𝟾 𝚌𝚊𝚙𝚒́𝚝𝚞𝚕𝚘

38 9 0
                                        

 
                             Hadassa Garcia

O jantar finalmente terminou, e eu senti um alívio imediato ao me levantar da mesa. Minha mãe continuava a me lançar aqueles olhares cortantes, mas eu já estava imune. Clarissa me deu um sorriso de apoio enquanto nos afastávamos dos parentes que, a essa altura, ainda cochichavam sobre o que havia acabado de acontecer. Honestamente, eu já tinha ouvido e visto o suficiente.

Saí da casa como se estivesse fugindo de uma prisão emocional. O ar da noite parecia mais fresco, como se estivesse lavando o peso daquele ambiente sufocante dos meus ombros. Entrei no carro e dirigi sem pressa, tentando acalmar meus pensamentos. Meu celular vibrou no bolso da jaqueta. Era uma mensagem de Clarissa.

"Bom encontro com a Madame irmãzinha,arrasou nos jantar hoje😘"

Eu sorri, apesar de tudo. Ela sabia exatamente como eu estava ansiosa por essa noite.

À medida que me aproximava da casa noturna, senti a excitação familiar crescer. Eu não sabia exatamente o que esperar daquele encontro. A Merlía era intrigante, cheia de mistérios, e isso me atraía de uma forma que eu não conseguia explicar. Talvez fosse a confiança dela, ou o jeito como ela me desafiava com um simples olhar.

Estacionei no local de sempre e entrei pela porta lateral, onde o segurança já me reconhecia e me cumprimentou com um aceno de cabeça. A música, o cheiro de álcool e o ambiente agitado me acolheram como uma segunda casa. Diferente do jantar de família, aqui eu me sentia no controle.

Ela estava me esperando no escritório, como havia prometido. Quando abri a porta, a encontrei sentada atrás da mesa, um copo de uísque em mãos, os olhos fixos em mim como se estivesse me estudando. Ela usava um vestido preto que realçava sua figura elegante e segura.

— Achei que não fosse aparecer!Ela disse, com um sorriso malicioso nos lábios.

— E perder a oportunidade de um drink com você? Nunca. Fechei a porta atrás de mim e me aproximei, sentindo o ar entre nós vibrar com uma tensão que eu já estava começando a gostar.

Ela se levantou, lenta e graciosa, caminhando até o pequeno bar no canto da sala.

— Vai querer o de sempre que pede a Mett? Perguntou, servindo-se de mais uma dose.

— Por que não? Sentei-me no sofá de couro, relaxando um pouco. — Como foi sua noite?

— Típica. Nada que valha a pena comentar. Mas a sua... Ela me lançou um olhar curioso enquanto me entregava o copo. — Parece que teve alguns momentos interessantes, pelo que vejo no seu rosto.

Dei um gole no uísque, sentindo o calor da bebida descer pela garganta, enquanto tentava não pensar na conversa desgastante com minha mãe.

— Só o de sempre. Discussões familiares, acusações veladas. Nada que eu não tivesse passado por todas as semanas.

Ela se sentou ao meu lado, os joelhos quase tocando os meus.

— Parece que você não se importa com o que eles pensam.A voz era suave, mas havia algo afiado escondido ali.

— Eu realmente  não me importo cada vez que se repete.Respondi, encarando-a diretamente. — Só que é impossível não sentir nada. Você sabe como é, não dá para desligar completamente. Mas eu não vou deixar isso ditar minha vida.

Ela sorriu, satisfeita com minha resposta, e tomou um gole de seu próprio copo.

— É isso que eu achei interessante em vc, Garcia. Você não foge. Se mantém firme. É algo raro.

Fragmentos de nós - Sáfico Onde histórias criam vida. Descubra agora