frase em um tom firme, com a voz abaixando no final. Isso causou um silêncio coletivo, pois todos foram pegos de surpresa. Passos rápidos se aproximavam ao longe, enquanto um homem andava ao lado de Ling.
— Se acalme, Somchai. Respire fundo e me explique o que está acontecendo — ela perguntou enquanto acompanhava o homem que foi buscá-la em sua propriedade às pressas.
— Khun Ling, uma madame, chegou, com vários homens, chamando todos os produtores, afirmando que tinha um recado. — disse ele quase sem fôlego pelo esforço de correr e andar apressadamente — Ela tá… Pedindo nossas terras.
Lingling parou no lugar, completamente em choque, e olhou surpresa para o rosto do homem que a seguia.
— O que você quer dizer? — então ela olhou para frente e seu olhar se encontrou com aqueles olhos de tom amarelado, como ela nunca tinha visto antes, a tempo de ouvir as últimas ordens proferidas por essa mulher.
— Esse é o único e o último aviso que terão. Deixem as terras imediatamente, em 30 dias eu voltarei e quem ainda estiver aqui, será retirado… — a mulher de cabelos claros fixou o olhar na mulher que acabava de chegar ao local e a encarava com um misto de choque e raiva. — … A força.
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nota da autora:te espero no segundo capítulo
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Amor Entre Terras
FanfictionSinopse: Orm Kornnaphat é herdeira de uma tradicional família dona de terras na região central da Tailândia. Lingling Kwong é filha de agricultores que ganham a vida com o suor do próprio trabalho na terra. Duas mulheres que em circunstâncias normai...