Sentimentos reprimidos

33 7 18
                                    

Yunjin se encontrava mais uma vez deitada na cama do quarto de hotel, o olhar fixo na tela do notebook, enquanto passava os dedos preguiçosamente sobre o touchpad, procurando apartamentos à venda. O quarto estava imerso em uma luz amarelada, a única fonte sendo o abajur ao lado da cama, que jogava sombras suaves nas paredes decoradas com quadros minimalistas. Já se haviam passado horas, mas nenhum dos imóveis a tinha conquistado de verdade. Seus olhos cansados percorriam as descrições sem entusiasmo, até que, finalmente, um anúncio chamou sua atenção.

O prédio era uma obra moderna, com linhas elegantes e cercado por árvores frondosas, localizado em uma área tranquila, mas perto do centro da cidade. As grandes janelas do apartamento permitiam a entrada de luz natural o dia todo, e a planta aberta deixava os cômodos fluírem suavemente de um para o outro. A cozinha, equipada com eletrodomésticos de última geração, se integrava a uma sala de estar espaçosa, decorada com detalhes de madeira clara, e o quarto principal oferecia uma vista deslumbrante da cidade. O coração de Yunjin disparou um pouco – este apartamento parecia perfeito, finalmente algo que preenchia seus anseios de recomeço.

Agora, o próximo passo seria encontrar um emprego. Mais especificamente, ela precisava de uma posição em uma escola de música para crianças e adolescentes, algo que desse sentido às suas manhãs e tardes. Lembrou-se de como, nos tempos em que vivia no exterior, possuía sua própria escola de música. Era uma época em que as risadas e os sons desafinados dos instrumentos preenchiam seu dia a dia, e o brilho nos olhos das crianças ao aprenderem algo novo trazia-lhe uma alegria que poucas coisas no mundo poderiam oferecer. Porém, mesmo cercada por seus pequenos alunos, a sensação de solidão persistia. Yunjin sempre amou estar em companhia, cercada de vozes e afeto, mas, naquele tempo, a distância entre ela e o que realmente importava era esmagadora.

Suspirando, Yunjin enviou uma mensagem ao proprietário do apartamento, detalhando seu interesse, e se jogou na cama, afundando o rosto no travesseiro macio. A espera por uma resposta a deixava ansiosa, mas seu pensamento logo foi desviado por outra lembrança, algo que Karina lhe dissera na noite anterior. As palavras ainda ecoavam em sua mente como uma melodia perturbadora, algo impossível de ignorar.

"Fiquei sabendo da última briga entre você e a Chaewon", Karina havia começado, a voz calma, mas carregada de uma verdade incômoda. "Ela está furiosa, e, pelo que ouvi, não quer te ver nem de longe. Mas no próximo fim de semana eu e as meninas vamos a um encontro com o pessoal da faculdade, uma reunião de velhos amigos. A princípio, eu nem queria te dizer nada, mas Minjeong me convenceu. Ela acha que, se você for, você e Chaewon podem acabar se resolvendo. Não estou te obrigando, Yunjin, mas se você quer realmente ela de volta, essa pode ser sua chance."

As palavras atingiram Yunjin com força, o desejo profundo de reconciliação misturando-se à dor do afastamento. Ela sabia que Chaewon não era uma pessoa fácil de se lidar quando estava magoada – e, pior, quando estava com raiva —. A ideia de ser ignorada, talvez até mesmo ridicularizada, na frente das outras amigas a fazia hesitar. Mas a imagem de Chaewon, seus sorrisos e risadas compartilhados, as conversas que pareciam durar horas, todas as memórias de uma amizade que outrora era inabalável, eram como um peso no peito de Yunjin, algo do qual ela não queria abrir mão.

Ela desejava Chaewon de volta. Mais do que isso, ela desejava, pelo menos, uma chance de conversar, de se explicar, e talvez, só talvez, recuperar o que havia sido quebrado. Mas a ideia de encarar não só Chaewon, mas também o olhar julgador das outras meninas, fazia seu coração vacilar. Como poderia suportar a rejeição de quem ela tanto prezava?

Yunjin suspirou profundamente, sentindo o peso da indecisão enquanto o silêncio do quarto se fechava ao seu redor. Ela sabia que, mais cedo ou mais tarde, teria que tomar uma decisão.

Notas de um Encanto | PURINZOnde histórias criam vida. Descubra agora