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O sol da manhã, um amarelo pálido, se espreitava pelas frestas das cortinas, tingindo o quarto com um brilho dourado. Ela acordou, o corpo ainda adormecido, e se viu em uma cama que não era a sua. A memória da noite anterior, fragmentada e confusa, voltou como um filme em câmera lenta. O bar, a música alta, o cheiro de tequila e a conversa rápida. O olhar que cruzou o dela, intenso e provocante.
O cheiro de café fresco e o murmúrio baixo de vozes que vinham da cozinha a tiraram de sua divagação. Ele estava ali, na cozinha, preparando o café. A camisa desabotoada, a barba por fazer, um sorriso tranquilo nos lábios. A cena era quase irreal, como um sonho que se recusava a acabar. Ele se virou, seus olhos encontraram os dela, e a lembrança do beijo, quente e selvagem, inundou seu corpo com um misto de excitação e confusão.
O que era real e o que era ficção? A noite anterior foi um turbilhão de sensações e agora, com o dia clareando, ela tentava decifrar os pedaços daquela experiência, a incerteza sobre o que a esperava era um nó na garganta.
Ele se aproximou, o café fumegante em suas mãos, e a ofereceu uma xícara.
Bom dia. -Disse ele, a voz rouca e suave como o veludo.-Você gosta de café forte?.
Ela apenas assentiu, sem palavras, ainda presa em um labirinto de emoções. O café, amargo e quente, a acordou, o aroma forte enchendo suas narinas. A imagem do seu rosto, de perto, sob a luz fraca do quarto, ainda a perturbava, a mistura de desejo e culpa a deixava em um estado de alerta.
Ele sentou-se em frente a ela, a mesa entre eles parecendo uma barreira invisível. O silêncio se instalou, pesado e carregado de expectativa.
-Você está bem?.- Ele perguntou, o olhar fixo em seu rosto, a preocupação estampada em seus olhos.
Ela olhou para ele, o medo e a curiosidade se entrelaçando em seu olhar.
-Sim.-Respondeu, a voz quase um sussurro.-Só um pouco confusa.
Ele sorriu, um gesto gentil e reconfortante.
-É normal. A gente às vezes perde um pouco a noção depois de uma noite como essa.
O tom leve e a sinceridade em suas palavras a acalmaram um pouco. Aquele momento, ali, era real, e a incerteza da noite anterior se diluía em um fio de esperança. Ele não a julgava, apenas a acolhia, e a sensação de segurança inesperada a invadiu como uma onda.
-O que você costuma fazer aos domingos?. -Ele perguntou, quebrando o silêncio.
Ela hesitou, ainda apreensiva, mas decidiu arriscar.
-Geralmente vou ao parque correr.-Ele sorriu, os olhos brilhando. -Talvez eu possa ir com você?
No seu rosto, a dúvida se misturava à tentação. O domingo que se aproximava parecia um mistério a ser desvendado, um novo capítulo a ser escrito.
A pergunta dele, simples e despretensiosa, a fez hesitar. A ideia de passar um domingo com ele, em um parque, com seu cachorro, era tentadora, mas também perigosa. Era como se uma corda invisível os estivesse conectando, e cada passo, cada palavra, a aproximasse do precipício.
Ela olhou para ele, procurando pistas em seus olhos, tentando decifrar suas intenções. Mas ele apenas sorriu, um sorriso aberto e convidativo, sem segundas intenções aparentes.
Ela sentiu um tremor percorrer seu corpo, uma mistura de medo e excitação. O convite, casual e espontâneo, era tentador, mas também carregava um peso que ela não conseguia mensurar.
-Eu... não sei...-respondeu, a voz quase inaudível. O silêncio voltou a pairar sobre a mesa, agora carregado de um novo tipo de tensão, um desafio silencioso que parecia querer testá-los.
Ele se inclinou para frente, os olhos escuros intensos, o sorriso se apagando aos poucos.
-Por que não?- A pergunta, simples e direta, desvendou a barreira que a impedia de se entregar àquele momento, revelando a verdade por trás de sua hesitação. -Você está com medo?-Ele completou, a voz carregada de um tom que ela não conseguia definir, se era decepção, irritação ou simplesmente curiosidade.A pergunta a atingiu como um soco no estômago. Ela não estava com medo, não exatamente. Era mais uma sensação de insegurança, a consciência da fragilidade daquela situação, a possibilidade de um futuro que não existia.
-Não é isso-Ela respondeu.-É só que...
-Só que o que?- Ele insistiu, a paciência esgotando-se. A expressão em seu rosto se fechou, a gentileza do início da manhã evaporando como fumaça ao vento.
-Só que eu não sei se é uma boa ideia- Ela disse, a voz fraca, mas determinada. -Nós... não nos conhecemos."
A palavra "nós" pareceu ecoar na sala, carregada de um significado que transcendia a realidade. Ele se levantou, a cadeira raspando no chão, um som que soou como um estrondo em seus ouvidos.
-Não nos conhecemos?-Ele repetiu, a voz agora fria e cortante como gelo. Você não se lembra do que aconteceu ontem à noite? Você não se lembra do que nós fizermos...
Ele parou, a palavra "fizemos" pairando no ar, uma acusação silenciosa, um lembrete cruel da noite anterior. Ela fechou os olhos com força, a imagem de seus corpos entrelaçados, a sensação de intensidade e prazer, a invadiu como uma onda, a deixando atordoada e confusa.
-Eu não quero discutir sobre isso-Ela respondeu, a voz firme, mas tremendo.-Eu só estou dizendo que talvez seja melhor a gente...
Melhor a gente o que?-Ele interrompeu, a impaciência transbordando.-Deixar tudo por isso mesmo? Esquecer o que aconteceu? Fazer de conta que nada aconteceu?
-Não é isso-Ela insistiu, a voz cada vez mais fraca.É só que..."
-Só que o que?-Ele berrou, a paciência se esgotando.-Você não gosta de mim? Você não quer me ver de novo? Você está com medo do que as pessoas vão pensar?Que uma delegada dormiu com um cirurgião? Qual o problema?.
Ela respirou fundo, tentando controlar a raiva que começava a tomar conta de seu corpo.
-Não é isso-Ela repetiu- É só que... é muito cedo para...
-Muito cedo para o que?-Ele gritou, a voz envolta em uma névoa de frustração.-Muito cedo para se apaixonar? Muito cedo para se entregar? Muito cedo para viver?
Ele se aproximou dela, os olhos brilhando com raiva. Você me deixou louco-ele disse, a voz um rugido baixo.-Você me deixa louco com a sua indecisão, com a sua insegurança, com a sua... com a sua..."
Ele parou, a raiva se esvaindo, deixando um vazio em seu lugar. Um vazio que ela reconhecia bem: a dor da rejeição.
Ela se levantou, o corpo rígido como uma estátua de mármore.
-Eu preciso ir- Ela disse, a voz fria e distante.
-Você vai mesmo me deixar assim?-Ele perguntou, a voz agora um sussurro. -Você vai me deixar depois de tudo o que aconteceu?
-Eu não posso ficar-Ela respondeu, a voz seca como um deserto.-Não agora.
Ela se virou e saiu, a imagem de sua expressão torturada gravada em sua mente.Ele ficou ali, imóvel, observando-a se afastar. A raiva e frustração era presente naquela sala
A porta se fechou com um baque, o som ecoando no silêncio que se instalou na cozinha, um vazio que parecia absorver toda a energia da explosão que havia acabado de acontecer. Ele ficou imóvel, parado em meio aos destroços daquilo que havia sido um amanhecer promissor, observando a porta fechada como se ela fosse um portal para um mundo inatingível, onde ela ainda estava.O aroma de café fresco se misturava ao cheiro de tequila e perfume que persistia no ar, uma mistura de sensualidade e reprovação que parecia condenar a trajetória daquele dia.
"Ela vai voltar", ele pensou, a voz uma súplica silenciosa. "Ela tem que voltar." Mas a razão, a fria e implacável razão, o obrigava a admitir que o destino daquela relação estava incerto, suspenso em um ponto de interrogação que pairara no ar como uma ameaça constante.
A culpa o assombrou, um peso insuportável que se espreitava em cada canto de sua mente. A imagem de seu rosto distante, o olhar frio e decepcionado, o perseguia, recordando o erro que havia cometido ao exagerar, ao perder o controle sobre as palavras que saiam de sua boca como estilhaços de vidro.Ele tentou raciocinar. Ela estava confusa, ferida pelos fantasmas do passado que a assombravam, o medo da repetição a inibia de se jogar de cabeça na aventura que se espreitava à sua frente. Ele entendeu a hesitação dela, a desconfiança era uma arma defensiva que protegia o coração de novas feridas.
Mas a impaciência o consumira, a necessidade de ver aquela barreira quebrada, o desejo de transcender os obstáculos que separavam seus corações, o levaram a uma investida desastrosa. Em vez de paciencia, de compreensão, ele apresentou a ela um espelho distorcido de seus próprios medos, acentuando os demônios internos que a tormentavam.
Ele sabia que estava errado, mas o orgulho, a incapacidade de admitir a sua fraqueza, o impediam de dar o primeiro passo na direção da reconciliação.
Ele se sentou na mesa, as mãos apoiadas sobre a superfície fria, a xícara de café esquecida ao seu lado. Observou a fumaça que se eleva do líquido escuro, sua dança caprichosa um reflexo da tormenta que agitava sua mente.
"Eu estraguei tudo",ele pensou, a constatação uma pedra pesada em seu estômago. "E agora? O que eu faço?"
A ideia de ir atrás dela, de se desculpar por suas palavras era o que vinha na mente dele mas ele sabia que não séria o certo afinal ele não tinham nada, mas essa menina mexeu com ele de uma jeito inexplicável.
Tereza, a alma ainda carregando o peso da discussão da noite anterior, chegou em casa arrastando os pés. A chave rangia na fechadura, anunciando sua volta, e a porta se abriu com um rangido que parecia ecoar seu cansaço. A luz fraca do corredor, vinda da cozinha, iluminava o contorno da silhueta de sua mãe, Valéria, parada no batente. Ao lado dela, Amanda, a amiga inseparável de Tereza, sorria com um misto de preocupação e curiosidade.
A cena se assemelhava a um retrato de um momento crucial. O silêncio, denso e carregado, se instalou entre elas, interrompido apenas pelo barulho fraco do relógio da parede, como se o tempo, em sua implacável marcha, quisesse ser o único a se intrometer naquela atmosfera tensa. O olhar de Valéria, severo e interrogativo, se fixou em Tereza, como se a estivesse lendo, buscando sinais de algo que Tereza nem sequer conseguia compreender direito.
A respiração de Tereza se acelerou. Os olhos de Amanda, antes brilhantes, agora pareciam pesar sobre seus ombros, como se carregassem o fardo daquilo que Tereza estava escondendo, mas que sua mãe, com a sabedoria de quem a conhece por inteiro, já desvendara. A noite de bebedeira e a discussão com o novo conhecido, agora, se estilhaçavam em mil pedaços, cada um deles pronto para ser escrutinado por seus olhos. Tereza sentiu o cheiro da madrugada pairar sobre ela, carregado de incerteza, e a sensação de que nada seria mais como antes.
- A onde você estava? Com quem você estava? Onde dormiu Tereza? -Valéria falou olhando para a mesma com raiva e tristeza.
-Desculpa, eu acabei dormindo na casa de um cara mas só foi isso.
-Com quem você dormiu? -Agora foi a vez de Amanda fala, ela matinha expressão séria, estavam tratando ela como uma garota de 14 anos que pixou um muro...
Peço desculpas por ter demorado de publicar, eu acabei esquecendo
O que acharam?
Esse Caio tá muito emocionado?
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PELA LEI...
ActionUma cidade... Duas pessoas... Um sentimento... Dois distritos... E.... Uma disputa...