5 - Besta loura

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Vestida apenas com o roupão de dormir, que sobre seus ombros lhe deixa os seios à mostra, Dominica senta-se de frente para uma escrivaninha.

E é esse pequeno móvel, a escrivaninha de madeira, que logo de cara chamaria a atenção de quem quer que entrasse em seu grande aposento; pois abóbadas de mármore recobrem as paredes e o teto, pelo qual pendem lustres adornados com ouro e muitas outras pedras preciosas. Pois, sim, a rainha aprecia o luxo; mas algo em toda essa voluptuosa riqueza, alguma coisa em todo esse brilho desmedido, muitas vezes lhe provocaram o mais profundo dos enfados.

A distância da cama ao teto tem a altura de oito homens ou mais, então como não se sentir esmagada por todo esse ar suspenso sobre seu corpo? Durante o dia, a luz penetra pelos vitrais e faz o ouro cintilar, então como evitar o ardor em seus olhos? É possível fechar as grandes cortinas, sim, mas como não sentir a solidão aumentar, quando se está em meio à tanta riqueza e no escuro?

Algo dentro de cada um de nós anseia pela simplicidade, pois há riqueza em não se sentir cercado por artefatos luxuriosos, para os quais olhamos e não vemos nada além de superfícies vazias. Foi por isso que ela mandou retirar a enorme mesa feita de mármore, e em seu lugar pôs essa pequena e reconfortante escrivaninha. Foi por isso que retirou das paredes todos aqueles quadros de reis mortos, e em seu lugar pôs plantas e pinturas paisagísticas.

Um rangido faz Dominica voltar a cabeça para a cama, onde um corpo jovem e negro dorme aquecido pelo calor da lareira. Se chama Gabo, esse rapaz que não é o primeiro, e que muito dificilmente será o último; pois ela aprecia seus corpos e histórias. Filhos de lavradores, órfãos aspirantes a soldados, serviçais do castelo. Homens vigorosos e simples, cuja discrição é garantida não somente pelo ouro, mas pelo medo da corda.

Pode ser que esse hábito tenha vindo após a morte da princesa, quando o rei se afastou de seus deveres e os passou à Dominica, ficando ela responsável pela coroa e por todo o seu peso; ou pode ser que a necessidade de relaxamento tenha se feito sentir após a morte do rei, quando enfim se encontrou totalmente só em meio ao poder e a riqueza de seus aposentos. De uma forma ou de outra, a mulher que hoje se senta no trono não dá a mínima para esses pormenores. Afinal, suas perdas e frustrações não foram vistas como meros detalhes durante anos? Seja por Deus ou pelo tão amável populacho de Belf?

Sim, o falecido rei Ambrósio não teve de arcar com qualquer responsabilidade, da mesma forma que não foram feitas piadas ou histórias desprezíveis sobre ele; em lugar disso, o apresentaram como a vítima que se casou com a mulher errada. Afinal, que culpa ela teve pelo filho que morreu vítima da febre, ou pelo filho que rolou pelas escadas? E como ela poderia saber que a falecida princesa, ao encontrar aquele cavalo branco em meio à mata, resolveria montá-lo e ir colher flores sozinha? "A rainha do ventre seco.". Tais palavras ainda lhe fazem ranger os dentes, e, sem perceber, mais uma pena se encontra quebrada entre seus dedos. Ela apanha outra na gaveta.

E como hoje a consagram! Como brindam em seu nome e em nome do príncipe! Todos eles, como sanguessugas saciadas que não tem nada a reclamar! Dominica sabe. Ela entende o comportamento animalesco de toda essa gente, e por isso não sorri diante de tantas músicas e poemas sobre seu reinado; pois basta dar a eles o menor dos motivos, que como sanguessugas ressequidas, voltam a rasgar-lhe a pele.

Ainda assim, nunca levantou objeções contra as aproximações de seu sobrinho com o povo. Sim, seu sobrinho! O membro de um ramo menor da família, e cuja responsabilidade para com o reino se limitaria a administração de uma das colônias do sul. Esse mesmo sobrinho que chegou há dez anos, e que, por todo esse tempo, foi ensinado a ser o príncipe Lúminer. Ensinado a ser o futuro rei.

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⏰ Última atualização: Oct 06 ⏰

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