Os raios do sol entram com suavidade por vitrais retangulares, todos coloridos com cores sem par porsímbolos e aves heráldicas de grandes vitrais retangulares.

O vermelho é suave como o próprio nascer do sol; o azul é fresco como o mais gentil dos rios; o verde é reconfortante como a grama de uma clareira; e o laranja, repleto de calor, acolhedor como o calmo pôr do sol.

Duas mulheres vestidas de branco assistem a essa lenta metamorfose das cores, que pouco a pouco foi afastando a noite do interior do grande quarto principesco. Brancas são seus capuzes, que cuidadosamente atados abaixo do queixo, não se permitem sair do lugar. Branca é a máscara que lhes tapa a boca e o nariz, assim impedindo que qualquer saliva ou espirro escape enquanto falam, sempre em voz baixa. Brancas e macias são suas ombreiras, braçadeiras e peitorais, assim propiciando o máximo de conforto para a razão de tudo aquilo. Branca é sua larga saia, que se estendendo até a altura do tornozelo, as impede de tropeçar no tecido. E até mesmos seus sapatos são brancos, que antiderrapantes, impedem que tropecem com facilidade.

Sobre uma plataforma circular coberta por fina mosqueteira, o mais perfeito dos berços se encontra imponente. Dos pés aos mínimos detalhes, entalhes feitos de ouro foram desenhados na forma de flores e pássaros, com a matéria-prima de seu brilho indo do ouro às mais variadas pedras; como as safiras nos olhos dos pássaros, e os rubis nas pétalas das rosas.

Todo o estofado é feito de cores fracas, que não oferecem a menor agressividade aos olhos; ao passo seu interior, preenchido com o que há de mais confortável na natureza, conta principalmente com plumas de aves não apenas raras, como selecionadas. Diversos conhecedores foram chamados para participar da confecção do colchão, o que resultou na maravilha feita à mão que recobre a base do mais único dos berços.

Sobre o fruto do trabalho de mentes tão perspicazes, uma coisinha rechonchuda está entre o fim do sono e o despertar, já fazendo pequenos movimentos com os membros e a cabeça. As duas mulheres percebem tais movimentos e dão um passo a frente no mesmo instante, logo se encontrando uma de cada lado do berço.

Com os movimentos mais frios e gentis de que suas mãos são capazes, sua limpeza é feita com rapidez, não levando mais que dois minutos; e mesmo quando o bebê dá sinais de que o choro está por vir, elas não se preocupam, pois basta borrifar o pequeno frasco, e um aroma com propriedades estranhas o mantém perfeitamente calmo, como no tempo em que seu mundo se resumia a uma escuridão quente, úmida e aconchegante.

Embalado como o mais frágil bezerro, o pequeno príncipe é levado porta afora como em todos os dias desde que nascera. Seja por uma sensação de inadequação, ou talvez por passar a acreditar nos boatos entre os populares, a amamentação do príncipe não é feita pela rainha, mas sim por suas aias, cuja maternidade recente fora um dos requisitos para sua seleção.

Na torre mais bem protegida do castelo, em que um pequeno grupo de serviçais trabalha sob intensa vigilância, o pequeno príncipe passou seus primeiros anos sem nunca ter saído para o lado de fora. E era no topo, em um jardim pequeno e florido, que seus passeios aconteciam todas as manhãs e fins de tarde, quando o sol estava mais fraco, mas sempre forte o bastante para fazer cintilar o verde vivo da grama. Passarinhos pequenos e coloridos voavam ao seu redor, ecoando o canto mais belo de que eles eram capazes, como se também eles entendessem sua parte naquilo tudo. E os galhos das enormes árvores, que cresciam rentes à estrutura da torre, projetavam as sombras frescas e gentis que abraçavam o pequeno príncipe, cujos cabelos loiros voavam conforme corria, já uma criança forte sadia.

Foi ao completar seus três anos que o príncipe saíra da torre, para ter com sua mãe a primeira lembrança que teria ao lado dela; já que nas raras vezes em que visitava a torre principesca, Lúminer ainda era pequeno demais para guardar qualquer lembrança.

Príncipe LúminerOnde histórias criam vida. Descubra agora