Capítulo 9 - Úlcera

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Para quem só possuía uma amizade de pé, junto de outra à beira da morte, Dante estava no paraíso. Nunca pensou que fossem gostar tanto da companhia dele, mas no momenta que garota em seu mundo cor-de-rosa chegou, algo mudou.

    O nome dela era Kimiko, e usava uma saia com estampa xadrez, igual ao casaco que Alice usou na Festa de Integração e naquele mesmo dia ㅡ viu a peça bem de perto ao descobrir o casinho da Queens com Matt. As ponta rosas da cascata de fios escuros tocavam a cintura, Dante reparou enquanto caminhavam até o grupo.

     Ela deixou de falar quando Dante não correspondeu seu amor pelo verbal.

    E não foi nenhuma surpresa que a chegada da dupla fosse interromper o assunto deles, que estudaram Dante da cabeça aos pés. “Devem estar procurando o que há de tão errado em mim… Uma hora vão perceber que há um único nome responsável por isso: o meu.”

    Kimiko sentou na canga disposta sobre as pedras minúsculas do trecho daquele pátio prá lá de espaçoso, conhecido como “Área Solar”. O ponto cego em meio à cobertura, projetado para o Sol alimentar o amigável jardim de flores ao lado do cinza sob aqueles adolescentes. Em ambos os lados, um mar de cores distintas.

    ㅡ Prefere mesmo ficar de pé? ㅡ Lohan, o menino alto e forte com um mullet, que também estava na noite do after, disse enquanto encaixava a mão acima dos olhos para enxergar além da chapa luminosa e quente.

    Dante sorriu, vacilando na firmeza que tentou impor no olhar para cada um deles, depois que permaneceu levantado durante segundos substancialmente desconfortáveis. Lohan ofereceu um espaço ao seu lado, então lá sentou. Dante o olhou; usava uma regata branca responsável por deixar os bíceps pardos visíveis junto de uma calça jeans, sendo seu semblante o único detalhe indescritível.

    Se tratava de um certo complexo de superioridade, mesmo que munido de meios não-verbais de expressar o desejo imediato em conhecer melhor o Rodriguez.

    ㅡ O Milo já deu algum sinal de vida, Kimiko? ㅡ uma menina com aspecto de modelo perguntou.

    Essa, em específico, era difícil de se ler. Talvez por soar muito crua para quem a visse de fora. Quem sabe, conhecendo-a melhor, aquilo mudasse.

    ㅡ Depois do convite para a Úlcera, não, Esther.

    ㅡ “Úlcera”? ㅡ Dante questionou, não contendo o nojo pintando o semblante. ㅡ O correto não seria vocês não evitarem isso? Tipo, com um médico?

    ㅡ Na verdade, Dante, isso não passa de…

    ㅡ Ficou louca? Em que momento as Grandes Famílias se tornaram as nossas aliadas? ㅡ Esther cortou Kimiko como se um segredo de estado quase houvesse caído na boca da pessoa errada.

    ㅡ Deixe a Kimiko, que mal tem? O Dan, como já vimos antes, entende que a corrupção pode existir até mesmo na família dele, não é? ㅡ Ainda mirando-o, Lohan jogava um balde repleto de cinismo no menino.

    Dante até podia estar louco, mas jurou que aquele cara queria testá-lo e brincar com seus limites.

    Kimiko estranhou a reação do amigo, mas aceitou a oportunidade de nortear o garoto tímido dentro do assunto que todos pareciam conhecer muito bem.

    ㅡ É… Basicamente, se trata de um movimento contra as Grandes Famílias e o total domínio que elas têm dos espíritos. E os Rodriguez não ficam de fora…

   Só poderia ser uma enorme piada coletiva com a cara de Dante, ele só conseguira apostar nisso. Realmente acreditavam que ele, apenas por querer uma amizade com o grupo, aceitaria essas palavras contra seu nome?

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