O final de semana chegou mais rápido do que Jack esperava, trazendo consigo um misto de tranquilidade e apreensão. As aulas estavam exigindo cada vez mais de seu tempo, mas ele não se importava. Pela primeira vez em meses, ele se sentia verdadeiramente conectado com o que estava fazendo. Escrever e estudar tinham se tornado seus refúgios, um espaço em que ele podia refletir sobre si mesmo e o mundo ao seu redor.
Ainda assim, algumas partes de sua antiga vida continuavam presentes. Um dia, enquanto revisava algumas anotações em um café da faculdade, ele avistou ao longe uma figura familiar entrando no local. Era Isabel, uma das amigas mais próximas do grupo de Thomas, alguém com quem Jack sempre se dava bem, mas que também representava o estilo de vida que ele estava tentando deixar para trás.
Isabel o viu antes que ele pudesse desviar o olhar e se aproximou com um sorriso amigável. Ela se sentou sem pedir, como se fossem velhos amigos que ainda tinham muito em comum.
"Jack, você tem evitado todos nós ultimamente. O que está acontecendo?" A pergunta foi direta, mas Isabel manteve um tom de voz leve, quase curioso.
Jack suspirou, já antecipando que essa conversa seria inevitável. "Eu precisava de um tempo para mim, Isabel. Estava me sentindo... sufocado por tudo. Precisava de espaço para pensar sobre o que realmente quero."
Isabel inclinou a cabeça, seus olhos avaliando cada palavra que ele dizia. "E o que você quer agora? Não vamos mais fazer parte disso?"
Ele hesitou. Apesar de ter tomado uma decisão clara de se afastar de suas antigas companhias, ele não queria ser rude ou cortar laços de maneira abrupta. Ainda gostava de algumas dessas pessoas, Isabel especialmente. Mas ele sabia que ser honesto era o caminho mais justo para ambos.
"Não é que eu não goste de vocês", Jack começou, escolhendo cuidadosamente as palavras. "Mas eu percebi que estava me deixando levar demais por um estilo de vida que não me fazia feliz. As festas, o luxo... Não é o que eu quero para mim."
Isabel o observou em silêncio, e por um momento, Jack pensou que ela ficaria chateada. Mas então, ela sorriu suavemente, como se compreendesse o dilema dele.
"Eu entendo, Jack. Realmente entendo. Às vezes, parece que estamos em uma bolha, né? Sempre as mesmas pessoas, os mesmos lugares. Eu me pergunto, de vez em quando, se tudo isso vale a pena."
Jack ficou surpreso com a resposta. Isabel sempre parecia tão à vontade nesse mundo de riqueza e privilégios que ele não esperava que ela tivesse dúvidas sobre isso.
"Você já pensou em sair dessa bolha?" ele perguntou, genuinamente curioso.
Ela riu, mas havia um toque de melancolia em sua voz. "Muitas vezes, mas nunca tive coragem. Acho que eu... não saberia o que fazer fora disso. Esse mundo é tudo o que conheço."
Jack assentiu, sentindo uma pontada de empatia por ela. "Eu sei que não é fácil. Eu mesmo ainda estou tentando encontrar meu caminho."
"Bem, talvez você esteja certo em tentar algo diferente", Isabel respondeu. "Mas, de qualquer forma, espero que não se afaste totalmente de nós. Eu gosto da sua companhia, e seria uma pena perder um amigo como você."
Jack sorriu. "Eu também gosto da sua companhia, Isabel. E prometo que não estou indo embora para sempre. Só preciso de um tempo para entender algumas coisas."
Ela pareceu satisfeita com a resposta, e após alguns minutos de conversa leve sobre a faculdade e os professores, Isabel se despediu, deixando Jack sozinho com seus pensamentos.
Naquela noite, Jack decidiu ligar para Jen. Fazia semanas que eles não conversavam de verdade, e ele sabia que precisava reconstruir essa amizade. O telefone tocou algumas vezes antes que Jen atendesse, e sua voz do outro lado da linha era cautelosa.
"Jack? O que houve?"
"Ei, Jen. Eu... queria saber se você tem um tempo para conversar. Eu sei que fui um péssimo amigo nas últimas semanas, e queria me desculpar por isso."
Do outro lado, houve um silêncio, e Jack temeu que talvez fosse tarde demais para consertar as coisas. Mas então, Jen respondeu, sua voz mais suave.
"Eu estava começando a pensar que você nunca mais ia me ligar."
Jack soltou uma risada nervosa. "Eu mereço isso. Fui um idiota. De verdade. Eu sei que escolhi o caminho errado, e sinto muito por ter te deixado de lado."
Jen suspirou. "Eu sei que você estava confuso, Jack. E eu não estou aqui para te julgar. Só... fiquei magoado, sabe? Sempre fomos amigos próximos, e de repente, parecia que você preferia aquelas pessoas que não dão a mínima para você."
"Eu sei", Jack disse, sentindo o peso da culpa em cada palavra. "Eu me deixei levar por algo superficial, e não enxerguei o que realmente importava. Você sempre esteve lá por mim, e eu fui estúpido o suficiente para não valorizar isso."
Jen ficou em silêncio por mais um momento, antes de responder com um tom mais leve. "Bem, você está se desculpando agora, então acho que podemos deixar isso para trás. Só não me abandona de novo, ok?"
Jack sorriu, sentindo uma onda de alívio percorrer seu corpo. "Prometo. Que tal nos encontrarmos amanhã? Podemos ir àquele café que você gosta, o do centro."
"Fechado. Vejo você lá."
Na manhã seguinte, Jack chegou ao café antes de Jen. Ele estava ansioso, mas também feliz por finalmente estar reconstruindo os laços que realmente importavam para ele. Quando Jen chegou, o sorriso que ele lhe deu foi sincero, e a tensão entre os dois logo se dissipou.
"Então, como tem sido sua vida longe das festas de luxo?" Jen perguntou enquanto se sentava.
"Mais tranquila", Jack respondeu. "E, para ser honesto, bem mais satisfatória. Eu estou escrevendo de novo, focando nos estudos e, bom... tentando ser uma pessoa melhor."
Jen assentiu, pegando seu café. "Fico feliz por você. Acho que todos nós precisamos de um tempo para nos reorganizar."
"É verdade", Jack concordou. "E eu percebi que estava me afastando das coisas que realmente importam. E você é uma dessas coisas."
Jen sorriu, parecendo genuinamente tocado pelas palavras de Jack. "Bom, acho que você está no caminho certo. E, quem sabe, talvez eu possa até te ajudar a se manter longe daquelas festas tentadoras."
Jack riu. "Acho que vou precisar de toda a ajuda que puder."
Os dois passaram o resto da manhã conversando, relembrando velhos momentos e fazendo planos para o futuro. Jack se sentiu grato por ter um amigo como Jen, alguém que, mesmo depois de tudo, estava disposto a lhe dar uma segunda chance.
Enquanto caminhavam de volta ao campus, Jack olhou para o céu azul e sentiu uma leveza que há muito não experimentava. Ele estava, finalmente, de volta ao caminho certo.
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"Vivendo uma Vida que Não é Minha"
Ficção AdolescenteJack é um estudante universitário que sempre se sentiu deslocado em seu próprio mundo. Cercado por amigos ricos e luxos que nunca pôde ter, ele é constantemente convidado para festas e fins de semana nas mansões de seus colegas. Fascinado por essa v...