6 capitulo

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O sol da manhã, um amarelo pálido, se espreitava pelas frestas das cortinas, tingindo o quarto com um brilho dourado. Ela acordou, o corpo ainda adormecido, e se viu em uma cama que não era a sua. A memória da noite anterior, fragmentada e confusa, voltou como um filme em câmera lenta. O bar, a música alta, o cheiro de tequila e a conversa rápida. O olhar que cruzou o dela, intenso e provocante.
O cheiro de café fresco e o murmúrio baixo de vozes que vinham da cozinha a tiraram de sua divagação. Ele estava ali, na cozinha, preparando o café. A camisa desabotoada, a barba por fazer, um sorriso tranquilo nos lábios. A cena era quase irreal, como um sonho que se recusava a acabar. Ele se virou, seus olhos encontraram os dela, e a lembrança do beijo, quente e selvagem, inundou seu corpo com um misto de excitação e confusão.
O que era real e o que era ficção? A noite anterior foi um turbilhão de sensações e agora, com o dia clareando, ela tentava decifrar os pedaços daquela experiência, a incerteza sobre o que a esperava era um nó na garganta.
Ele se aproximou, o café fumegante em suas mãos, e a ofereceu uma xícara.
Bom dia. -Disse ele, a voz rouca e suave como o veludo.-Você gosta de café forte?.
Ela apenas assentiu, sem palavras, ainda presa em um labirinto de emoções. O café, amargo e quente, a acordou, o aroma forte enchendo suas narinas. A imagem do seu rosto, de perto, sob a luz fraca do quarto, ainda a perturbava, a mistura de desejo e culpa a deixava em um estado de alerta.
Ele sentou-se em frente a ela, a mesa entre eles parecendo uma barreira invisível. O silêncio se instalou, pesado e carregado de expectativa.
-Você está bem?.- Ele perguntou, o olhar fixo em seu rosto, a preocupação estampada em seus olhos.
Ela olhou para ele, o medo e a curiosidade se entrelaçando em seu olhar.
-Sim.-Respondeu, a voz quase um sussurro.-Só um pouco confusa.
Ele sorriu, um gesto gentil e reconfortante.
-É normal. A gente às vezes perde um pouco a noção depois de uma noite como essa.
O tom leve e a sinceridade em suas palavras a acalmaram um pouco. Aquele momento, ali, era real, e a incerteza da noite anterior se diluía em um fio de esperança. Ele não a julgava, apenas a acolhia, e a sensação de segurança inesperada a invadiu como uma onda.
-O que você costuma fazer aos domingos?. -Ele perguntou, quebrando o silêncio.
Ela hesitou, ainda apreensiva, mas decidiu arriscar.
-Geralmente vou ao parque correr.-Ele sorriu, os olhos brilhando. -Talvez eu possa ir com você?
No seu rosto, a dúvida se misturava à tentação. O domingo que se aproximava parecia um mistério a ser desvendado, um novo capítulo a ser escrito.
A pergunta dele, simples e despretensiosa, a fez hesitar. A ideia de passar um domingo com ele, em um parque, com seu cachorro, era tentadora, mas também perigosa. Era como se uma corda invisível os estivesse conectando, e cada passo, cada palavra, a aproximasse do precipício.
Ela olhou para ele, procurando pistas em seus olhos, tentando decifrar suas intenções. Mas ele apenas sorriu, um sorriso aberto e convidativo, sem segundas intenções aparentes.
Ela sentiu um tremor percorrer seu corpo, uma mistura de medo e excitação. O convite, casual e espontâneo, era tentador, mas também carregava um peso que ela não conseguia mensurar.
-Eu... não sei...-respondeu, a voz quase inaudível. O silêncio voltou a pairar sobre a mesa, agora carregado de um novo tipo de tensão, um desafio silencioso que parecia querer testá-los.
Ele se inclinou para frente, os olhos escuros intensos, o sorriso se apagando aos poucos.
-Por que não?- A pergunta, simples e direta, desvendou a barreira que a impedia de se entregar àquele momento, revelando a verdade por trás de sua hesitação. -Você está com medo?-Ele completou, a voz carregada de um tom que ela não conseguia definir, se era decepção, irritação ou simplesmente curiosidade.A pergunta a atingiu como um soco no estômago. Ela não estava com medo, não exatamente. Era mais uma sensação de insegurança, a consciência da fragilidade daquela situação, a possibilidade de um futuro que não existia.
-Não é isso-Ela respondeu.-É só que...
-Só que o que?- Ele insistiu, a paciência esgotando-se. A expressão em seu rosto se fechou, a gentileza do início da manhã evaporando como fumaça ao vento.
-Só que eu não sei se é uma boa ideia- Ela disse, a voz fraca, mas determinada. -Nós... não nos conhecemos."
A palavra "nós" pareceu ecoar na sala, carregada de um significado que transcendia a realidade. Ele se levantou, a cadeira raspando no chão, um som que soou como um estrondo em seus ouvidos.
-Não nos conhecemos?-Ele repetiu, a voz agora fria e cortante como gelo. Você não se lembra do que aconteceu ontem à noite? Você não se lembra do que nós fizermos...
Ele parou, a palavra "fizemos" pairando no ar, uma acusação silenciosa, um lembrete cruel da noite anterior. Ela fechou os olhos com força, a imagem de seus corpos entrelaçados, a sensação de intensidade e prazer, a invadiu como uma onda, a deixando atordoada e confusa.
-Eu não quero discutir sobre isso-Ela respondeu, a voz firme, mas tremendo.-Eu só estou dizendo que talvez seja melhor a gente...
Melhor a gente o que?-Ele interrompeu, a impaciência transbordando.-Deixar tudo por isso mesmo? Esquecer o que aconteceu? Fazer de conta que nada aconteceu?
-Não é isso-Ela insistiu, a voz cada vez mais fraca.É só que..."
-Só que o que?-Ele berrou, a paciência se esgotando.-Você não gosta de mim? Você não quer me ver de novo? Você está com medo do que as pessoas vão pensar?Que uma delegada dormiu com um cirurgião? Qual o problema?.
Ela respirou fundo, tentando controlar a raiva que começava a tomar conta de seu corpo.
-Não é isso-Ela repetiu- É só que... é muito cedo para...
-Muito cedo para o que?-Ele gritou, a voz envolta em uma névoa de frustração.-Muito cedo para se apaixonar? Muito cedo para se entregar? Muito cedo para viver?
Ele se aproximou dela, os olhos brilhando com raiva. Você me deixou louco-ele disse, a voz um rugido baixo.-Você me deixa louco com a sua indecisão, com a sua insegurança, com a sua... com a sua..."
Ele parou, a raiva se esvaindo, deixando um vazio em seu lugar. Um vazio que ela reconhecia bem: a dor da rejeição.
Ela se levantou, o corpo rígido como uma estátua de mármore.
-Eu preciso ir- Ela disse, a voz fria e distante.
-Você vai mesmo me deixar assim?-Ele perguntou, a voz agora um sussurro. -Você vai me deixar depois de tudo o que aconteceu?
-Eu não posso ficar-Ela respondeu, a voz seca como um deserto.-Não agora.
Ela se virou e saiu, a imagem de sua expressão torturada gravada em sua mente.Ele ficou ali, imóvel, observando-a se afastar. A raiva e frustração era presente naquela sala
A porta se fechou com um baque, o som ecoando no silêncio que se instalou na cozinha, um vazio que parecia absorver toda a energia da explosão que havia acabado de acontecer. Ele ficou imóvel, parado em meio aos destroços daquilo que havia sido um amanhecer promissor, observando a porta fechada como se ela fosse um portal para um mundo inatingível, onde ela ainda estava.O aroma de café fresco se misturava ao cheiro de tequila e perfume que persistia no ar, uma mistura de sensualidade e reprovação que parecia condenar a trajetória daquele dia.
"Ela vai voltar", ele pensou, a voz uma súplica silenciosa. "Ela tem que voltar." Mas a razão, a fria e implacável razão, o obrigava a admitir que o destino daquela relação estava incerto, suspenso em um ponto de interrogação que pairara no ar como uma ameaça constante.
A culpa o assombrou, um peso insuportável que se espreitava em cada canto de sua mente. A imagem de seu rosto distante, o olhar frio e decepcionado, o perseguia, recordando o erro que havia cometido ao exagerar, ao perder o controle sobre as palavras que saiam de sua boca como estilhaços de vidro.Ele tentou raciocinar. Ela estava confusa, ferida pelos fantasmas do passado que a assombravam, o medo da repetição a inibia de se jogar de cabeça na aventura que se espreitava à sua frente. Ele entendeu a hesitação dela, a desconfiança era uma arma defensiva que protegia o coração de novas feridas.
Mas a impaciência o consumira, a necessidade de ver aquela barreira quebrada, o desejo de transcender os obstáculos que separavam seus corações, o levaram a uma investida desastrosa. Em vez de paciencia, de compreensão, ele apresentou a ela um espelho distorcido de seus próprios medos, acentuando os demônios internos que a tormentavam.
Ele sabia que estava errado, mas o orgulho, a incapacidade de admitir a sua fraqueza, o impediam de dar o primeiro passo na direção da reconciliação.
Ele se sentou na mesa, as mãos apoiadas sobre a superfície fria, a xícara de café esquecida ao seu lado. Observou a fumaça que se eleva do líquido escuro, sua dança caprichosa um reflexo da tormenta que agitava sua mente.
"Eu estraguei tudo",ele pensou, a constatação uma pedra pesada em seu estômago. "E agora? O que eu faço?"
A ideia de ir atrás dela, de se desculpar por suas palavras era o que vinha na mente dele mas ele sabia que não séria o certo afinal ele não tinham nada, mas essa menina mexeu com ele de uma jeito inexplicável.
Tereza, a alma ainda carregando o peso da discussão da noite anterior, chegou em casa arrastando os pés. A chave rangia na fechadura, anunciando sua volta, e a porta se abriu com um rangido que parecia ecoar seu cansaço. A luz fraca do corredor, vinda da cozinha, iluminava o contorno da silhueta de sua mãe, Valéria, parada no batente. Ao lado dela, Amanda, a amiga inseparável de Tereza, sorria com um misto de preocupação e curiosidade.
A cena se assemelhava a um retrato de um momento crucial. O silêncio, denso e carregado, se instalou entre elas, interrompido apenas pelo barulho fraco do relógio da parede, como se o tempo, em sua implacável marcha, quisesse ser o único a se intrometer naquela atmosfera tensa. O olhar de Valéria, severo e interrogativo, se fixou em Tereza, como se a estivesse lendo, buscando sinais de algo que Tereza nem sequer conseguia compreender direito.
A respiração de Tereza se acelerou. Os olhos de Amanda, antes brilhantes, agora pareciam pesar sobre seus ombros, como se carregassem o fardo daquilo que Tereza estava escondendo, mas que sua mãe, com a sabedoria de quem a conhece por inteiro, já desvendara. A noite de bebedeira e a discussão com o novo conhecido, agora, se estilhaçavam em mil pedaços, cada um deles pronto para ser escrutinado por seus olhos. Tereza sentiu o cheiro da madrugada pairar sobre ela, carregado de incerteza, e a sensação de que nada seria mais como antes.
- A onde você estava? Com quem você estava? Onde dormiu Tereza? -Valéria falou olhando para a mesma com raiva e tristeza.
-Desculpa, eu acabei dormindo na casa de um cara mas só foi isso.
-Com quem você dormiu? -Agora foi a vez de Amanda fala, ela matinha expressão séria, estavam tratando ela como uma garota de 14 anos que pixou um muro...

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